O grupo especialista em têxteis-lar, que emprega 1.000 pessoas, tem alavancado a oferta ecológica na verticalidade da sua produção, numa aposta que vai dos fios aos acabamentos. Para a casa deste ano, as propostas trouxeram como grande novidade a utilização de uma nova técnica de tingimento que, garante o CEO Artur Soutinho, «é única e uma invenção nossa».
Batizado Eco Dye, o tingimento «gasta muito pouca água, usa poucos químicos e, ao usar pouca água, tem menos efluentes líquidos e consome menos energia», explica o CEO. Permitindo eliminar atualmente mais de 80% dos químicos em comparação com os processos convencionais, o objetivo é «retirar os químicos a 100%», adianta ao Jornal Têxtil.
Outra gama de artigos, batizada Upcycled, é produzida com recurso a fios obtidos a partir da reutilização das fibras das fiações. «A ideia da economia circular é que as fibras que foram utilizadas para um fio sejam reutilizadas para fazer outro fio», indica Artur Soutinho. Na prática, são misturadas diferentes fibras, que conferem «um toque muito bom» aos produtos, que podem ainda ser tingidos numa variedade quase infinita de tonalidades.
Já nos produtos da Eco Heather Pure, que resulta também do reaproveitamento de fibras, a paleta de cores é limitada, porque «a seleção e a mistura das fibras são efetuadas manualmente. Trata-se de um produto sem qualquer químico, não é tingido, por isso são as cores naturais das fibras», elucida o CEO.
Investimento na sustentabilidade
«Temos investido na área da sustentabilidade mas nos últimos dois anos esta temática começou a entrar verdadeiramente nos nossos clientes. Até lá todos achavam muita graça mas consideravam que o produto era caro e, portanto, não compravam. Neste momento há um interesse novo e sério pelos produtos sustentáveis e tem muito a ver com a questão geracional. Os novos compradores, que vão ao mercado, valorizam hoje aspetos que os mais antigos não valorizam. Valorizam produtos sustentáveis em que se respeite mais as regras ambientais. Acho que é uma forma de nos diferenciarmos, é um caminho», destaca Artur Soutinho.
A distinção através da sustentabilidade passa também pelas embalagens dos artigos que, no grupo Moretextile, deixaram de ser de plástico para serem feitos do mesmo material que o produto que protegem. «Estamos a reinventar embalagens», acredita o CEO. «Como, neste tipo de produto, o comprador é muito sensitivo, mesmo cá fora consegue apalpar e sentir o que vai comprar. Ainda por cima, a embalagem pode depois ser reutilizada como um saco, é uma embalagem para transformar noutra coisa qualquer», afirma.
Crescimento em 2018
As preocupações ambientais fazem, por isso, «parte do ADN da Moretextile», que embora detenha as marcas próprias Home Concept, Coelima e Arkhipelagos, produz sobretudo em private label – cerca de 90% da produção. EUA, Canadá e Europa são os principais mercados, a que se soma outros mais pequenos, como o Japão.
Foram estes mercados que permitiram ao grupo crescer 10% em 2018 comparativamente ao exercício anterior, e atingir um volume de negócios de 65 milhões de euros só nos têxteis-lar.
2019, no entanto, deverá ser «um ano mais complexo», antevê Artur Soutinho. «Vai ser um ano difícil para toda a gente. Há uma inversão do ciclo económico, vai ser um ano de desafios pesados à indústria textil», admite, apontando fatores externos como fontes de preocupação. «O mercado inglês está muito mau, o mercado francês está muito difícil, o espanhol complicado está. Toda esta instabilidade criada pela questão dos EUA com a China, a Turquia que desvalorizou a moeda 50% ou 70% nos últimos três anos – e é o nosso maior concorrente. Tudo isto vai criar-nos algumas dificuldades, sem dúvida… nem tudo são rosas», assegura o CEO do grupo Moretextile.