O grupo Inditex representa mais de 50% da faturação do grupo Goucam, que terminou 2017 com um volume de negócios de 20 milhões de euros. «Penso que é dos poucos grupos que entenderam bem o mercado, que estão a fazer este acompanhamento do mercado e que estão à frente dos outros. A maior parte das outras grandes cadeias anda perdida, diz que não vende, não tem o produto que devia ter na altura certa e, em vez de reagir aos clientes, reage, por vezes, com a busca de preços mais económicos e com margens mais elevadas para cobrir os custos daquilo que não vende. Acho que estão numa estratégia errada», considera José Carlos Castanheira, CEO da Goucam.
As vendas para a retalhista espanhola, de resto, deverão continuar a subir. «Prevejo que a Inditex vá crescer muito nos próximos tempos e conto continuar a ser um parceiro que possa crescer com eles», assume José Carlos Castanheira.
O segredo tem sido a flexibilidade da empresa, apesar de, no total, o grupo, com cinco unidades produtivas, ser já um “gigante” na realidade portuguesa, que dá emprego a 400 pessoas. «A nossa maior unidade tem 130 pessoas. Nós gerimos quase dia a dia. Temos a parte da organização toda centralizada e alimentamos as fábricas dia a dia. Portanto, de manhã praticamente conseguimos decidir o que pôr lá no dia seguinte e, se for preciso, no próprio dia», explica o CEO da Goucam. «Seguimos os nossos clientes e, quando vemos que é o caminho certo, fazemos tudo para os acompanhar. É reagir ao mercado no momento certo e o mais rápido possível. Só assim é que se consegue responder ao mercado», acredita.
Além da Inditex, para quem produz vestuário de senhora (70%) e de homem, a empresa tem um portefólio de mais cerca de 15 clientes, mais pequenos, «mas que estão em desenvolvimento», sublinha o empresário.
Além de Espanha, as exportações da produtora de vestuário são também direcionadas para Holanda, Bélgica, Dinamarca e Inglaterra, onde o Brexit não assusta o CEO da Goucam. «Vejo no Brexit uma oportunidade. Vamos ver como vão reagir as pessoas, vamos ver que tipo de documentação vai ser necessário. Nós trabalhávamos bem com a Inglaterra até antes de Portugal entrar no euro», relembra. O mercado britânico é, aliás, um dos focos da empresa para este ano, juntamente com a Alemanha. «Inglaterra é um mercado onde temos alguns clientes com aptidão e tem vindo a crescer um bocadinho», revela José Carlos Castanheira ao Portugal Têxtil. Já a Alemanha «é um mercado que não trabalhamos e que gostaríamos de trabalhar». Porém, a entrada no mercado alemão, nomeadamente através das feiras, tem-se revelado mais difícil. «Na Alemanha há muitas feiras, é difícil saber qual é a correta, é difícil estar presente sozinho, não há dimensão, e é difícil convencer os colegas que juntos somos mais fortes do que individualmente», aponta.
Depois de em 2017 ter crescido 20%, José Carlos Castanheira antecipa um ano de 2018 «mais difícil». A diminuição das vendas nas grandes marcas e o inverno tardio são algumas das condicionantes que deverão determinar a evolução do negócio. «Vimos de anos com forte crescimento, com todo o volume de exportação, mas neste momento é preciso ter alguns cuidados. Mercados que pensávamos que iam desenvolver não trouxeram grandes mais-valias. Estava toda a gente entusiasmada com os EUA, eu próprio também, mas os EUA não representam nada em termos de exportações nacionais de vestuário, nem uma Bélgica. Não dá para o que se gasta lá em termos de produção. Os mercados nacionais estão a ficar um bocadinho mais duros, mais complexos», justifica. «Em 2018 haverá alguns cuidados a ter», afirma o CEO da Goucam.