Novo recorde para as exportações da ITV

As exportações da indústria têxtil e vestuário nacional atingiram, no ano passado, os 6,12 mil milhões de euros, um recorde absoluto para o sector. Os mercados extra-UE, nomeadamente os EUA, prejudicaram, contudo, os números das quantidades enviadas, que registaram uma ligeira quebra face a 2021.

No total, as exportações da indústria têxtil e vestuário somaram mais 17,4% em valor em comparação com 2019 e mais 13,1% do que em 2021. Entre os 10 principais mercados, todos registaram aumentos em 2022 em comparação com 2021, numa lista liderada por Espanha (+2,9%, para 1,42 mil milhões de euros), a que se segue a França (+20,8%, para 941,8 milhões de euros), Alemanha (+17,1%, para 539,1 milhões de euros), EUA (+6,8%, para 476,8 milhões de euros) e Itália (+17%, para 451,7 milhões de euros).

Já face a 2019, o último ano antes da pandemia, as comparações em valor são menos favoráveis para o mercado espanhol (com uma queda de 10,9%, equivalente a menos 173,4 milhões de euros), o único, entre os 10 maiores mercados de destino dos têxteis e vestuário “made in Portugal”, que baixou as compras em valor.

A história é ligeiramente diferente quando os dados analisados são os das quantidades exportadas, onde há uma subida de 3,8% face a 2019, mas uma queda de 0,8% na comparação com 2021, para um total de 523,56 milhões de toneladas (em 2021 tinham sido 527,65 milhões de toneladas).

Esta quebra ligeira foi sentida essencialmente nos mercados extra-UE, com destaque para os EUA. O país liderado por Joe Biden comprou 38,77 milhões de toneladas, o que representa menos 26,3% do que em 2021, equivalente a uma diminuição de 13,87 milhões de toneladas. No entanto, o número de 2022 é 1,6% superior ao registado em 2019.

Os norte-americanos reduziram sobretudo as compras em quantidade, e em termos absolutos, de pastas (ouates), feltros e falsos tecidos (-29,9%, equivalente a menos 5,79 milhões de toneladas), outros artefactos têxteis confecionados, categoria onde se insere a maior parte dos têxteis-lar (-24,5%, representando menos 2,99 milhões de toneladas) e tecidos de malha (-45,8%, equivalente a menos 2,41 milhões de toneladas).

Números com «sabor amargo»

Em termos de categoria de produtos, apenas as exportações de tecidos especiais e tufados evidenciaram uma perda em valor (-25,3%, para 74,7 milhões de euros) face a 2021. Em contrapartida, o maior aumento, entre as categorias mais representativas, foi sentido no vestuário e acessórios exceto de malha (+24,7%, equivalente a mais 197,2 milhões de euros, para 995,3 milhões de euros – o que também representa um crescimento de 1,1% face a 2019).

Já a principal categoria de exportação – o vestuário e acessórios de malha – aumentou as vendas ao exterior em 9,6% em comparação com 2021 (mais 224,6 milhões de euros) e em 19,1% (409 milhões de euros) face a 2019, para 2,55 mil milhões de euros.

Em quantidade, nem todas as categorias verificaram crescimento, com quebras mais acentuadas, face a 2021, dos tecidos especiais e tufados (-27,9%), artigos de algodão (-8,4%) e vestuário e acessórios de malha (-4,3%).

A disparidade entre as vendas em valor e quantidade justifica, para a ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, um certo «sabor amargo» deste recorde de exportações. «Este diferencial entre valor e quantidade é justificado em grande medida pelo aumento generalizado dos custos de produção, em particular, devido ao aumento dos preços de energia, com especial destaque para o gás natural», refere o comunicado da associação, assinado pelo presidente Mário Jorge Machado. «A instabilidade e a incerteza provocada pela guerra na Europa, que trouxe consigo graves consequências no mercado energético e originou uma inflação generalizada nos preços dos bens, dos serviços e um aumento das taxas de juro teve forte impacto no rendimento disponível, consumo e na procura das famílias, em particular nos bens não essenciais. Fomos assistindo a uma desaceleração da procura ao longo do ano, com implicações na produção e nas exportações deste sector», acrescenta.

A análise da ATP revela ainda que a balança comercial da indústria têxtil e vestuário em 2022 teve um saldo de 696 milhões de euros, com uma taxa de cobertura de 113%.