- Coronavírus quebra vendas da Inditex
- Hugo Boss lança primeiro fato vegan
- Li & Fung recebe oferta para privatização
- Sateri cria viscose com resíduos têxteis
- Calçado do Camboja afetado pela UE
- Vestir pode libertar mais microfibras do que lavar
1. Coronavírus quebra vendas da Inditex
A Inditex registou um custo com inventário de 287 milhões de euros, acumulado devido ao surto do novo coronavírus, que provocou uma queda de 24,1% nas vendas em loja e online nas primeiras duas semanas de março. As vendas de fevereiro geralmente representam cerca de 6% do total anual do grupo e as de março significam 7%. Até ao dia 17 de março, a Inditex tinha fechado temporariamente 3.785 lojas em 39 mercados, numa tentativa de controlar a propagação do vírus. Apesar disso, o grupo registou um aumento de 6% no lucro líquido, para 3,64 mil milhões de euros, e os resultados anuais, cuja contabilização termina a 31 de janeiro, evidenciam um aumento das vendas de 8%, para 28,29 mil milhões de euros, relativamente ao ano anterior, sustentado por um crescimento em todas as marcas e em todas as geografias nas quais a Inditex está presente. Só em Espanha, que representa 15,7% do total, assistiu-se a uma subida de vendas de 4,6%. A empresa faz 46% das suas vendas na Europa, excluindo Espanha, 22,5% na Ásia e resto do mundo e 15,8% nas Américas. Por outro lado, houve um crescimento de 23% nas vendas da plataforma online, para 3,9 mil milhões de euros, que representa atualmente 14% do total de vendas. O presidente executivo Pablo Isla explica que «a Inditex está a demonstrar, através destes resultados, a solidez do modelo de negócios e da folha de balanços, constituindo-se como uma prova do trabalho árduo e da dedicação de todos os profissionais que fazem parte desta empresa». Pablo Isla frisa ainda que «graças à resposta unida que estamos a aplicar nos vários países e cidades afetados, estamos confiantes de que juntos superaremos esta situação». O grupo também decidiu adiar uma deliberação sobre o pagamento de dividendos de 2019. A Inditex afirma que, embora seja muito cedo para quantificar o impacto futuro da pandemia nas operações de 2020, é necessário monitorizar de perto os desenvolvimentos. «Temos a máxima confiança no nosso modelo de negócio e nas suas perspetivas de longo prazo. A situação atual, causada por fatores externos e temporários, não altera a nossa visão para o nosso modelo de negócio nem os fundamentos e o potencial de crescimento», reforça o executivo.
2. Hugo Boss lança primeiro fato vegan
A marca alemã de moda de luxo lançou o primeiro fato masculino sem produtos de origem animal, o que conferiu ao artigo da Hugo Boss o certificado PETA-Approved Vegan. Lançado como parte integrante da coleção primavera-verão, a equipa de design da marca garantiu que o fato fosse produzido exclusivamente a partir de materiais não animais, incluindo corantes, colas ou substâncias químicas. Feito de linho italiano certificado, o fato está disponível na loja online da marca em bege, azul escuro e preto. O certificado vegan da PETA foi criado em 2013 para ajudar as empresas a mostrarem o vestuário, acessórios e mobiliário feitos apenas com materiais vegan para que os consumidores pudessem facilmente identificar os produtos sem origem animal. Mais de mil marcas e designers de todo o mundo já tiveram os produtos ou coleções certificados pela PETA, incluindo a Zalando, Topshop, Dr.Martens e Esprit. A organização dos direitos dos animais diz que a maioria dos fatos premium são feitos com materiais de origem animal, como lã, crina de cavalo ou seda, implicando ainda o sofrimento dos mesmos. Com esta alternativa, a Hugo Boss espera que outras marcas de moda sigam os mesmos passos. «À medida que a procura por moda produzida eticamente continua a aumentar, aplaudimos a Boss por ser a primeira marca premium conhecida a nível mundial a estabelecer este marco no vestuário masculino vegan», afirma Elisa Allen, diretora da PETA. «Os consumidores compassivos podem agora escolher um design que não seja apenas moda, mas também sustentável e cruelty-free», completa. De acordo com o site da Hugo Boss, a produção do fato, feito na Alemanha, surge como resultado do compromisso da Hugo Boss de encontrar formas mais sustentáveis de produzir os seus produtos. Já em 2018, a marca tinha criado, com o mesmo objetivo, sapatos com Piñatex, um material natural feito a partir das fibras das folhas de ananás.
3. Li & Fung recebe oferta para privatização
A gigante de logística e aprovisionamento global Li & Fung recebeu uma oferta no valor de cerca de 870 milhões de euros proveniente de um grupo controlado pela família fundadora Fung para tornar a empresa privada. A proposta surge no seguimento da Li & Fung estar a ser afetada pela guerra comercial entre os EUA e a China e pela pandemia global do novo coronavírus. A oferta tem um valor de 0,15 euros por ação e é da Golden Lincoln Holdings, cujos acionistas pertencem à família Fung, os fundadores e acionistas maioritários da Li & Fung, com sede em Singapura. A Golden Lincoln Holdings é controlada pela família Fung, que detém 60% das ações com direito de voto, e pela GLP, que tem os 40% restantes das ações com direito de voto e 100% das ações sem direito de voto, o que se traduz numa propriedade económica efetiva de 67,67%. No dia 20 de março, a Li & Fung anunciou uma queda de 10,1% nas receitas anuais, para 10,66 mil milhões de euros, enquanto o lucro operacional caiu 22,9%, para 213,14 milhões de euros. A empresa aponta o decréscimo de clientes, o encerramento de lojas, a falência de negócios bem como a saída da empresa de vários clientes de alto risco e de ativos não estratégicos como as principais razões para a queda registada no volume de negócios. «Estamos a trabalhar 24 horas com os nossos clientes e fornecedores durante este período de profunda incerteza. As nossas equipas de todo o mundo estão a apoiar ativamente os clientes da mesma forma que fizemos durante a guerra comercial dos EUA e da China de modo a ajudar a solucionar as interrupções dos negócios», afirma Spencer Fung, CEO do grupo Li & Fung, relativamente à pandemia do coronavírus. De acordo com o CEO, o objetivo de criar a «cadeia de aprovisionamento do futuro» permanece mais relevante do que nunca dada a «contínua mudança tecnológica exponencial» que ocorre no sector de retalho. «Vamos elevar ainda mais o nosso sentido de urgência face à agilidade e execução em tudo o que fazemos», completa Joseph Phi, presidente do grupo. «Quer seja a responder a uma solicitação do cliente, introduzindo melhorias de processo ou a dinamizar a nossa estratégia, estamos a concentrar-nos no que chamamos a «urgência do agora» para fazer as coisas acontecerem de maneira mais rápida e eficiente».
4. Sateri cria viscose com resíduos têxteis
A produtora chinesa de viscose Sateri afirma ter produzido à escala comercial uma nova fibra de viscose regenerada a partir de resíduos têxteis. A nova fibra utiliza uma mistura de pasta feita com resíduos têxteis pós-consumo reciclados da empresa sueca Södra e outras pastas de madeira certificadas com o PEFC – Programme for the Endorsement of Forest Certification (Programa para o Reconhecimento da Certificação Florestal). Testada na fiação Linz Nanjng da Sateri utilizando as tecnologias avançadas Siro Compact e Vortex, a nova fibra é compatível com as tecnologias de fiação pré-existentes, garantindo uma produção estável de fios sem a necessidade de ajustar processos ou parâmetros. A fibra possui ainda uma «excelente» eficiência na fiação e proporciona uniformidade e tenacidade ao fio, segundo a Sateri. «A tecnologia para regenerar resíduos têxteis em novas fibras celulósicas é emergente e tecnicamente desafiante, mas, nos últimos meses, a nossa equipa de pesquisa e desenvolvimento trabalhou arduamente para alcançar o equilíbrio certo entre a produção de um produto de viscose reciclada e a alta qualidade», declara Allen Zhang, presidente da empresa. «A nossa capacidade para fazer isso ao usar uma linha de produção comercial de 35 mil toneladas por ano é um avanço, porque quer dizer que agora estamos prontos e capazes de aumentar a produção de forma a responder à procura do mercado. Vemos isso como uma vitória tanto para o meio ambiente como para os nossos clientes», acrescenta. A Sateri, subsidiária da Royal Golden Eagle (RGE), opera em cinco fábricas na China (Sateri Fujian, Sateri Jiangxi, Sateri Jiujiang, Sateri Jiangsu e Sateri China), que têm uma capacidade de produção anual de cerca de 1,4 milhões de toneladas. Em outubro do ano passado, a Royal Golden Eagle anunciou ter planos para investir aproximadamente 187 milhões de euros durante os próximos dez anos em pesquisa e desenvolvimento de fibra têxtil celulósica. A Sateri está a trabalhar com vários produtores de celulose solúvel que usam diversas tecnologias inovadoras de modo a progredir para uma bioeconomia circular. A empresa vai colaborar com alguns clientes de fio, marcas e fabricantes de vestuário para comercializar e lançar oficialmente a fibra reciclada para o mercado nos próximos meses.
5. Calçado do Camboja afetado pela UE
A indústria de calçado do Camboja expressou «desapontamento» pela decisão da UE de suspender parcialmente o benefício de comércio de que o país usufruía, descrevendo a decisão como «um revés dramático» para o sector. A ação da Comissão Europeia significa que a partir de meados de agosto, alguns produtos de calçado, vestuário e todos os bens de viagem do Camboja vão ser taxados à taxa de Nação Mais Favorecida da Organização Mundial de Comércio (OMC). A retirada de benefícios a cerca de um quinto ou mil milhões de euros das exportações anuais do Camboja para a UE e será efetivo a partir de 12 de agosto. Também representa a retirada de cerca de 30% das exportações de calçado do país para a UE. «Suspender os benefícios do regime especial “Tudo Menos Armas” para produtos de calçado do Camboja irá resultar em grandes perdas de postos de trabalho na indústria e vai prejudicar consideravelmente a força de trabalho do sector, colocando o risco do regresso à pobreza para dezenas de milhares dos nossos trabalhadores e as muitas dezenas de milhar de familiares que dependem dos nossos trabalhadores», afirma Ngoun Channara, vice-secretário-geral da Associação de Calçado do Camboja. A indústria de calçado do Camboja inclui cerca de 120 fábricas, com mais de 150 mil trabalhadores. Em 2018, o Camboja exportou cerca de 675 milhões de euros em calçado para a UE, representando mais de 12% do total de exportações para a UE, no valor de 5,36 mil milhões de euros. O Camboja é o quinto maior fornecedor de calçado, em termos de valor, para a UE, a seguir à China, Vietname, Indonésia e Índia. «Esta retirada parcial do regime “Tudo Menos Armas” irá atrasar o desenvolvimento no nosso sector e minar os avanços feitos na melhoria das condições laborais na indústria de calçado. Com efeito, é claro que a decisão da UE de retirar parcialmente as preferências não é consequência das preocupações com os direitos dos trabalhadores ou falta de cumprimento no nosso sector, mas outras questões à margem do sector do calçado. Infelizmente, a UE impôs uma retirada desproporcional e punitiva ao nosso sector sem qualquer explicação», considera a Associação de Calçado do Camboja. «Esperamos que a UE reconsidere a altura da sua decisão face ao desafio extraordinário [o impacto do Covid-19] que o Camboja e outros países da região enfrentam», acrescenta a associação, apelando a que a UE «não proceda com a sua implementação».
6. Vestir pode libertar mais microfibras do que lavar
Um novo estudo revela que usar uma determinada peça de roupa pode libertar maiores quantidades de microfibras para o meio ambiente do que o processo de lavagem. Cientistas do Instituto de Polímeros, Compósitos e Biomateriais do National Research Council de Itália e da Universidade de Plymouth compararam o número de fibras libertadas durante a lavagem e durante a utilização de quatro peças de vestuário de poliéster diferentes. Os resultados mostraram que até quatro mil fibras por grama de tecido podem ser libertadas durante uma lavagem dita convencional, comparativamente com um máximo de 400 fibras por grama de tecido que podem ser expelidas por cada peça de vestuário durante um período de 20 minutos. Em valores ampliados, as conclusões do estudo desvendaram que uma pessoa pode libertar quase 300 milhões de microfibras de poliéster por ano para o meio ambiente ao lavar a roupa e mais de 900 milhões simplesmente ao usá-la. Houve ainda diferenças «significativas» nestes valores, dependendo da forma como cada artigo foi confecionado, o que leva os especialistas a concluir que o modo de fabricar a peça e o design têm um papel crucial na prevenção para controlar a emissão de microfibras para o meio ambiente. «Recentemente, foram gerados mais indícios face à presença de microfibras sintéticas não só em meio aquático, mas também na atmosfera», declara Francesca de Falco, investigadora do IPBC-CNR e autora principal do estudo. «Por isso é que decidimos divulgar estas experiências para estudar a libertação de microfibras das peças de vestuário para os dois meios. Este tipo de poluição deve ser combatido na origem, o próprio tecido, mas investigamos a influência de diferentes parâmetros têxteis na libertação. Os resultados mostraram que os têxteis com uma estrutura muito compacta, com fios altamente torcidos e compostos por filamentos contínuos, podem libertar menos microfibras tanto para o ar como para a água», explica. A pesquisa publicada na revista Environmental Science and Technology incidiu sobre quatro peças de roupas diferentes que foram submetidas a uma lavagem de 40ºC que permitiu a recolha de qualquer fibra libertada. Durante uma única lavagem, podem ser libertadas ente 700 e 4.000 fibras por grama de tecido. A experiência focada em movimentos físicos feitos na rotina do quotidiano revelou que as peças de poliéster e algodão tiveram a maior libertação durante o uso e durante a lavagem, enquanto as peças exclusivamente de poliéster tiveram a menor quantidade de microfibras. No entanto, com base nos resultados gerais, os especialistas dizem que as estimativas anteriores de poluição por microplásticos subestimaram a importância dos têxteis sintéticos por não terem considerado as quantidades soltas diretamente para o ar. «O mais importante é que a emissão de fibras ao usar a roupa provavelmente tem uma magnitude semelhante à da lavagem», completa o professor Richard Thompson, diretor da Unidade Internacional de Pesquisa de Poluição Marinha da Universidade de Plymouth e autor sénior do estudo. «Isto constitui uma libertação direta substancial não quantificada para o meio ambiente. Os resultados também mostraram que o design têxtil pode ter uma grande influência. É uma mensagem crucial que destaca a importância do design sustentável para a indústria da moda. Na verdade, muitas das temáticas atuais associadas aos impactos ambientais dos artigos de plástico surgem do pensamento holístico na etapa de design», conclui.