Depois dos têxteis-lar em janeiro, foi tempo agora do Ministro da Economia ter uma aula completa de como se faz bons tecidos e malhas. A convite da ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, Manuel Caldeira Cabral ficou a conhecer, da boca dos empresários, os pilares fundamentais para produzir alguns dos melhores têxteis do mundo: criatividade, inovação e uma dose q.b. de ousadia, nas propostas e nos investimentos em tecnologia e internacionalização.
O curso intensivo teve cerca de três horas e levou a comitiva a calcorrear alguns quilómetros entre os stands de 25 empresas, numa viagem pelo universo têxtil que começou, precisamente, no Fórum de Tendências promovido pela Associação Selectiva Moda com a colaboração do Citeve – um primeiro contacto que impressionou pela criatividade dos produtos das empresas portuguesas de tecidos e malhas presentes na Première Vision Paris.
Foi precisamente pelas malhas que a visita começou, com o administrador da A. Sampaio, João Mendes, recém-chegado da feira de desporto Ispo Munich, onde a empresa de Santo Tirso está igualmente representada, a apresentar os novos desenvolvimentos ao Ministro da Economia, numa mostra de inovação e criatividade pela qual a empresa de Santo Tirso já é conhecida. Uma primeira introdução que prosseguiu com a Matias & Araújo, onde Caldeira Cabral foi confrontado com o segundo conceito essencial ao sector: investimento. «Estamos com investimentos no âmbito do Portugal 2020. Instalamos uma tinturaria nova para apoio à tricotagem, para termos uma estrutura mais vertical», explicou a diretora comercial, Carla Silva.
As paragens na Sidónios Malhas, na Crispim Abreu, na Joaps e na Lurdes Sampaio confirmaram o que é já do senso comum: «Portugal é onde há mais valor acrescentado», frisou João Crispim, administrador da Crispim Abreu, adiantando que 2016 foi um dos melhores anos para a empresa.
Já rendido às malhas nacionais, ao chegar ao stand da Luís Azevedo, Manuel Caldeira Cabral não conseguiu evitar o elogio. «Parabéns, está fantástico!», exclamou o Ministro da Economia, numa afirmação dirigida a Sílvia Azevedo, administradora e também diretora criativa da empresa. Um elogio que se estendeu igualmente à Tintex, onde Dolores Gouveia mostrou a malha com cortiça da empresa, que na semana passada conquistou um prémio na Munich Fabric Start (ver Tintex premiada em Munique).
Na Trimalhas, a internacionalização cada vez maior das empresas nacionais veio ao de cima, com Antonino Pinto a dar conta do dinamismo da empresa, que tem estado num verdadeiro périplo pelas feiras europeias e que, em breve, adiantou em primeira-mão o administrador, pode dar o salto para outro continente. «Estamos a considerar ir a uma feira no Japão», revelou Antonino Pinto, apontando ainda como objetivo para a empresa «chegar aos 15 milhões de euros de volume de negócios e penso que vamos chegar a esse valor este ano».
O salto à Vilartex, onde um cartaz com a imagem de uma praia portuguesa fez o Ministro da Economia sonhar com o verão, confirmou o que o que as empresas em geral foram transmitindo ao longo da visita, com a administradora Carmen Pinto a reiterar o bom momento do sector e do sucesso alcançado em 2016.
Já versado nas malhas, Manuel Caldeira Cabral teve as primeiras lições de enobrecimento, com a visita à Acatel, onde contactou com a estamparia digital, numa “aula” que prosseguiu na Adalberto Estampados, que recentemente investiu 2,5 milhões de euros numa nova máquina de estamparia digital, e terminou na Otojal.
Aprovado com distinção, o Ministro da Economia avançou para as teias e tramas, com a TMG a ser a primeira paragem, onde a business manager Rita Ribeiro e a administradora Sandra Gonçalves deram conta da iniciativa “costureiras de elite”, que envolve a GPSA – Têxteis SA, uma empresa do grupo TMG. Uma iniciativa para tentar colmatar a falta de mão de obra qualificada no sector, uma das maiores preocupações das empresas nacionais, sobretudo tendo em conta que Portugal se posiciona num segmento de produto de alto valor acrescentado e que, para se manter dessa forma, necessita de técnicos especializados desde costureiras a debuxadores. Aliás, juntamente com os elevados custos de contexto, nomeadamente os preços da eletricidade, foi uma das inquietações mais mencionadas.
Com o “curso intensivo” a mais de meio, foi tempo de rever a matéria dada, com o Ministro da Economia a destacar, em conferência de imprensa, a criatividade dos stands visitados na feira. «As malhas, por exemplo, têm uma série de novos designs e não é só a parte criativa do design, mas também a parte da utilização de novos materiais e a conjugação das duas ideias», afirmou aos jornalistas. «As empresas portuguesas estão de pleno direito nesta feira – que é uma feira onde vêm todas as pessoas da moda, onde se fazem as tendências para os próximos anos – porque de facto trazem soluções muito inovadoras, tanto na parte da criatividade e de design, como também inovadoras em termos de tecnologia de produção e materiais utilizados», reforçou.
O fascínio pelos têxteis remeteu mesmo para segundo plano outras questões da atualidade, nomeadamente a situação nos EUA. «Estamos aqui numa cimeira dos têxteis e da criatividade nos têxteis, não estamos aqui numa cimeira para debater a política americana, nem cabe ao Ministro da Economia estar a tecer comentários sobre a economia europeia», respondeu à questão levantada pelos jornalistas, reforçando ainda que «entrar para esta feira é um processo muito complicado e muito difícil, só as melhores empresas do mundo entram e 56 empresas portuguesas estão cá. E estão cá de pleno direito a mostrar os seus produtos e pelo que viram, não fui só eu que vi, estão cheias de clientes interessados».
Com as forças retemperadas, as últimas lições sobre os tecidos aguardavam o Ministro da Economia, do denim da Troficolor aos veludos da Gierlings Velpor, passando pelos tecidos com riscas da Lemar e os novos desenvolvimentos da LMA. Na Riopele, Manuel Caldeira Cabral não pôde deixar de se sentir em casa, com a calçada portuguesa a abrir as portas para um stand pensado, como habitualmente, a duas cabeças e criado a quatro mãos, por Rita Fortes e Custódio Castro, onde se conta a evolução dos 90 anos da Riopele, fundada em 1927.
Na Fitecom, o ex-professor da Universidade da Beira Interior, João Carvalho, destacou o crescimento das exportações da empresa, que já envia para fora de Portugal 95% de tudo o que produz. Já na Paulo de Oliveira, o administrador Paulo Augusto Oliveira, mostrou como é que a técnica se conjuga com a estética, com produtos que associam a beleza dos tecidos em lã a diversas funcionalidades.
Com o fim da lição à vista, o Ministro da Economia passou ainda na Albano Morgado e na Têxtil de Serzedelo, terminando na Somelos Tecidos. «Exportamos para todo o mundo, mas os EUA são neste momento o nosso maior mercado», explicou Mário Domingues, presidente da Somelos Tecidos, onde Manuel Caldeira Cabral pode ainda sentir os tecidos de algodão com toque de seda – um dos produtos de luxo da empresa.
Na avaliação final, o presidente da ATP, Paulo Melo, deu nota máxima. «É sempre importante a presença do senhor ministro e do Governo de Portugal, para sentir o ambiente que se respira e, ao mesmo tempo, também ver a evolução das empresas portuguesas que cá estão – seja o sector das malhas, seja o sector dos tecidos –, o trabalho que tem sido feito pelas empresas e pelos empresários e a resposta que temos dado. É por isso que os nossos números de exportação em 2016 cresceram muito: em 2016 superámos os 5 mil milhões de euros de exportação, o que quer dizer que a locomotiva está aqui toda», resumiu ao Portugal Têxtil.