Valornature promove economia circular entre Portugal e Espanha

Todos os caminhos foram dar a Santiago de Compostela na última quarta-feira para se conhecer 30 materiais desenvolvidos a partir de resíduos. Fibra de carbono verde, estruturas para construção, peças injetadas para veículos e trotinetes com laminado de madeira e carbono foram algumas das soluções desvendadas no âmbito do projeto liderado pelo PIEP.

[©PIEP]

Realizado pelo PIEP – Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros da Universidade do Minho em parceria com a Agência Galega da Indústria Florestal e o Centro Tecnológico do Automóvel da Galiza, o projeto Valornature junta, desde 2018, mais de 50 entidades que procuram valorizar subprodutos agroflorestais, marinhos e extrativos em áreas-chave da economia, como automóvel, aviação, naval, construção e desporto, e teve uma dotação de 2,3 milhões de euros do Programa Interreg.

O projeto visa, em suma, criar um centro de excelência em materiais avançados sustentáveis para o aproveitamento de recursos naturais na euro-região do Norte de Portugal e da Galiza.

Este centro de excelência avaliou, primeiramente, o potencial dos recursos endógenos do noroeste ibérico. Foram caracterizados 12 resíduos em particular, como biomassa de giesta, toxo, vide, oliveira, kiwi, casca de mexilhão, pó de pedra e resíduos industriais. Depois, desenvolveram-se mais de 30 materiais sustentáveis, entre os quais um protótipo de fibra de carbono verde e 25 demonstradores tecnológicos, em parceria com várias empresas desta euro-região.

Os resultados foram apresentados no passado dia 14 de julho em Santiago de Compostela, onde foi possível descobrir desde viseiras realizadas a partir de cabides até novos recipientes cosméticos, passando por artesanato e rifles submarinos, cabides reciclados da Adolfo Dominguez ou ainda móveis diferenciados.

Bruno Pereira da Silva [©PIEP]
«O Valornature é um verdadeiro ecossistema de inovação e transferência de tecnologia, capaz de promover investigação de excelência com base em modelos de economia circular e simbiose industrial», salientou o diretor do projeto, Bruno Pereira da Silva, na sua intervenção. «Permite responder às necessidades do sector empresarial de toda a euro-região e, assim, aumentar os níveis de competitividade industrial, diminuir a taxa de desemprego e afirmar a resiliência deste território com mais 6.4 milhões de habitantes», destacou.

Em entrevista à Ambiente Magazine, Bruno Pereira da Silva tinha já explicado que, para que o projeto consiga cumprir objetivos como o da «construção de uma base de conhecimento comum capaz de consolidar competências», a utilização da ferramenta «Life Cycle Assessment» é fundamental no apoio à «tomada de decisão», uma vez que possibilita «realizar a quantificação dos impactos ambientais de todo o ciclo de vida dos novos produtos eco sustentáveis produzidos no âmbito do projeto».

Desafios e oportunidades do design ecológico

Questionado sobre o papel do ecodesign, o diretor do projeto reconheceu que é preponderante no desenvolvimento de produtos, de sistemas e mesmo de serviços: «Trata-se de uma abordagem que integra um conjunto de indicadores de performance que, até há muito pouco tempo, eram relegados para segundo plano devido à sua importância reduzida», admitiu.

Atualmente, «muitos produtos, marcas, públicos e, mesmo, alguma legislação obrigam-nos a olhar para o ecodesign como sendo um key performance indicator que se pode mesmo sobrepor a questões de custo que, tradicionalmente, seriam o indicador mais preponderante na tomada de decisão», assegurou Bruno Pereira da Silva. Neste sentido, o «uso racional de matérias primas», o «uso de matérias-primas mais amigas do ambiente» ou a «reciclabilidade» serão fatores com «importância crescente que, certamente, mudarão o paradigma do que é o desenvolvimento de produtos e sistemas», acredita.

[©PIEP]
Relativamente aos desafios do ecodesign, o diretor do Valornature apontou o «status quo» instalado e a «mudança de pensamento necessária para que a disciplina seja encarada de forma séria e tenha resultados efetivos». Para isso, é necessário que o «ecológico» deixe de ser um «suplemento que determinados produtos têm, quase como estratégia de marketing, e passe a ser um fator de diferenciação positiva», acrescentou. Bruno Pereira da Silva considera que o ecodesign deve ser encarado como um dos «principais objetivos dos produtos, com a confiança de que no futuro apenas produtos e serviços que o façam serão viáveis e lucrativos». E a grande oportunidade reside precisamente no «resultado de se conseguir vencer o desafio de encarar o ecodesign e a economia circular como um pilar» do desenvolvimento. «Ao fazê-lo, as empresas vão conseguir melhores produtos, melhor uso de matérias-primas, maior respeito pelo ambiente e, em última análise, uma existência mais sustentável e resiliente», concluiu.