Breves

  1. Geração Z não sabe o que é a fast fashion
  2. Guerra EUA-China pesa sobre os preços do algodão
  3. Reciclagem de vestuário vence prémio de inovação
  4. Camboja aumenta salário mínimo na têxtil
  5. Waste2Wear lança tecidos com plástico rastreáveis
  6. Moda tenta reduzir impacto ambiental

1. Geração Z não sabe o que é a fast fashion

Apesar da crescente difamação da fast fashion na comunicação social, mais de metade das mulheres britânicas da chamada Geração Z (dos 16 aos 24 anos) compram roupa nova todos os meses e muitas admitem pouco saber sobre a fast fashion – barata e descartável – e respetivos danos sociais e ecológicos. Um estudo liderado pela Hubbub, uma associação de defesa ambiental de Londres, em nome da marca de vestuário em malha WoolOvers, revelou que apenas 6% das mulheres se consideram bem informadas sobre o impacto da fast fashion, além de que 86% das inquiridas acreditam «não haver informação suficiente sobre o assunto». A investigação mostrou uma divisão demográfica inesperada, já que a Geração Z (pessoas nascidas entre 1995 e 2010) há muito que é apontada como a consciência moral da atualidade. Contudo, este estudo demonstra o contrário: 58% não sabe o que significa “fast fashion” e 29% acredita que o termo se refere a roupas que podem ser compradas «mais convenientemente». Por comparação, 67% das mulheres de 65 anos ou mais foram capazes de definir corretamente o conceito. A diferença é crescente à medida que se analisa a forma como as várias faixas etárias preservam a roupa: apenas um terço da Geração Z procede a arranjos, comparativamente com metade das mulheres com mais de 53 anos. A Hubbub conclui que «as jovens veem as roupas como artigos de curto prazo e descartáveis, com menos de metade a esperar que sejam de uma qualidade suficientemente boa para durar vários anos antes que precisem de ser substituídas ou arranjadas». Um outro argumento que justifica estes dados refere-se ao declínio das competências de costura, antigamente quase universalmente ensinadas nas escolas. «As jovens afirmaram que a linguagem sobre os consertos era confusa, impedindo a pesquisa online para encontrar soluções fáceis», indica a associação. Além disso, apesar das conclusões indicarem que as mulheres entre os 16 e os 24 anos são a «geração com mais probabilidade» de usar tecidos reciclados, não estão atualmente a reciclar o seu vestuário indesejado. Deste modo, a Hubbub acredita que o diálogo sobre a reciclagem têxtil precisa de ser amplificado. «O público necessita de estar bem informado sobre os benefícios da reciclagem têxtil e o acesso aos pontos de reciclagem precisa de estar mais disponível», sublinha.

2. Guerra EUA-China pesa sobre os preços do algodão

A imprevisibilidade da disputa comercial entre os EUA e a China está a ter um grande impacto na procura e nos preços do algodão. Na sua mais recente previsão mensal, a Cotton Inc aponta que a incerteza está também a pesar nos investimentos e na colocação de encomendas. No mês passado, a China ameaçou adicionar cinco pontos percentuais às taxas aplicadas às importações de algodão americano. Este incremento «significará um aumento das tarifas no envio de algodão americano para 30%», explica a Cotton Inc, acrescentando ainda que «a incerteza pode adiar o investimento e a colocação de encomendas e, consequentemente, diminuir a procura», o que se refletiu já na desaceleração do crescimento sentida por muitas das maiores economias mundiais durante o último ano. Por outro lado, «o início da disputa comercial EUA-China coincidiu com o momento em que as previsões económicas começaram a ficar mais baixas (primavera de 2018)». Após a queda em julho, os preços de referência do algodão estabilizaram até à primeira quinzena de setembro. Os contratos para dezembro em Nova Iorque mantiveram valores próximos a 0,58 dólares por libra, enquanto o Índice Cotlook arredondou para os 0,70 dólares por libra. Por sua vez, o último relatório do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) apresentou reduções na produção mundial e nos valores de uso pelas fiações: a colheita global prevista para 2019/20 diminuiu em 709 mil fardos, para 124,9 milhões, e o consumo em 1,3 milhões de fardos, para 121,7 milhões. Isto significa um aumento dos stocks iniciais e finais. Segundo o USDA, toda a acumulação adicional e global de stocks está prevista para ocorrer fora da China: espera-se que os stocks finais cheguem aos 50 milhões de fardos – mais 1,3 milhões do que o previsto em agosto. Se assim for, estamos perante um recorde do maior volume de algodão retido fora da China. Em termos de importações, as maiores alterações às previsões anteriores foram feitas em relação à Índia, Vietname, Paquistão, Tailândia e Turquia, enquanto, do lado das exportações foram nos EUA, Brasil, Índia, México, Austrália e Burkina Faso.

3. Reciclagem de vestuário vence prémio de inovação

A mini linha de produção peça-a-peça, desenvolvida pelo Instituto de Investigação de Têxteis e Vestuário de Hong Kong (HKRITA), que transforma vestuário pós-consumo em roupas usáveis e limpas, foi reconhecida nos prémios Innovation by Design de 2019da Fast Company. A competição Innovation by Design recompensa o trabalho criativo na interseção do design, negócio e inovação – e o HKRITA foi premiado na categoria “Retail Environments”. O sistema Garment to Garment System (G2G) está condensado dentro de um contentor standard instalado numa loja no The Mills, um complexo revitalizado de arte e cultura, localizado em três antigas fábricas de algodão em Hong Kong. O contentor foi construído com uma parede de vidros duplos, que protege o espaço de compra do ruído gerado durante o processo de reciclagem, ao mesmo tempo que o design antivibração e de controlo da poeira minimiza a perturbação dos negócios vizinhos. Assim, os visitantes podem passear pelo contentor, olhar para o seu interior e observar o processo completo, bem como reciclar as suas próprias roupas usadas. Este projeto resulta da colaboração entre o HKRITA, a Fundação H&M e a Novetex Textiles Limited e conta com o apoio do The Mills. Segundo Edwin Keh, CEO do HKRITA, «o sistema G2G traz a reciclagem à vida. As nossas roupas velhas podem ser usadas como matéria-prima para as novas roupas em tempo real». A Fast Company afirma que o grupo de candidatos deste ano foi o mais competitivo da história, com mais de 4.300 inscrições – e vencedores, incluindo Nike, Microsoft e Mastercard. O sistema de reciclagem (G2G) foi inaugurado em setembro do ano passado e além deste prémio, foi também reconhecido na 47.ª Exposição Internacional de Invenções e recebeu o Red Dot Award: Product Design 2019, em reconhecimento da sua alta qualidade de design, selecionada entre mais de 5.500 produtos de 55 países.

4. Camboja aumenta salário mínimo na têxtil

O Ministro do Trabalho de Camboja, Ith Sam Heng, anunciou o aumento do salário mínimo dos trabalhadores das indústrias têxteis e de calçado para 190 dólares (173 euros) mensais em 2020, um crescimento de 4,4%, resultante da pressão da União Europeia sobre os direitos humanos praticados no país. A indústria do vestuário é o maior empregador de Camboja, gerando anualmente 7 mil milhões de dólares para a economia, e enfrenta agora um clima de incerteza depois da UE ter iniciado, em fevereiro, um processo que pode suspender o tratamento preferencial nas trocas comerciais com o país. O Camboja beneficia do programa comercial da UE “Everything But Arms” (EBA), que permite aos países em desenvolvimento a livre circulação de mercadorias (exceto armas) para a UE. Pav Sina, presidente do Movimento Sindical Coletivo dos Trabalhadores, afirmou que os sindicatos aceitarão a nova proposta, embora tenha ficado aquém dos exigidos 195 dólares mensais. «Apesar deste valor não corresponder ao que queríamos, é positivo, já que o Camboja está no meio de incerteza nas preferências comerciais», referiu. Por outro lado, «se o nosso salário for maior do que o dos países da região, também sofreremos», acrescentou. A UE é responsável por mais de um terço das exportações do Camboja e iniciou, em fevereiro, uma avaliação de 18 meses que pode levar à suspensão do EBA. Esta decisão resultou da instabilidade política vivida no país, pela prisão do líder da oposição Kem Sokha e dissolução do seu partido, levando a que o antigo partido do primeiro-ministro Hun Sem mantivesse todos os assentos no parlamento. Ken Loo, secretário-geral da Associação de Produtores de Vestuário do Camboja (GMAC), declarou que os patrões aceitarão o novo salário mínimo, mas estão preocupados com o aumento dos salários. «Estamos sempre preocupados com o aumento dos salários, mas também compreendemos que precisamos apenas de nos alinhar com a inflação e outros fatores», resumiu.

5. Waste2Wear lança tecidos com plástico rastreáveis

A empresa holandesa Waste2Wear lançou, na mais recente edição da Première Vision Paris, a primeira coleção mundial de tecidos produzidos a partir de plásticos recolhidos no oceano que serão totalmente rastreáveis através da tecnologia blockchain. O plástico usado pela Waste2Wear Ocean Fabrics vem do mar e das áreas costeiras de uma ilha perto de Xangai. Em colaboração com o governo e ONGs locais, a empresa criou um modelo de negócio no qual os pescadores podem recuperar o seu rendimento, perdido devido às regulamentações ambientais, pescando plásticos do oceano – agora retiram mais de três toneladas de resíduos a cada semana. A Waste2Wear prepara-se também para lançar uma versão beta do seu sistema de blockchain, incutido na sua coleção de tecidos feitos com plástico recolhido no oceano, o que permitirá rastrear os materiais reciclados até à sua origem. A tecnologia blockchain regista a viagem dos resíduos plásticos passo a passo até se tornar um produto têxtil acabado. A empresa afirma que o sistema responde à procura do consumidor pelo rastreio de materiais reciclados. «Nos últimos dez anos, construímos uma vasta experiência na reciclagem de resíduos plásticos para criar tecidos sofisticados e produtos têxteis acabados», o que «permitiu que nos tornássemos uma solução completa para os clientes, desenvolvendo produtos sustentáveis a partir de resíduos plásticos pós-consumo», declara a empresa. O objetivo da Waste2Wear é reduzir o desperdício de plástico, reunindo todos os intervenientes na cadeia, como as universidades, instituições de investigação, governos e empresas de moda e têxtil, para criar sinergias e cocriar novas soluções orientadas para uma economia circular.

6. Moda tenta reduzir impacto ambiental

A moda é uma das indústrias com maior pegada ambiental, responsável por cerca 10% das emissões de gases com efeito de estufa, de acordo com a Oxfam. Mas têm sido feitos esforços para mitigar o seu impacto. O designer Mark Badgley defende que atualmente o «negócio [é] tão diferente do que era, mesmo há cinco anos atrás. As fábricas que usamos não têm desperdício e tudo é reciclado». O Studio 189 exibiu, em Nova Iorque, uma coleção de vestuário tingido naturalmente e inspirado na cultura africana, produzida em colaboração com comunidades locais no Gana. Este projeto, fundado pela atriz Rosario Dawson e pelo ex-executivo da Bottega Veneta, Abrima Erwiah, procura criar postos de trabalho e apoiar a educação e capacidades de aprendizagem, em parceria com a Iniciativa de Moda Ética das Nações Unidas. Por outro lado, também a Hyundai se juntou à marca Zero + Maria Cornejo, durante a Semana da Moda em Nova Iorque, numa coleção que reaproveitou os restos de couro dos carros da empresa. Maria Cornejo explica que o objetivo é demonstrar que todos os resíduos, de grandes ou pequenas empresas, «não precisam de ser descartados. Podem encontrar uma nova vida. É sobre recriar, reimaginar, reciclar. Trata-se basicamente de ser criativo com coisas que normalmente seriam descartadas». Segundo o diretor do documentário de 2015 “The True Cost”, Andrew Morgan, «aproximadamente 97% das roupas são enviadas para produção em países pobres, onde os proprietários das fábricas competem pelo preço, levando ao seu descarte e acumulação em aterros e ao escoamento químico prejudicial das fábricas».