A empresa liderada por Francisco Batista foi uma das que decidiu, durante o ano passado, avançar para a produção de EPIs, depois da redução de encomendas do seu core business, direcionado para vestuário formal. «Em meados de abril começamos a reagir, começamos a perceber que, não havendo as encomendas de vestuário que tradicionalmente tínhamos, e que estavam em suspenso, tínhamos que nos fazer à vida, por assim dizer», explica o CEO da CBI.
Quando foi lançado o «programa de apoio à reconversão de algumas empresas para os EPIs e para os dispositivos médicos, fizemos uma candidatura, reconvertendo uma das fábricas, em Arganil. Mas claro que estes projetos não se fazem de um dia para o outro. Entre iniciar o projeto e a aprovação da candidatura, já estávamos quase numa fase de pós-pandemia», conta ao Portugal Têxtil.
Ao mesmo tempo que trabalhou em parceria com várias outras empresas portuguesas, como na produção da máscara desenvolvida pela Adalberto e vendida pela MO, a empresa criou condições para produzir dispositivos médicos em total conformidade, estando certificada, «tanto pelo CITEVE como pelo Infarmed», para fabricar e comercializar diversos tipos de máscara, incluindo as IIR. «Montei uma linha de EPIs para dispositivos médicos, onde tem sala branca, climatização, tudo preparado para que possa produzir dispositivos médicos em condições adequadas», revela Francisco Batista.

O negócio, contudo, acabou por enfrentar distintos problemas, sobretudo pela concorrência do mercado asiático. «Uma máscara dessas [IIR], que se chegou a vender a 1 euro, hoje vende-se a 0,03 e a 0,04 euros. Qualquer indústria em Portugal que as venda a esse preço está a perder dinheiro, mas lá está, vem um contentor com este material dentro, sabe-se lá de onde nem em que condições, e importam a um cêntimo e meio ou dois e podem vendê-las a três ou a quatro. Quer dizer que o Estado investiu dinheiro, mas não houve uma política que criasse condições, que salvaguardasse a qualidade e a concorrência leal», aponta o CEO da CBI.
Por isso mesmo, a reconversão da Amma não teve o impacto inicialmente projetado. «Esperava efetivamente, com o investimento que fizemos, que neste momento praticamente 30% a 40% da atividade da empresa fosse a produzir esse tipo de produtos, mas infelizmente nem 10%», admite Francisco Batista.
Caminhos para o futuro
Com um total de cerca de 700 trabalhadores diretos – 320 na CBI, 170 na Amma e 200 em Cabo Verde –, o universo de empresas da CBI, que exporta cerca de 95% da produção, continua a apostar nos seus clientes tradicionais de gama média-alta, tanto de homem como de senhora, dispersos pela Europa, onde se destaca a Massimo Dutti, e pelos EUA, para o qual produz blazers, casacos, calças sport e chinos nas diferentes unidades. «Na maior parte dos casos, desenvolvemos tudo, desde o molde até pôr a etiqueta do preço para vender na loja. Não somos uma empresa meramente prestadora de mão de obra. Tentamos ser uma mais-valia no desenvolvimento do produto», salienta o CEO.
Um serviço completo que permitiu à CBI lidar com a queda das vendas no mercado e ter uma redução no volume de negócios inferior ao que seria expectável, considera Francisco Batista. «A quebra [só na CBI] foi na ordem dos 20% a 30%. O ano passado tivemos 18 milhões de euros de volume de negócios e o normal teria sido entre os 22 e os 25 milhões de euros», indica. «Se houve baixas de 70% ao nível de vendas físicas e nós tivemos baixas entre os 20% e os 30% – nós e grande parte dos nossos colegas –, é sinal de que ainda conseguimos manter uma relação muito boa com os clientes. Agora, este ano, é uma incógnita», assume o CEO, que espera uma retoma «quando a pandemia estiver controlada».
Com investimentos contíuos para manter o parque de máquinas atualizado, a empresa está também a dar passos na sustentabilidade, tendo já diversas certificações– como a GOTS e OCS. «Estamos também a pensar em propor alguns parceiros de matérias-primas, com tecidos feitos a partir de materiais recicláveis, para fugirmos às fibras que não têm a ver com sustentabilidade, tanto animal como ecológica», afirma.

Em stand-by está, para já, a marca Carlo Viscontti – aquirida juntamente com a Amma –, que se mantém à espera de uma conjuntura mais favorável para o relançamento, embora Francisco Batista seja contra grandes projeções para o futuro. «Nunca fiz muita futurologia porque nunca sabemos o que nos pode acontecer. E a prova está aqui [na pandemia]… Agora há uma coisa que fiz sempre, que foi ter o otimismo necessário e a capacidade de estarmos sólidos e preparados. Foi o que fizemos e fomos reagindo conforme a adversidade», reconhece. E é, por isso mesmo, que o empresário está atento e não descarta uma mudança radical no negócio. «Temos que ter a capacidade de nos reinventarmos», sublinha o CEO, que apela, por isso, a uma mudança na legislação de recuperação de empresas, «que permita às empresas poderem adaptar-se, sem ficarem numa situação financeira frágil, para poderem seguir outro caminho».
Quanto à CBI, «enquanto houver estrada para andar, vamos continuar, vamos tentando encontrar caminhos que nos levem a algum lado. Não vamos desistir à primeira», garante Francisco Batista.