Vianatece cresce na tradição

A empresa familiar começou a fazer upcycling antes do mundo começar a falar deste conceito de valorizar desperdícios integrando-os em novos produtos e é com isso, e com a preservação das técnicas artesanais que usa, que pretende continuar a crescer.

Catarina Carvalho

O desafio é grande: criar artigos para a casa inovadores e com valor acrescentado, mantendo as técnicas de tecelagem artesanal que a acompanham desde os primórdios para produzir artigos de valor acrescentado a partir de resíduos têxteis.

«Há cerca de 40 anos que a sustentabilidade é a nossa essência. Não foi pela moda. Foi a forma como nos introduzimos no mercado, a recuperar desperdícios de outras indústrias para depois utilizar a tecelagem como arte para produzir tapetes artesanais», explica Catarina Carvalho, sócia da empresa.

Quase quatro décadas volvidas, o espírito da Vianatece mantém-se. «A nossa motivação é continuar a criar com o artesanato, talvez incluir outras técnicas artesanais, continuar a preservar a nossa herança cultural, fomentar esta divulgação e esta aprendizagem e continuar a descobrir novas matérias e perceber como é que conseguimos melhorar e recuperar outros materiais para apresentar», afirma. «Temos clientes há muitos anos que gostam de coisas novas dentro destes conceitos, que lhes seja apresentado algo de inovador todos os anos», acrescenta Catarina Carvalho.

Por isso mesmo, tem procurado novas matérias-primas às quais possa acrescentar valor. «No início utilizávamos trapos velhos de algodão para produzir os chamados tapetes de trapos. Agora, utilizamos também linho, desperdícios da indústria dos felpos e não-tecidos – diversificamos o nível de materiais que conseguimos recuperar», refere.

A empresa cresceu e, de um tear manual de madeira e uma artesã com que deu os primeiros passos em 1985, passou para os atuais 35 teares e 70 colaboradores, aos quais dá formação, que são responsáveis por criar tapetes e almofadas, complementados por uma coleção que abrange cama, banho e cozinha. «Os tapetes são sempre o core da empresa, continuam a ser o produto mais procurado e aquilo que faz com que nos reconheçam como Vianatece», indica Catarina Carvalho.

De Portugal para todo o mundo

Produtos que têm sido mostrados quer aos clientes B2B, em feiras como a Guimarães Home Fashion Week, quer aos consumidores finais, com as lojas em Viana do Castelo, onde está sediada, e no Porto, onde estes últimos podem experimentar os artigos hospedando-se nos LethesHome Apartments, apartamentos que ficam por cima da loja e que estão equipados com os têxteis-lar produzidos pela Vianatece. Para muitos, a estadia «é o primeiro contacto com a marca», acabando, muitas vezes, por regressarem aos seus locais de origem e comprarem «com mais calma, através do site», revela a sócia da empresa, que sublinha que «enviamos para todo o mundo».

Atualmente, a taxa de exportação da Vianatece ronda os 90%, sendo os mercados muito variáveis. «Exportamos realmente para todo o mundo: EUA, Canadá, Equador, quase todos os países da Europa», enumera Catarina Carvalho.

A pandemia abalou o negócio, mas 2022 foi já muito positivo, fruto de um trabalho que não passa só pelas feiras. «Apostámos numa abordagem mais pessoal de visitarmos clientes nos países deles, irmos ter com eles e de mostrarmos aquilo que fazemos, o que também teve um impacto positivo», refere.

Com um volume de negócio que em 2022 rondou os 2 milhões de euros em 2022, as expectativas para este ano são de crescimento. «O ano começou bem. O facto de estarmos muito diversificados, não ter o foco num só mercado permite-nos equilibrar as coisas e dinamizar a nossa produção», acredita a sócia da Vianatece.

O futuro passará, indubitavelmente, por certificar os seus produtos, uma tarefa nada fácil pela escassez de rótulos ecológicos voltados para o upcycling. «No passado, explicávamos aquilo que fazíamos e era suficiente. Neste momento, a parte da certificação é muito importante. É ingrato para a nossa produção, porque não existem certificações, até ao momento, de upcycling. Existe para os reciclados, existe para os orgânicos – e conseguimos certificar essa parte da produção –, mas algo que vem de um resíduo é difícil», constata Catarina Carvalho. «Como não há muitas empresas nesta área, não existem ainda protocolos, portanto, tem sido esse o nosso desafio: encontrar a melhor certificação que permita que os nossos produtos possam concorrer com outros produtos que têm certificações, mas que não são upcycled», conclui.