Aprovisionamento em modo inteligente

Desde o cancelamento de encomendas às montanhas de stock, foram vários os desafios que as marcas de vestuário e as respetivas cadeias de aprovisionamento tiveram de enfrentar com o Covid-19. Para responder a este problema, repensar a forma como operam e criar novos modelos de negócio mais inteligentes revelou ser a solução das empresas.

[©Bearing News]

Com a chegada da pandemia, as adversidades que a indústria da moda sofreu foram incalculáveis. O encerramento de lojas, a acumulação de stock graças ao cancelamento de pedidos, a falta de matérias-primas são algumas das problemáticas que descrevem o cenário vivido pelas empresas durante a situação sem precedentes, o que levou vários negócios a fechar portas e a emergir com outras perceções e formas de trabalhar em função da nova realidade.

Também os hábitos de compra mudaram drasticamente na Europa e nos EUA, uma vez que a interrupção causada pelo Covid-19 fez crescer as vendas online, o que pressionou simultaneamente as retalhistas para oferecerem um serviço mais personalizado, com novas experiências, mais atualizado e ainda com prazos de entrega menores de modo a que pudessem ser mais responsivas às necessidades dos novos consumidores.

As ferramentas de digitalização, arquivo e análise estão a ajudar as empresas a verem para lá da crise, com o objetivo de assegurar uma vantagem competitiva, obter melhores perceções no que diz respeito ao comportamento de compra do consumidor e prever tendências com mais precisão, além de desempenharem um papel crucial na maior agilidade dos negócios. Blockchain e RFID estão também a ser soluções adotadas pelas empresas para melhorar a transparência das cadeias de aprovisionamento, a realidade virtual e aumentada está a ser aplicada para melhorar a privacidade e o 3D para acelerar o tempo de comercialização no mercado, reduzindo custos, o que se tornou fundamental para a sustentabilidade e economia circular, noticia o just-style.

Modelos circulares

A indústria da moda continua a ultrapassar os limites da sustentabilidade, à medida que a circularidade se converte numa prioridade para as empresas que começam a ver para além do atual modelo de negócio descartável, focando-se mais, neste sentido, no fim de vida do produto. Eliminar resíduos e poluição, manter os produtos e materiais em utilização e regenerar sistemas naturais são os três princípios que alicerçam uma economia circular e são sinónimo de oportunidades para as marcas, tendo em conta que os consumidores têm cada vez mais aversão a modelos de negócio com desperdício.

Novetex [©Ecotextile News]
Como exemplo desta evolução, a fiação Novetex Textiles, sediada em Hong Kong, está a contribuir para a expansão do processo de reciclagem mecânica que combina tecnologias, tanto novas como atuais, para produzir fibras recicladas a partir de resíduos têxteis. Este sistema não consome água, não emite efluentes nem produz resíduos químicos. As fibras recicladas são enviadas para as instalações da Novetex, onde são misturadas com fibras virgens com o objetivo de assegurar uma melhor qualidade na produção de vestuário, antes de serem transformadas em fio.

Customização

Com as empresas a reavaliarem os processos das grandes produções e os consumidores a quererem cada vez mais informações sobre a roupa que compram e vestem, o interesse em substituir o fabrico em massa pela customização é crescentemente notório. Com esta prática, a produção para as marcas e retalhistas é mais eficiente, gerando um menor armazenamento de mercadorias e, consequentemente, uma redução indireta dos custos.

PolyJet (Stratasys)[©Javelin Technologies]
A Stratasys, empresa de impressão 3D, adotou a sua nova tecnologia PolyJet para tornar o design de moda customizado comercialmente viável. Com a customização é ainda possível personalizar e adaptar facilmente os tamanhos das digitalizações 3D ao utilizador.

Produzir o necessário

Optar pela produção on-demand, em que é só produzido aquilo que é necessário, permite que os fabricantes e as marcas construam cadeias de valor mais ágeis e flexíveis, o que provoca a redução de desperdícios, custos iniciais e de stock, não requerendo, por isso, armazenamento. Deste modo, a produção on-demand é uma solução económica e sustentável de produção.

OnPoint Manufacturing [©OnPoint Manufacturing]
Mediante esta perspetiva, a OnPoint Manufacturing, sediada no Alabama, desenvolveu uma instalação que permite que as marcas de moda possam entregar o vestuário solicitado por encomenda diretamente ao cliente no prazo máximo de dois dias. O modelo de produção que automatiza e integra quase todos os aspetos do processo de fabrico, desde a colocação do pedido até à entrega do mesmo, é conduzido por um software complexo que possibilita à empresa produzir milhões de unidades, eliminado, ainda assim os custos dos inventários, enquanto simplifica a cadeia de aprovisionamento.

Processos inteligentes

A rapidez na entrega dos pedidos é exponencialmente um aspeto fulcral para as cadeias de aprovisionamento que, por esta razão, estão à procura de novas formas de se tornarem mais ágeis. Aliado também à própria procura do consumidor, a automação, inteligência artificial, 3D e robótica passaram a ser prioritárias nos processos de produção, ajudando além disso, a melhorar o produto, o tempo de comercialização e a ter mais benefícios com o maior acesso a informação e análise de dados.

Xunxi Digital Factory [©Alizila.com]
A gigante de comércio eletrónico Alibaba abriu a Xunxi Digital Factory em setembro do ano passado para «criar uma abordagem à produção centrada no utilizador, aproveitando várias soluções digitais» como a computação em nuvem, a internet das coisas e algoritmos de inteligência artificial. Na prática, a quantidade de dados gerados em tempo real através das perceções do consumidor e das tendências de mercado nas plataformas do Alibaba vão contribuir para a transição de um modelo de produção tradicional “made-to-stock” para um modelo “made-to-sell”. Até ao momento, os resultados da fábrica da Xunxi permitem aumentar a eficiência produtiva de 25% para uma média de 55%. Os custos gerais também diminuem 43% e a necessidade de manter o inventário desce 30%. Com este modelo inteligente, os prazos de entrega de encomendas são 75% mais curtos.