Situada na encruzilhada entre a Europa e a Ásia, a Turquia é detentora de uma grande diversidade cultural, étnica e social. Um país de contrastes, porque apesar de 35% da sua população viver da agricultura, pelo menos 4 milhões de habitantes só em Istambul – dos 14 milhões de habitantes totais – apresentam um poder de compra superior à média europeia. Ainda que a indústria ocupe pouco mais de 23% do Produto Nacional Bruto da Turquia, a indústria têxtil é a sua coroa de glória com mais de 70% dos seus produtos a serem exportados.Com um mercado de potencialidades acrescidas, este país euro-asiático é um dos players mundiais do sector têxtil e de vestuário. A aposta recai sobretudo nos factores críticos de competitividade, isto é, design, inovação tecnológica, moda, marcas e distribuição, de forma a poder reposicionar-se na cadeia de valor e combater a produção de baixo custo do Leste Europeu e do Extremo Oriente. «A Turquia está extremamente bem representada com marcas e criadores de uma qualidade excepcional», afirmou Kemalettin Gunes, proprietário da maior empresa de moda-praia da Turquia, acrescentando que «são essas marcas que têm cativado os principais países europeus que apostam fortemente nos produtos turcos».Na realidade, nomes como Bossa ou Sunset são bons exemplos de marcas que estão muito bem posicionadas a nível internacional. A Bossa é uma das maiores empresas verticais turcas, com um volume de negócios de 210 milhões de dólares; enquanto que a Sunset, que tem especial atenção ao design e qualidade dos seus artigos de praia, encontra-se presente em 6 países distintos. «Estamos presentes na Alemanha, na Inglaterra, na França, na América, na Rússia e no Japão. Neste momento estamos a tentar entrar em novos mercados, que é, essencialmente, a nossa principal meta», revelou Kemalettin Gunes, adiantando que «as peças da Sunset são originais, vanguardistas e universais, deixando de lado o estereótipo de que na Turquia não é moderna». Um estereótipo que perde cada vez mais força, sobretudo devido ao crescente número de estilistas que começam a marcar pontos na moda internacional, com desfiles e abertura de showrooms e ateliers nas principais cidades europeias. «Os nossos criadores já começam a provar o seu talento, sobretudo em França e Itália, onde são extremamente bem recebidos e respeitados», explicou Gunes. Exemplo disso mesmo são nomes como Atil Kutoglu, Dice Kayek, Hussein Chalyan, Makan Yildirim ou Ozlem Suer e Umit Unal, que inclusivamente participaram na edição de Outubro de 2006 do Portugal Fashion. «A Turquia significa moda. A divulgação dos nossos melhores produtos é o nosso principal objectivo como criadores, proprietários de uma marca ou simplesmente cidadãos da Turquia. E penso que os resultados alcançados só comprovam que estamos no bom caminho para nos tornarmos mundialmente reconhecidos pela qualidade, design e originalidade», justificou Kemalettin Gunes.Mas a Turquia também não se fecha ao que é produzido noutros países e «estar atento ao que de melhor se produz a nível internacional, só nos incentiva e inspira para poder criar mais e melhor», salientou o proprietário da Sunset. E os números indicam que as importações para este país também têm aumentado consideravelmente. Em 2003 e 2004 registou-se um aumento de 53,3%, sobretudo com origem em países como a Espanha e a Itália. Portugal também não ficou indiferente às oportunidades que se abrem e estabeleceu estreitas relações com o país, por muitas e variadas razões. Primeiramente, ambos os países, juntamente com os Estados Unidos da América, lideram a iniciativa GAFFT, mais conhecida por "Declaração de Istambul", onde ambos conseguiram pressionar a União Europeia e a China para a realização de um acordo de adiamento da total liberalização das quotas de importações têxteis até final deste ano. De igual forma, o intercâmbio levou várias marcas e criadores nacionais até à capital turca, onde têm tido a oportunidade de apresentar as suas colecções e investir no objectivo de levar a moda portuguesa além-fronteiras. Uma iniciativa realizada ao abrigo de um intercâmbio entre a ATP (Associação Têxtil e Vestuário de Portugal) e a sua congénere turca, a ITKIB, tem levado nomes como Miguel Vieira, Lion of Porches ou Fátima Lopes até à Turquia. «A moda portuguesa é bastante moderna e assemelha-se muito ao que é produzido no nosso país. Na minha opinião, temos o nosso maior interesse em receber criadores como Fátima Lopes porque só vem provar que estamos atentos à moda, em todos os sentidos», realçou Kemalettin Gunes.Mas engane-se quem pense que os interesses desta parceria são exclusivamente portugueses. Com metas muito objectivas de se expandir ainda mais a nível internacional e, consequentemente, aumentar as suas exportações, a Turquia vê em Portugal um país estratégico para uma futura entrada em mercados que ainda não se renderam à moda turca. «Portugal é um país extremamente importante para a Turquia, porque é uma porta que o nosso país tem para a América do Sul. Interessa-nos bastante conquistar esta região mas temo-nos deparado com algumas dificuldades. Portugal é mais semelhante em termos culturais e sociais com estes países, e pode ser uma importante ajuda para conseguirmos quebrar barreiras e conquistar esses mercados», concluiu Kemalettin Gunes.
