- ITV da China recupera em março
- UE dá luz verde a acordo comercial com Vietname
- Estudo avalia potencial das fibras de resíduos agrícolas
- Covid-19 trava sustentabilidade ambiental
- Fashion Revolution exige garantias para trabalhadores
- Banco Mundial financia combate à pandemia
1. ITV da China recupera em março
Depois de se deteriorar em fevereiro ao ritmo mais acelerado desde que há registo, a atividade fabril da China começou a recuperar em março, mas o número de encomendas continuou a cair, à medida que a pandemia se propagava no resto do mundo. Depois do recorde da maior queda, para 40,3, em fevereiro, o PMI (Purchasing Managers’ Index) do Caixin China General subiu para 50,1 em março. Este indicador revela as condições operacionais da economia industrial, sendo que um valor superior a 50,0 aponta crescimento da atividade fabril, pelo que a leitura de março sugere uma estabilização das condições de negócio. «Os dados do estudo, que foi realizado de 12 a 23 de março, mostraram que os fabricantes ainda estão a voltar ao trabalho gradualmente», afirma Zhengsheng Zhong, presidente do conselho de administração e economista-chefe do CEBM Group, subsidiário do Caixin. «A expansão de março no sector da produção regressou para um nível verificado antes da pandemia de coronavírus», acrescenta. Contudo, embora o sector tenha apresentado melhorias ligeiras na produção, as encomendas diminuíram devido ao agravamento da situação relacionada com a Covid-19 no resto do mundo. O total de novas encomendas desceu pelo segundo mês consecutivo, os prazos de entrega alargaram-se e, de acordo com alguns inquéritos, surgiram mais atrasos e cancelamentos de encomendas. Em linha com a tendência de produção, houve ainda aumento nas atividades de compras no final do primeiro trimestre. No entanto, algumas notícias de escassez de matérias-primas e a maior dependência nos stocks existentes levou a uma redução do aumento dos inventários, com a agravante dos prazos de entrega para novas encomendas se terem alargado à segunda taxa mais acelerada em pouco mais de 12 anos. Ainda que não de forma acentuada, o stock de produtos acabados registou um crescimento, provocado, em parte, pelas dificuldades de envio relacionadas com as restrições criadas pela emergência de saúde pública vivida atualmente. O custo médio de produção desceu pela primeira vez desde agosto do ano passado e, apesar de não ter sido uma queda significativa, são várias as empresas que associaram essa redução à quebra mundial da procura. No geral, as empresas fizeram refletir essa situação em preços mais baixos para o cliente, na esperança de impulsionar as vendas. Para os próximos 12 meses, a confiança das empresas continua elevada, com muitas a mostrarem-se confiantes de que a procura vai melhorar à medida que o surto de Covid-19 diminui. «A indústria estava com dupla pressão em março: a retoma dos negócios foi insuficiente e o agravamento da procura externa e o abrandamento da procura do consumidor doméstico impediu que a produção se expandisse mais», explica Zhengsheng Zhong. «A confiança nos negócios ainda era alta e o mercado de trabalho basicamente retornou ao nível pré-pandémico, estabelecendo uma base positiva para a rápida recuperação da economia», aponta. Dados recentes da Federação Têxtil da China confirmaram que a desaceleração dos pedidos continua a ser um dos maiores desafios da indústria.
2. UE dá luz verde a acordo comercial com Vietname
O acordo de comércio livre entre a União Europeia e o Vietname poderá entrar em vigor no início do verão de 2020, depois do Conselho Europeu ter adotado uma decisão sobre a conclusão do pacto. O Vietname é o segundo maior parceiro comercial da UE na Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN, na sigla inglesa), a seguir a Singapura, com o comércio de mercadorias no valor de 47,6 mil milhões de euros por ano e 3,6 mil milhões de euros em serviços. As principais importações da UE provenientes do Vietname incluem equipamentos de telecomunicações, vestuário e produtos alimentares. Atualmente, apenas 42% das exportações do Vietname para a UE não têm taxas aplicadas sob o Sistema de Preferências Generalizadas (SPG). Numa declaração, o Conselho Europeu revelou que decidiu pela conclusão do acordo de comércio livre, abrindo caminho, do lado da UE, para a entrada em vigor do acordo. Quando a Assembleia Nacional do Vietname validar as condições do acordo, o mesmo poderá entrar em vigor, provavelmente no início do verão de 2020. «Este acordo é o segundo que estamos a concretizar com um país do Sudeste Asiático, a seguir a Singapura», destaca Gordan Grlic Radman, Ministro dos Negócios Estrangeiros e dos Assuntos Europeus da Croácia. «É também o acordo de comércio livre mais ambiciosos concluído com um país em desenvolvimento. Estamos a dar novas oportunidades comerciais, mas também a implementar novas ferramentas para impulsionar as liberdades fundamentais e os direitos dos trabalhadores no Vietname», garante. O acordo de comércio livre prevê a eliminação quase total (99%) das taxas alfandegárias entre as duas regiões: 65% dos impostos nas exportações da UE para o Vietname vão deixar de existir quando o acordo entrar em vigor, sendo que as restantes taxas vão ser gradualmente eliminadas durante um período de 10 anos. Já no que diz respeito às exportações vietnamitas para a UE, o acordo indica que 71% dos encargos vão desaparecer com a implementação do acordo, com os restantes a extinguirem-se no prazo de sete anos. O acordo vai ainda reduzir muitas das barreiras não-tarifárias ao comércio com o Vietname e abrir serviços e mercado de contratação pública do Vietname a empresas da UE. O acordo comercial visa ainda alíneas importantes quanto a proteção de propriedade intelectual, direitos dos trabalhadores e desenvolvimento sustentável, uma vez que está implícita a implementação de normas essenciais da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e convenções das Nações Unidas que abranjam temas como o combate às mudanças climáticas ou a proteção da biodiversidade. O pacto inclui ainda uma ligação institucional e jurídica com o Acordo de Parceria e Cooperação UE-Vietname, de modo a garantir que possam ser tomadas as medidas necessárias no caso de infrações graves dos direitos humanos. Segundo, o Ministério do Planeamento e Investimento do Vietname, a aliança comercial vai contribuir para um crescimento de cerca de 20% das exportações para a UE em 2020, 42,7% em 2025 e 44,37% em 2030.
3. Estudo avalia potencial das fibras de resíduos agrícolas
A Laudes Foundation, criada em fevereiro para acelerar o trabalho da C&A Foundation, está a investigar a viabilidade da utilização de resíduos agrícolas na produção de fibras têxteis em grande escala. A fundação está atualmente a convidar organizações ou consórcios independentes a apresentar propostas para desenvolver o estudo inicial, com o objetivo de fazer recomendações de desperdícios e resíduos específicos que possam ser redirecionados para a indústria têxtil em grande escala. A iniciativa está focada numa área de atividade fundamental da Laudes Foundation: trabalhar para tornar a oferta mundial de matérias-primas sustentável através do seu programa de materiais. As principais metas do estudo são fornecer uma análise detalhada da quantidade de desperdícios e resíduos agrícolas disponíveis para serem utilizados como matéria-prima na produção de fibras têxteis, mapear centros geográficos que disponham destes resíduos e providenciar recomendações que facilitem a logística das cadeias de aprovisionamento na expansão da produção de fibras têxteis a partir de resíduos agrícolas. As propostas devem descrever os resultados esperados com o estudo, o historial e o contexto, a abrangência, o propósito, os resultados esperados e prazos indicativos, juntamente com as qualificações dos consultores e o nível de esforço projetado. O prazo para candidaturas termina a 17 de abril de 2020, com o estudo a dever ficar concluído a 31 de julho. A Laudes Foundation apoia o trabalho da C&A Foundation, mas com uma abordagem mais centrada nas alterações climáticas e na desigualdade.
4. Covid-19 trava sustentabilidade ambiental
A palavra sustentabilidade foi uma das mais utilizadas em 2019, mas tudo o que implica pode estar a ser também vítima do surto do novo coronavírus. «Fazer alterações nos materiais, logística e processos produtivos para melhorar a sustentabilidade dos produtos e operações vai regredir, uma vez que esta temática já não está no topo das preocupações dos retalhistas nem dos consumidores», avança Emily Salter, analista da GlobalData. «Isto deve-se ao facto dos ajustes feitos a longo prazo serem dispendiosos e muitos retalhistas da área não-alimentar vão entrar numa situação financeiramente instável criada pela pandemia que gerou um período significativo de baixa nas vendas ou vendas inexistentes», esclarece. «Outra problemática são os produtos em stock que não são vendidos, dos quais os retalhistas não se conseguem desfazer, visto que as lojas que não sejam de vendas essenciais deixaram de comercializar de forma temporária. Alguns artigos e gamas podem ser vendidos posteriormente, mas isso pode não se verificar para peças muito ligadas a tendências ou sazonais, o que acarreta dúvidas na forma como esses artigos serão escoados», refere a analista. «Da mesma forma que a Burberry foi criticada por queimar stock em 2018, esta deve ser uma preocupação dos retalhistas. Agindo rapidamente, a Kurt Geiger anunciou que está a planear doar parte do stock ao Serviço Nacional de Saúde [do Reino Unido], livrando-se do excesso ao mesmo tempo que gera impressões positivas», aponta. Segundo a análise da GlobalData, durante o surto, os consumidores estão menos recetivos ou impossibilitados de comprar artigos em segunda-mão, com as vendas através do Facebook ou de outras plataformas a serem interrompidas ou desencorajadas por razões de higiene dos produtos, o que vai fazer com que a disposição para este tipo de artigos seja menor depois do surto. «Mesmo que a sustentabilidade volte lentamente a ser mais importante quando a disseminação da Covid-19 terminar, é provável que o aumento da consciencialização para a limpeza e os germes destes produtos permaneça nos pensamentos dos consumidores e continuará a dificultar o crescimento das iniciativas de sustentabilidade», resume Emily Salter.
5. Fashion Revolution exige garantias para trabalhadores
A iniciativa Fashion Revolution, um movimento global que apela à transparência na indústria da moda, está a incentivar os consumidores a exigirem que as marcas de vestuário façam mais para proteger os trabalhadores nas cadeias de aprovisionamento em pleno período de emergência pública. Surgiram notícias de marcas e retalhistas de moda que cancelaram encomendas e deixaram de pagar pedidos já em produção à medida que o impacto do novo coronavírus se intensifica. No Bangladesh, cerca de mil fábricas com 1,96 milhões de trabalhadores perderam quase 2,5 mil milhões de euros em encomendas suspensas ou canceladas por parte de marcas e retalhistas que enfrentam um período de quebra nas vendas gerado pelo encerramento das lojas, segundo informações da Associação de Produtores e Exportadores de Vestuário do Bangladesh (BGMEA, na sigla inglesa). O movimento Fashion Revolution incita os consumidores a tomarem três ações «fundamentais», para que estes possam proteger os trabalhadores da indústria: enviar uma carta às marcas onde exigem o pagamento das encomendas já realizadas, bem como a proteção dos trabalhadores e dos respetivos salários; fazer donativos a organizações sem fins lucrativos que apoiem os trabalhadores da indústria de vestuário desempregados, recomendando a AWAJ Foundation, The Garment Worker Center, GoodWeave International e The World Fair Trade Organisation; contribuir com donativos para a Fashion Revolution para que o movimento continue a questionar as marcas e a mobilizar os cidadãos para lutarem pelo respeito dos trabalhadores e pela proteção do planeta. «Se não fizermos nada, a indústria da moda vai simplesmente regressar às mesmas práticas de negócio quando tudo isto acabar. Em vez disso, vamos juntar-nos como uma revolução e construir um novo sistema que valorize o bem-estar das pessoas e do planeta acima do lucro. Isso significa que agora nos devemos unir para proteger e apoiar as pessoas que fazem as nossas roupas», declara a organização sem fins lucrativos. Até ao momento, a H&M é a única retalhista de moda que concordou em assegurar o pagamento aos fornecedores por pedidos cancelados ou pelos produtos em produção. «Isto é realmente o mínimo que as marcas e os retalhistas devem fazer. Esperamos ver outras marcas a assegurar pagamentos e a proteger todos os colaboradores da respetiva cadeia de valor», conclui a Fashion Revolution.
6. Banco Mundial financia combate à pandemia
O Banco Mundial disponibilizou 1,9 mil milhões de dólares (cerca de 1,75 mil milhões de euros) em fundos de emergência para apoiar 25 países em desenvolvimento a responder às dificuldades causadas pelo novo coronavírus. Entre os países estão incluídos grandes produtores de vestuário, como a Etiópia, Quénia, Camboja, Haiti, Índia, Paquistão, Sri Lanka e Marrocos. O Banco Mundial anunciou ainda que, nos próximos 15 meses, vai ajudar os países a proteger os mais pobres e vulneráveis, a apoiar as empresas e a recuperar a economia com um total de 160 mil milhões de dólares. «Os países mais pobres e vulneráveis vão ser provavelmente os mais afetados», reconhece David Malpass, presidente da instituição. As equipas do Banco Mundial estão também a trabalhar para rapidamente redistribuir mais 1,7 mil milhões de dólares de projetos existentes para colaborar na recuperação. Os primeiros esforços destinam-se aos sistemas de saúde, para que estas entidades consigam enfrentar os desafios causados pela Covid-19. Exemplo disso é a aplicação desses fundos em países como o Haiti e a Índia, para financiar mais equipas médicas e assegurar que os profissionais estão bem treinados e equipados para cumprir o serviço de atendimento de urgências. Em países como o Equador e o Quirguistão, os fundos vão garantir a divulgação de mensagens de prevenção para os cidadãos, a curto e médio prazo. Já na Etiópia e noutros países, o aumento dos recursos para lutar contra a pandemia também vai apoiar os esforços a longo prazo, que fortalecem a capacidade do sistema nacional de saúde. No Paquistão, a ajuda do Banco Mundial será fundamental para tornar possível a aprendizagem remota para 50 milhões de crianças para as quais as escolas estão fechadas, para fornecer alimentos básicos a 40 mil pessoas que estarão em confinamento por um período até seis meses e ainda para preparar os profissionais de saúde para que estes possam vigiar e prevenir a violência de género nas famílias em quarentena. Além da contribuição do Banco Mundial, o financiamento de emergência inclui 8 mil milhões de dólares da International Finance Corporation (IFC) que está auxiliar o sector privado a combater a pandemia. A experiência de choques anteriores mostra que manter as empresas em funcionamento é crucial para salvar postos de trabalho e limitar prejuízos económicos. Deste modo, muitos dos esforços do Banco Mundial estão direcionados para a proteção de pequenas empresas para que estas possam continuar a contribuir para o crescimento e emprego em muitos países. Para completar a assistência direta a Governos e empresas privadas, o Banco Mundial está focado na resolução de perturbações nas cadeias de aprovisionamento globais, de modo a que os países possam ter acesso a produtos médicos essenciais.