Uzbequistão sob pressão

Grupos que representam retalhistas, marcas e importadores de vestuário e calçado dos EUA, juntamente com organizações de direitos humanos, sindicatos e investidores de todo o mundo, estão a pedir aos responsáveis americanos para pressionar o governo do Uzbequistão para pôr fim ao trabalho infantil e forçado nos campos de algodão do país. A ação surge após o governo americano ter publicado o seu relatório anual Global Trafficking in Persons, onde não cita o Uzbequistão como um país que não cumpre os padrões mínimos para combater o trabalho forçado e infantil. Isso, afirmam os grupos, «é completamente inconsistente com as provas bem documentadas dos seus abusos sistemáticos». Sob a lei americana Trafficking Victims Protection Reauthorization Act, o governo uzbeque deveria ter demonstrado que está a fazer «esforços significativos» para eliminar o trabalho forçado de forma a evitar descer no ranking para um país de terceira, o que pode trazer consigo a ameaça de sanções. As autoridades uzbeques usam um sistema de produção de algodão que na prática se apoia na utilização de trabalho forçado, mas nega consistentemente esse facto. Relatórios sobre a colheita de 2011 por grupos de monitorização locais e estudos académicos sublinharam a coerção de crianças com idades a partir dos 10 anos e adultos para colherem algodão e cumprirem as quotas do Governo. Embora o relatório do Departamento de Estado dos EUA identifique o sistema de quotas estatais do governo uzbeque para a produção de algodão como a causa na raiz da prática de trabalho forçado, mais uma vez não refere a ameaça de sanções. O relatório mundial de tráfico reconhece que, durante a colheira de algodão, as condições de trabalho incluem longas horas, comida e água insuficientes, exposição a pesticidas perigosos, abusos verbais e abrigos inadequados. O relatório também sublinha que a utilização de trabalho forçado e trabalho infantil é mais elevado do que nos anos anteriores. A carta da coligação enviada à Secretária de Estado Hillary Clinton na semana passada apela aos responsáveis dos EUA para pressionarem o governo uzbeque a convidar a Organização Internacional do Trabalho (OIT) a monitorizar a colheita de algodão de 2012. «Estamos preocupados que, com as quotas em valores tão altos para este outono, segundo todas as notícias, o governo uzbeque exija ainda mais das crianças e adultos forçados a cultivar e colher algodão», afirma Brian Campbell, diretor de política no Fórum Internacional de Direitos Laborais. «Apenas a OIT tem o conhecimento técnico e experiência para monitorizar propriamente esta prática e deve ter acesso ilimitado durante a colheita do algodão e a capacidade de envolver completamente a sociedade civil uzbeque», conclui.