Vestindo o futuro com ideias e pessoas

“Fórum da Indústria Têxtil”, realizado pela APIM, teve a sua quarta edição no mês de Maio e tendo sido sumariamente abordado na anterior edição do Jornal Têxtil, ficou prometida a apresentação de um balanço do evento, realizado na presente edição com a colaboração de Paulo Vaz, director geral da mesma associação. Desde o seu lançamento em 1996, o Fórum teve como grande objectivo unir toda a fileira do Têxtil e do Vestuário nacional em torno dos grandes temas e problemas que a preocupam, de forma transversal ou conjunta.

Passadas quatro edições deste evento, a aposta foi não só absolutamente ganha, como ultrapassou as melhores expectativas.

Na verdade, mantendo um elevado nível de participações – cerca de 400 congressistas por edição – e um paradigma de qualidade, permanentemente renovado, nos palestrantes e nos temas tratados, o “Fórum da Indústria Têxtil” é já hoje uma referência incontornável para o todo o Sector, que aí acha o espaço natural do grande debate das ideias, dos problemas e dos desafios da actividade.

O “4º. Fórum da Indústria Têxtil”, neste contexto, apresentou-se como a melhor das edições até ao momento realizadas. O grande tema do evento – as grandes tendências para o milénio – revelou-se mobilizador para os participantes e inspirador para os palestrantes.

Além disso, o evento serviu para a apresentação do livro “Vestindo o Futuro – Macrotendências para as Indústrias de Vestuário e Moda até 2020”, da autoria de Paulo Vaz, João Gouveia e Daniel Agis.

“Vestindo o Futuro” é uma obra original e inédita, quer em termos nacionais como internacionais, e que está merecer um entusiástico acolhimento, por profissionais do Sector e de outras actividades económicas próximas a este.

No referido trabalho, são detectadas 9 grandes tendências que irão influenciar o futuro do nosso Sector, nas duas próximas décadas, da geopolítica ao ambiente, da marca à sociedade de consumo, da globalização à tecnologia, da distribuição à sociedade de informação, passando pela demografia; concluindo-se com um capítulo de enquadramento e síntese, perspectivando-se estas tendências no que se designou a empresa ( têxtil ) do futuro.

O prefácio foi feito pelo Prof. Daniel Bessa, que também produziu uma das melhores intervenções do Fórum, retomando o tema da dimensão crítica das empresas portuguesas como condição de competitividade, levantado pela alocução do Secretário de Estado das PMEs, Dr. Nelson de Sousa, na abertura oficial dos trabalhos.

  Sem aqui se quererem antecipar as conclusões finais do  “4º. Fórum da Indústria Têxtil” podemos, contudo, resumir aqui as grandes mensagens aí proferidas, pelos “speakers” nacionais e internacionais: a dimensão crítica das empresas para poderem competir num quadro de globalização alargado, obrigando necessariamente a fusões e aquisições no Sector, ou quando muito a redes de cooperação; o optimismo moderado quanto ao futuro, que será tanto melhor quanto mais as empresas investirem nos factores imateriais – o design, as colecções, a marca, a inovação, a logística, a distribuição e os pontos de venda; a necessidade de deslocalizar produções ou compra de artigos básicos, acompanhando a tendência de desindustrialização europeia, na busca incessante da eficiência económica, mas podendo encontrar no espaço pan-euro-mediterrânico, a exemplo da NAFTA, uma salvaguarda à penetração selvagem de produtos têxteis e de vestuário do Extremo-Oriente; e a confiança na perpetuação dos valores culturais e estéticos que constituem a herança e a tradição europeia, de maneira a continuar a recentrar no Velho Continente o comando dos grandes movimentos e tendências de moda e, por consequência, de todo o negócio do têxtil em termos internacionais.

O Prof. Ernâni Lopes que realizou a intervenção final, dedicou a mesma ao tema do futuro da Indústria Transformadora portuguesa num quadro de globalização como  o que vivemos, interrogando-se se aquela tem futuro.

Foi com efeito uma magistral lição de sapiência e experiência de vida, dada com uma autoridade indiscutível, que a todos quantos ouviram, numa sessão ininterrupta de quase 3 horas, calou fundo e “incomodou” no bom sentido.

Traçando um quadro algo negro da situação económica e social do país, na qual não poupou o Poder e a forma como tem sido exercido, o Prof. Ernâni Lopes perspectivou tempos difíceis para Portugal e para os portugueses, criticando a auto-convicção do país de que já é rico e que não precisa realizar mais nenhum esforço para conservar essa riqueza. Ilusão perigosa com consequências à vista.

Definindo o estado da nação como de definhamento – coisa que não é espectacular porque não tem nada de radical como uma revolução -, Portugal arrisca-se a empobrecer alegremente, divergindo cada vez mais da Europa, atrasando-se em termos económicos e civilizacionais, gerando continuamente gerações piores que outras.

Sem evitar responsabilizar também a classe empresarial pelo estado do país, pois os responsáveis somos todos – os que empregam e os que estão empregados – o Prof. Ernâni Lopes exortou ao trabalho e ao estudo como forma de fazer inverter a tendência de declínio, pois está nos recursos humanos, na sua valorização e na plenitude da sua utilização, o segredo da produtividade, da competitividade e da grandeza das nações.

Uma mensagem fortíssima, impossível de ser esquecida.