Os números da Autoridade Nacional de Proteção Civil traduzem uma tragédia que se repete de ano para ano e que leva muitos investigadores por todo o mundo a aplicar os seus conhecimentos no desenvolvimento de soluções que possam diminuir o número de mortos em incêndios.
Em Portugal existe o Centro de Estudos de Incêndios Florestais, da ADAI – Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial, da Universidade de Coimbra, que tem como principal missão melhorar as condições de segurança no combate a incêndios. «É um processo de aprendizagem contínua», afirmou Divo Quintela, que integra a ADAI, durante a 8.ª Conferência Europeia de Vestuário de Proteção, que decorreu entre 7 e 9 de maio no Porto, sob a Chancela do Citeve (ver Os novos desafios dos EPI’s). «É fundamental ter uma noção mínima de como as coisas acontecem. Tem a ver com formação, saber a melhor forma de lidar com o fogo», esclareceu.

Passando em revista algumas das tragédias que marcaram o ano de 2013 – como a morte de dois bombeiros em Olival Novo, na Serra do Caramulo, a 22 de agosto –, Divo Quintela sublinhou a importância de usar os EPI’s não só para quem combate os fogos mas até para aqueles que apenas estão de passagem. «Será que toda a gente que trabalha próximo de um fogo deve usar um EPI? Não sei, mas na Austrália, qualquer político que vai ao terreno num incêndio tem de usar EPI’s», revelou.
O investigador realçou a importância da formação e da preparação física dos bombeiros e apontou alguns exemplos do trabalho que tem vindo a ser realizado com a indústria, desde a colaboração na conceção de produtos resistentes ao fogo até ao estudo e desenvolvimento de um modelo de termorregulação humana. «O conhecimento científico do comportamento dos incêndios florestais e de segurança dá um background sólido para ajudar a testar e certificar EPI’s nesta área», afirmou Divo Quintela, pelo que «é altamente recomendado a utilização de modelos de termorregulação humana».
Abrigos avançados dos EUA

Durante os três dias da conferência, foram vários os projetos internacionais apresentados nesta área. Roger Barker, da Universidade da Carolina do Norte, dos EUA, abordou as experiências que têm sido conduzidas no âmbito dos abrigos avançados para bombeiros – uma espécie de casulo que os bombeiros usam quando ficam rodeados pelo fogo sem hipótese de fuga. «A tecnologia de abrigos de incêndio não é nova. Inicialmente era uma única folha de alumínio. Criou-se uma segunda geração mais eficiente em 2002, que provou ser um bom avanço: era simples, relativamente barato, mas com fraca resistência à chama», elucidou. «A transferência de calor acontece muito rapidamente após a degradação da camada exterior de alumínio e acontece em sete segundos», acrescentou. A terceira geração de abrigos tinha, por isso, como missão «melhorar os materiais que bloqueiam o fogo». A investigação na Carolina do Norte versou sobre o material, um compósito que bloqueia de forma mais eficiente o calor. «Fomos capazes de aumentar duas ou três vezes o isolamento do calor», destacou Roger Barker. No entanto, a chegada ao mercado deverá ainda demorar, uma vez que não é possível, pelo menos para já, a produção a grande escala. Além disso, «há muito mais que pode ser feito, como aumentar a proteção respiratória», apontou.
O colete refrigerador da Coreia do Sul

Do-Hyung Kim, do departamento de têxteis, merchandising e design de moda da Universidade Nacional de Seul, da Coreia do Sul, apresentou no Porto um colete refrigerador, com pacotes de gelo que não só funcionam como sistema de arrefecimento como são igualmente fonte de hidratação para o bombeiro.
Vincent Dubois, da corporação Pompiers 13 des Bouches-du-Rhône, partilhou a experiência dos bombeiros franceses e das exigências dos equipamentos de proteção individual no combate a fogos florestais, dando conta da necessidade de «manter a elevada visibilidade do casaco, proteger o rosto do fluxo termal e resguardar todo o corpo».
O fato inteligente da República Checa
Já Radek Soukup, da Universidade de West Bohemia, na República Checa, apresentou o fato inteligente de bombeiro que tem estado a desenvolver desde 2010. Atualmente na quarta versão, o SmartPro2 foi concebido em colaboração com a indústria e tem antena, um módulo de GPS e sensores embebidos, que aguentam as lavagens. Tem ainda integrada uma bateria e um microcomputador que processa e envia os dados para a unidade de controlo. «Tem um tablet que é para ser usado não pelo bombeiro mas por um centro de comando», explicou o investigador. O projeto incluiu ainda a criação de uma app e um sistema de comunicação com Bluetooth 4.0 e rede Wan (de longa distância). «A mais recente versão do fato é mais leve, é mais barata, vai entrar no mercado no final do ano. Tem um botão de controlo e a unidade de controlo do fato está sempre integrada. Tem ainda uma fita de alerta, que o bombeiro pode acionar para pedir ajuda», adiantou.

As empresas portuguesas, juntamente com as unidades de investigação científica do país, têm igualmente vindo a desenvolver produtos pensados para melhorar as condições dos bombeiros no combate a incêndios, como provam as botas resistentes a altas temperaturas da Lavoro (ver A revolução da Lavoro), o fato interativo desenvolvido pela Latino e os sensores do Inesc-Tec.