Vendas de vestuário descem no Reino Unido

As vendas a retalho no Reino Unido caíram mais do que o esperado em setembro, já que os consumidores evitaram comprar roupa de outono com as temperaturas altas, numa altura em que o aumento do custo de vida continua a fazer-se sentir.

[©Pixabay-Alfred Derks]

Os volumes de vendas a retalho desceram 0,9% no mês de setembro, depois de uma subida de 0,4% em agosto, de acordo com os números avançados pelo gabinete de estatística do país – uma descida mais acentuada do que o esperado pelos economistas consultados pela Reuters, que apontavam para uma descida de 0,2%.

«Foi um mês fraco para as lojas de vestuário, já que as condições meteorológicas quentes reduziram as vendas de produtos para o tempo mais frio. Contudo, o calor fora de estação de setembro ajudou a aumentar um pouco as vendas de comida», indicou o economista-chefe do gabinete de estatística do Reino Unido, Grant Fitzner.

O Reino Unido viveu o mês de setembro mais quente de que há registo, devido a uma onda de calor que a retalhista de vestuário H&M afirmou estar a deprimir as vendas em grande parte da Europa.

No terceiro trimestre como um todo, o volume de vendas desceu 0,8% – a maior queda desde os três meses até ao final de fevereiro, exacerbado por tempo anormalmente húmido que afetou os padrões normais de consumo de verão.

No total, o gabinete de estatística indicou que a fraca performance de retalho deverá afetar o crescimento do produto interno bruto (PIB) em 0,04% – um valor significativo tendo em conta que a economia cresceu apenas 0,2% no segundo trimestre, realça a Reuters.

«A queda acentuada nas vendas a retalho em setembro torna mais provável que o PIB estagne ou até desça em setembro. Isso pode significar que o PIB como um todo contraiu no terceiro trimestre», destaca Thomas Pugh, economista na RSM UK.

As vendas de vestuário desceram 1,6% em setembro e as lojas de artigos para a casa registaram uma queda mensal de 2,3% nas vendas – a maior até ao momento – o que o gabinete de estatística do país atribuiu à crescente pressão causada pelo custo de vida.

Silvia Rindone, responsável de retalho do Reino Unido e Irlanda da EY, indicou, citada pelo Just Style, que os números mostram que os retalhistas da fast fashion vão ter de aprender a adaptar-se a condições meteorológicas cada vez mais imprevisíveis.

«O tempo anormalmente quente em setembro teve impacto nas vendas das lojas não-alimentares, que caíram 1,9%, com os consumidores a adiarem a renovação do guarda-roupa», explica. «A natureza cada vez mais imprevisível do tempo é algo que os retalhistas terão de gerir. Há atualmente níveis elevados de stocks fora de estação em todo o sector, o que pode levar a mais descontos no percurso até à Black Friday, com os retalhistas a tentarem estimular a fraca procura entre os consumidores», acrescenta Silvia Rindone.

As famílias britânicas têm sentido um aumento dos custos nos últimos dois anos devido a dificuldades com as cadeias de aprovisionamento e escassez de mão de obra depois da pandemia de covid-19, amplificadas por uma subida nos custos da energia depois da invasão da Ucrânia pela Rússia.

As perspetivas são, para já, pouco animadoras. Os dados do mais recente inquérito aos consumidores promovido pela GfK referem uma queda na confiança em outubro e, em particular, pouca vontade de gastar em artigos mais caros.

A PwC também publicou um estudo onde revela que quase um terço dos britânicos planeia cortar nos gastos de Natal este ano, devido ao preço mais alto dos alimentos e da energia.