Vestuário indiano a nu

Muitos observadores viram a recente oferta da Blackstone, no valor de 165 milhões de dólares, para uma participação maioritária na Gokaldas Exports, o principal exportador indiano de vestuário, como o início da maturidade do sector têxtil indiano. No entanto, esta perspectiva não é unânime. Vamos começar com a oferta em si. O valor apresentado de 275 rupias por acção é quase metade do valor de mercado da Gokaldas quando entrou na bolsa, em Abril de 2005, com um preço de 566 rupias. Ao longo deste período o Sensex, principal índice da Bolsa de Valores de Bombaim, triplicou. Mas este desempenho negativo não foi apenas registado pela Gokaldas: o valor das acções indianas registou um aumento de 25% ao longo deste período, mas as acções das empresas têxteis e de vestuário recuaram cerca de 5%. Ou seja, o dinheiro dos investidores indianos não tem propriamente como destino os títulos das empresas têxteis e de vestuário. Portanto, um dos principais motivos para a aquisição por parte da Blackstone foi simplesmente o facto da Gokaldas estar barata. Os 165 milhões de dólares são uma aposta relativamente pequena para a Blackstone, posição que Akhil Gupta, director-executivo da Blackstone na Índia, corrobora, ao referir que os seus colegas norte-americanos normalmente não fazem um negócio abaixo dos 250 milhões de dólares. Mas por que razão a Gokaldas, que estava a ser bem gerida e apresentava lucros, diminuiu o valor para metade, quando o resto da indústria indiana triplicou? Uma razão pode estar ligada a raízes coloniais. Os defensores da Índia sustentam que o seu país é, a longo prazo, uma aposta melhor do que a China, por causa da sua democracia e do uso generalizado do Inglês. Ambos os argumentos são “facas de dois gumes” para a saúde das empresas têxteis e de vestuário. A democracia indiana é a principal razão para as empresas de vestuário indianas estarem tão tristemente atrás da China. As suas leis de “emprego vitalício” tornam praticamente impossíveis os despedimentos quando as encomendas são baixas, o que desencoraja a expansão das empresas. Em relação à língua inglesa, um efeito é que as exportações de vestuário da Índia estão bastante direccionadas para o Reino Unido e os EUA e, nesses mercados, estão concentradas em apenas um punhado de categorias de vestuário de algodão. A China, para além de possuir mercados desenvolvidos fora da União Europeia e dos EUA, fez muito mais que a Índia nos países da UE onde o inglês não é a língua principal. O que significa que o Reino Unido e os EUA representam apenas 18% das exportações de vestuário da China. Outra das razões que explica a queda no valor das acções da Gokalda prende-se com o excesso de confiança da indústria têxtil e de vestuário indiana com a eliminação das quotas alfandegárias em 2005. Optimismo que levou diversas empresas a entrar em bolsa. O bom investimento está associado com o encontrar equipas de gestão capazes de detectar oportunidades e explorá-las com sucesso. E foi apenas isso o que a Blackstone fez com a Gokaldas.