Twintex imparável

Diferenciando-se pelas preocupações ambientais e pela responsabilidade social que assume na região, a Twintex tem vindo a crescer em toda a linha, o que levou a uma mudança de estratégia e à multiplicação dos investimentos em tecnologia e logística.

Desde o início, os valores éticos e ecológicos estiveram no centro do negócio da Twintex, a produtora de vestuário criada em 1979 por António Mineiro, que conta atualmente com os filhos Bruno e Mico na administração.

«O propósito com que abraçámos este negócio foi sempre criar condições sociais para que as pessoas se sintam confortáveis no desempenho diário. São valores que continuamos a preservar e que se transmitem», afirma António Mineiro ao Jornal Têxtil.

Em 2007, ainda longe do boom da sustentabilidade que surgiu nos últimos anos, a especialista em confeção deu os primeiros passos para se tornar mais sustentável. «No início, os passos dados foram tímidos, de acordo com as possibilidades que tínhamos na altura e também de acordo com os conhecimentos que tínhamos», confessa Mico Mineiro. «Neste momento temos uma fábrica que é, sem dúvida, das que produzem mais energia elétrica em relação ao consumo que tem – conseguimos ter uma produção média anual de 55% do nosso consumo, o que torna a fábrica em termos de emissões muito mais amiga do ambiente do que uma fábrica que não tenha este tipo de estratégia», destaca o administrador.

Além de dispor de painéis solares e fotovoltaicos, a Twintex efetua ainda a separação de resíduos para reciclagem e medidas para fazer a gestão da temperatura interna do edifício, com o telhado e janelas com tratamentos específicos que permitem reduzir o uso de ar condicionado.

À sustentabilidade ambiental, que percorre todas as áreas da empresa, a Twintex soma também a responsabilidade social. «A questão social é a preocupação número um no nosso negócio. É, sem dúvida, um dos aspetos ao qual dedicamos mais atenção», reconhece Mico Mineiro, que cita o exemplo do rastreio do cancro da mama, realizado anualmente. «Se pensarmos que temos mais de 400 funcionários e 90% são mulheres, é uma ação de grande dimensão. Já tivemos a infelicidade de detetar dois casos de cancro, em que a fábrica foi presente na vida destas funcionárias para que se pudesse resolver da melhor forma o problema de saúde que enfrentavam. Tratámos das consultas, das estadias, dos transportes, de tudo, para que as pessoas se sentissem protegidas e acarinhadas pela empresa», revela. «A Twintex, enquanto negócio, tem como missão proporcionar à sua equipa as melhores condições possíveis para que todas possam ter a melhor performance durante o seu dia de trabalho – esse é o nosso desafio», garante.

Crescimento acelerado

Aos valores ambientais e sociais que são já uma das suas imagens de marca, a especialista em confeção juntou um know-how reconhecido que lhe tem granjeado clientes reputados – 26 em 12 países – e até permitido selecionar com quem trabalhar. «Tem havido um filtro, porque ainda tínhamos clientes do segmento médio, mas o nosso target é claramente o médio-alto. Estamos. neste momento, com um portefólio que corresponde mais ou menos à verdade natural e genuína do que é a Twintex, que é um cliente líder da moda e de segmento médio-alto», explica Bruno Mineiro.

Em 2017, a empresa cresceu quase 10%, para um volume de negócios que ficou próximo dos 20 milhões de euros. «Foi um ano positivo do ponto de vista do aumento da faturação e do volume de peças produzidas. Não foi um volume que estivesse no nível que gostaríamos, mas penso que os esforços que fizemos nos anos anteriores, em 2014 e 2015, acabarão por vir a dar um resultado mais visível já em 2018», acredita Bruno Mineiro, que antecipa um crescimento de 40% no número de peças confecionadas em 2018 face ao ano anterior. «Até aqui andávamos na casa das 250 mil peças por ano. Agora vamos fechar este ano com meio milhão de peças, que é o nosso recorde», adianta.

Este crescimento tem resultado em inúmeros desafios para a Twintex. «Estamos a crescer a tal velocidade que não temos máquinas para os operadores. Temos que comprar máquinas imediatamente. Há 10 anos tínhamos uma modelista a desenvolver produto e hoje temos nove. É preciso criar as condições para os receber», exemplifica Bruno Mineiro.

Além disso, a produtora de vestuário teve de alterar um pouco o seu modelo de negócio para continuar a evoluir, recorrendo, para isso, à subcontratação. «A Twintex hoje tem a trabalhar em paralelo 18 fábricas de confeção, além das nossas duas fábricas», indica o administrador. «É uma operação na qual fazemos questão de ter inspetores de qualidade externos à fábrica para nos certificarmos que a qualidade que nos é proporcionada pelos nossos satélites é a melhor e mais elevada possível, e sem colocar em risco o produto prometido ao cliente», faz questão de realçar Bruno Mineiro. «Sabemos e acreditamos que a Twintex tem uma capacidade de desenvolvimento de produto muito superior à capacidade de produção de que dispõe, pelo que é essa a estratégia [de subcontratação] que vemos como futuro para a empresa», admite.

Mudanças logísticas

O crescimento acelerado e o recurso à subcontratação, que está concentrada (cerca de 65%) no norte do país fez com que a Twitex avançasse para a criação de um centro logístico no Porto, com capacidade para 100 mil peças, cujas portas se abriram em maio.

Em análise está ainda a possibilidade de criar um outro centro logístico, mas no Fundão, cidade onde a empresa está sediada. «Iria permitir fazer a receção de todos os materiais que recebemos para serem transformados, criar uma organização de picking interna, que possa imediatamente separar todos os materiais recebidos por encomenda e tornar o processo de entrega a todas estas fábricas muito mais ágil», esclarece Mico Mineiro. Esta plataforma, pensada para gerir as produções feitas no centro e sul do país, permitiria reduzir custos e tempos e ainda melhorar a pegada ecológica da especialista em confeção. «Se o produto não anda a ser deslocado dentro de um camião não há poluição, por isso, mais uma vez, o meio ambiente entra como preocupação nesta estratégia», destaca o administrador.

Indústria 4.0

Os investimentos da Twintex têm-se refletido igualmente no parque de máquinas, onde a indústria 4.0 não é apenas um desejo, mas uma realidade que convive bem com o talento humano. «Temos tido uma preocupação muito grande em utilizar o talento da costureira ao máximo. Temos a Twintex Academy, onde formamos as costureiras com elevado sucesso, temos a escola de costura que tem o nome do nosso pai, a Escola de Costura António Mineiro, que é um viveiro de talento muito importante. Com estes automatismos, o objetivo principal é não perder em momento algum a qualidade ou a característica artesanal que os nossos produtos têm. Temos operadoras e operadores em máquinas automatizadas com elevadíssimos índices de rendimentos: temos máquinas que, sozinhas substituíram três pessoas, isto é, com um operador libertamos três costureiras para fazerem aquilo que realmente sabem, que é criar e manufaturar peças de confeção. E isso sem que as peças percam a característica que lhes é mais importante, que é alfaiataria, o cuidado, o detalhe», elucida Mico Mineiro.

No último ano e meio, a Twintex investiu quase um milhão de euros em maquinaria, um valor que deverá aumentar até ao final do ano, até porque em cima da mesa, em fase de ponderação, está «um investimento muito grande» numa sala de corte nova. «Há máquinas aqui que são mesmo únicas no mundo, porque foram construídas de acordo com as nossas necessidades e com a informação que fomos partilhando. Temos uma empresa de engenharia de automatismos na Alemanha com a qual trabalhamos diretamente», revela, mas, mais importante do que adquirir a tecnologia, é rentabilizá-la. «Tem a ver com a forma como usamos as máquinas, com a preocupação que temos em que as máquinas atinjam certos níveis de produtividade. Por exemplo, temos uma máquina com um operador que não sabe coser que consegue servir duas linhas de calças, uma linha de saias, duas linhas de casacos e uma linha de amostras. Isto tudo com uma máquina. Tradicionalmente haveria um operador em cada uma destas linhas para atingir o mesmo índice de produtividade», aponta Mico Mineiro.

Quanto ao futuro da empresa, António Mineiro mantém a crença no crescimento, mas não sem reservas. «A Twintex tem no seu portefólio de clientes alguns dos maiores players mundiais da moda. Todos eles têm grande influência no mercado e são marcas universais, ou seja, dependem do seu design e de cada um dos mercados onde atuam – podem encontrar-se coisas nossas em Tóquio, como em Paris, em Londres e em Nova Iorque. É a soma desses mercados todos que faz que as vendas desses clientes vão subindo e descendo. E o nosso balanço resulta do balanço deles todos», afirma o fundador. «Tive sempre um sentimento de resistência e de crer nesta indústria, daí nunca ter baixado os braços. Chegamos até aqui, e daqui para a frente a expectativa continua otimista, embora moderada porque, em boa verdade, há muita instabilidade política não apenas na Europa mas em todo o mundo. Mas continuamos a acreditar naquilo que fazemos e daí acharmos que estamos no caminho correto, que é o caminho da qualidade», assegura o presidente da Twintex.