Breves

  1. Novo coronavírus «paralisa» indústria de algodão
  2. Primark cria fundo para garantir salários
  3. Levi Strauss assegura direitos dos trabalhadores
  4. Avery Dennison tem novos fixadores sustentáveis
  5. Debenhams luta pela sobrevivência
  6. Covid-19 inspira Copenhagen Fashion Summit 2020

1. Novo coronavírus «paralisa» indústria de algodão

O impacto final do novo coronavírus na indústria de algodão e têxtil é incerto, mas, tal como acontece com a economia, o sector tem sido afetado pela pandemia, afirma o International Cotton Advisory Committee (ICAC) num novo estudo. Com o número de encomendas canceladas pelas marcas e retalhistas a aumentar, são cada vez mais os produtores de tecidos da Ásia em crise financeira, aponta o ICAC. «Ainda não sabemos qual será o impacto definitivo do Covid-19 na indústria de algodão, mas a pandemia gerou rapidamente incerteza em todos os elos da cadeia de aprovisionamento global», refere o relatório. «Milhões de pessoas estão em autoisolamento e os negócios de algodão e têxteis estão praticamente paralisados», acrescenta. Devido ao facto de muitas empresas terem sido aconselhadas a fechar tendo em conta a emergência de saúde pública, a atividade das fábricas e das cadeias de aprovisionamento asiáticas desaceleraram, à medida que os pedidos diminuíram ou foram cancelados e, segundo o estudo, o cenário pode «piorar» nos próximos meses. O ICAC replica as previsões de economistas de que os impactos iniciais do Covid-19 no PIB em muitas das principais economias sejam significativos. A projeção atual de preços do Cotlook A Index, um indicador da média mundial de preços de algodão, no final do exercício de 2019/2020 é, este mês, de 73,5 cêntimos de dólar por libra. Para 2020/2021, a primeira projeção de preços do ICAC é de 64 cêntimos de dólar por libra. Na semana que terminou a 26 de março, o preço médio do algodão nos EUA foi de 47,81 cêntimos de dólar por libra, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA, um valor que representa a menor média desde a semana que terminou a 23 de abril de 2009, com uma média de 46,19 cêntimos de dólar por libra. A média semanal desceu em comparação com 52,58 cêntimos de dólar na semana anterior e com 71,47 cêntimos de dólar no ano antes. O relatório “Prospective Plantings Report” de março do Departamento de Agricultura dos EUA indica que os produtores americanos pretendem plantar cerca de 55 mil metros quadrados de algodão em 2020/2021, o que se traduz numa redução de 0,3% em comparação com a época anterior.

2. Primark cria fundo para garantir salários

A retalhista de moda britânica criou um fundo para cobrir a componente salarial das encomendas que cancelou no Bangladesh, Camboja, Índia, Myanmar, Paquistão, Sri Lanka e Vietname por causa da pandemia do novo coronavírus. A Primark, detida pela Associated British Foods (ABF), tem sido alvo de críticas nos últimos tempos por cancelar todos os pedidos aos fornecedores, depois de ter tomado a decisão de encerrar todas as lojas a 22 de março. A retalhista, que está a perder, mensalmente, vendas no valor de aproximadamente 650 milhões de libras (cerca de 740 milhões de euros) devido ao encerramento das lojas, pediu aos fornecedores que interrompessem a produção, uma vez que detinha já 1,6 mil milhões de libras de stock pago em trânsito, nos armazéns e nas lojas. A Primark afirma ter oferecido condições de pagamento alargadas aos fornecedores de modo a que fosse possível receber e pagar pelas mercadorias já prontas para envio, ressalvando o facto de que «nada está a ser vendido enquanto as lojas continuarem fechadas». Num comunicado divulgado a 3 de abril, a Primark revelou estar preocupada com o impacto da decisão nos trabalhadores envolvidos na produção de encomendas futuras, que agora não vão ser realizadas, e, como tal, vai financiar os salários dos trabalhadores relacionados com esses pedidos, tendo em consideração ajustes de acordo com os pacotes de medidas implementados pelos governos de cada país. A ação da retalhista vai cobrir as encomendas do Bangladesh, Camboja, Índia, Myanmar, Paquistão, Sri Lanka e Vietname, assegurando mecanismos que garantam que o dinheiro chegue efetivamente aos trabalhadores. Nas últimas duas semanas, a Primark tem trabalhado com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) de modo a colaborar com os governos, instituições financeiras internacionais, bancos de desenvolvimento e outras entidades para disponibilizar financiamento a médio e longo prazo para pagar os salários e benefícios dos trabalhadores, juntamente com o apoio económico à indústria de vestuário. «Cada uma das nossas lojas em todo o mundo estão encerradas. Com muito stock nas lojas, em armazéns e em trânsito, tivemos de tomar a decisão muito difícil de cancelar encomendas para stock futuro. Encontrar uma forma de assegurar que os trabalhadores na nossa cadeia de aprovisionamento nestes países são pagos tem sido uma prioridade nas últimas duas semanas e estamos satisfeitos por este fundo poder ser uma ajuda para esses trabalhadores», aponta Paul Marchant, CEO da Primark. «O nosso foco agora é trabalhar com os fornecedores, as fábricas, sindicatos e associações não-governamentais para assegurar que os salários relativos às encomendas que cancelamos são pagos aos trabalhadores», acrescenta. «São tempos sem precedentes que exigem ações sem precedentes. Estamos satisfeitos por ver a Primark empenhada na redução do impacto do Covid-19 nas cadeias de aprovisionamento mais vulneráveis. Esta ação vai permitir que a Primark e os seus fornecedores, ao trabalhar em conjunto, apoiem os trabalhadores e enfrentem esta tempestade global», afirma Rosey Hurst, fundadora e diretora da consultoria britânica Impactt.

3. Levi Strauss assegura direitos dos trabalhadores

A gigante Levi Strauss & Co vai apoiar os trabalhadores das respetivas cadeias de aprovisionamento de vestuário como parte de um compromisso de 3 milhões de dólares (aproximadamente 2,8 milhões de euros) para mitigar o impacto do novo coronavírus. Chip Bergh, presidente e CEO da Levi Strauss & Co, afirmou que a Levi Strauss Foundation (LSF) está a trabalhar com organizações parceiras de vários países fornecedores para combater o impacto causado pelo Covid-19 nas cadeias de aprovisionamento de vestuário. Isso vai ainda incluir uma série de subsídios focados no apoio à saúde pública e segurança alimentar para os trabalhadores das fábricas, especificamente para as mulheres que são «as mais vulneráveis a choques económicos». Segundo Chip Bergh, «também estamos a trabalhar com as partes interessadas do sector para explorar opções de uma resposta coletiva de modo a apoiar os trabalhadores durante esta crise. Temos um longo historial de aprendizagens para melhorar o bem-estar dos trabalhadores e vamos continuar a fazê-lo neste momento. Nenhuma empresa vai ser capaz de combater o impacto desta crise, mas juntos podemos fazer a diferença». Os esforços de mitigação estarão focados nos funcionários da Levi Straus, nos parceiros das comunidades e nos trabalhadores das cadeias de aprovisionamento e vão apoiar as organizações na frente da batalha, incluindo os Médicos Sem Fronteiras e o Fundo de Ação Urgente dos Direitos da Mulher que estão a ajudar as comunidades mais vulneráveis. Além da primeira distribuição de mais de 15 subsídios, a LSF vai continuar a dar apoio aos beneficiários atuais e prepara-se para ajudar a cadeia de aprovisionamento global da Levi Strauss. A empresa vai ainda auxiliar o combate da pandemia de Covid-19 e solucionar a escassez de equipamento de proteção individual com a doação de máscaras para garantir a segurança dos profissionais que trabalham nos hospitais de todo o mundo (quase dez mil máscaras até ao momento). Chip Bergh anunciou ainda que os funcionários de toda a empresa se voluntariaram para costurar máscaras para médicos que não lidam diretamente com suspeitos do vírus e para outros membros da comunidade que estão expostos a situações de menor risco.

4. Avery Dennison tem novos fixadores sustentáveis

A Avery Dennison Fastener Solutions desenvolveu uma nova gama de fixadores de etiquetas sustentáveis a partir de resíduos de plástico proveniente de garrafas e tapetes reciclados. A linha Ecotach tem como objetivo atender às necessidades dos retalhistas de vestuário ambientalmente conscientes e das marcas e consumidores que desejem reduzir a pegada ecológica. Os fixadores de polietileno tereftalato (PET) têm pelos menos 90% de resíduos pós-consumo de garrafas de plástico recicladas, enquanto os fixadores de poliamida reciclada usam pelo menos 70% de resíduos pós-consumo de tapetes reciclados. Os fixadores de poliamida reciclado Ecotach foram certificados pela SCS Global Services e permitem que as marcas e retalhistas promovam a linha como reciclada junto dos consumidores. «A Avery Dennison é a primeira a comercializar um fixador de resíduos pós-consumo com a aprovação de terceiros», afirma Dan Riendeau, diretor sénior de marketing do departamento de Fastener Solutions da Avery Dennison. Os fixadores de etiquetas de poliamida reciclada estão disponíveis em comprimentos de 1,3 e 5 centímetros em cinzento escuro e claro e os fixadores de polietileno tereftalato estão disponíveis em bobinas de 13 cores padrão que podem ser combinadas com o Pantone mediante solicitação.

5. Debenhams luta pela sobrevivência

A retalhista britânica de grandes armazéns Debenhams poderá estar, pela segunda vez, em gestão administrativa para proteger a empresa dos credores durante a pandemia de Covid-19. A empresa poderá submeter um pedido para nomear novos administradores na próxima semana, com a consultora KPMG a figurar entre as entidades que possivelmente irão gerir o processo, segundo uma notícia da Sky News de 3 de abril. Contudo, a Sky News revelou que a decisão de nomear administradores não foi implementada e um cenário diferente é ainda uma opção. «Como todos os retalhistas, a Debenhams está a fazer planos de contingência que refletem as circunstâncias extraordinárias atuais. Os nossos proprietários e credores permanecem altamente solidários e quaisquer ações que possamos tomar serão para proteger os negócios durante a situação atual. Mesmo que as nossas lojas permaneçam fechadas, seguindo as orientações do governo, e a maioria dos nossos colegas de loja estejam em lay-off, o site continuar a vender», afirma um porta-voz da Debenhams. O grupo de retalho, que emprega cerca de 22 mil colaboradores, entrou em administração em abril do ano passado. Pouco tempo depois, a nova proprietária, a Celine Jersey Topco Limited, lançou um acordo voluntário. A Debenhams enviou um pedido aos senhorios das lojas para uma pausa de cinco meses no pagamento da renda devido ao surto de coronavírus e reduções no arrendamento a longo prazo para apoiar a reestruturação da liquidez. Para Sofie Willmott, analista da GlobalData, a entrada em administração vai apenas «prolongar o inevitável». «Colocar a Debenhams em administração pela segunda vez em 12 meses vai deixar a situação em aberto por agora, libertando-a das dívidas, mas, no final de contas, os proprietários estão apenas a adiar o fim e o futuro a longo prazo continua sombrio. Com a improbabilidade de investimentos significativos adicionais, torna-se difícil ver o que vai atrair os consumidores de volta depois da reabertura das lojas», sustenta. «A cadeia de grandes armazéns já estava com problemas antes da pandemia e a mudança acentuada nos hábitos de compra do consumidor só vai acelerar as mutações invitáveis no mercado do Reino Unido. Os retalhistas mais fracos sem um único ponto de venda vão desaparecer, com muitos incapazes de sobreviver este ano», conclui. Nigel Frith, analista de mercado sénior da asktraders, concorda que a Debenhamns já estava numa fase «muito instável» antes do surto de coronavírus. «Depois de 242 anos nas ruas, há a probabilidade de que muitos, se não todos os grandes armazéns, não voltem a abrir depois do encerramento do Reino Unido. O que estamos a ver é simples: se a empresa estava numa posição fraca, com o isolamento do coronavírus, a probabilidade de não sair deste panorama é ainda maior. Nos últimos anos, os negócios online e a fast fashion prosperaram, enquanto marcas mais tradicionais lutam para se transformar», explica. «Até agora ainda não estamos na fase de administração, mas é definitivamente uma opção em cima da mesa para proteger a Debenhams durante o surto de coronavírus de reivindicações legais de credores aos quais deve dinheiro. A próxima semana será uma semana definitiva para a Debenhams», conclui o analista.

6. Covid-19 inspira Copenhagen Fashion Summit 2020

Os organizadores da Copenhagen Fashion Summit estão a planear focar o evento, adiado para outubro, nas formas como a pandemia do novo coronavírus está a transformar a indústria da moda. Com o tema “’Redesigning Value: How do we define value in fashion post-crisis?’”, a Copenhagen Fashion Summit previsto para maio tem já data marcada de 12 a 13 de outubro e, desta vez, o objetivo é analisar a realidade atual e futura da indústria da moda face à crise económica e de saúde global. Nesta edição, vão ser explorados os impactos negativos do sector, que se tornaram mais visíveis nas últimas semanas e meses. «Durante este período desafiante, tive a oportunidade de falar com muitos líderes do sector sobre as dificuldades que enfrentam atualmente e como será o futuro depois desta pandemia», afirma Eva Kruse, CEO da Global Fashion Agenda, entidade responsável pela organização da Copenhagen Fashion Summit. «Esta crise forçou a quarentena para o mundo e, consequentemente, quarentena no consumo, levantando a questão de como isto vai impactar o universo da moda no rescaldo. Agora é tempo de pensar nos alicerces que sustentam o valor do nosso sistema de moda para podermos estimular mudanças positivas e duradouras para toda a indústria e planeta», explica. Na perspetiva da Global Fashion Agenda, o redesenho do valor vai fazer que os atores do sector criem negócios mais resilientes, com práticas sustentáveis, para o núcleo de modelos de negócios. «Ao reavaliar como podemos fortalecer as nossas relações com os parceiros das cadeias de aprovisionamento, com os nossos próprios trabalhadores e também com os nossos clientes, podemos ajudar as marcas a descobrir um novo propósito e uma vontade de ressurgir, por outro lado, mais resistentes do que nunca», conclui a CEO.