Turbulência na alta-costura

“Entre a espada e a parede”, esse é o dilema que enfrentam as casas de Alta-Costura especializadas em moda feita à medida de clientes milionários que compram indumentárias exclusivas por preços astronómicos. No entanto, apesar de todo o glamour que a moda tem subjacente a si, também tem vindo a ser golpeada pelos efeitos da crise económica mundial. Por consequência, o futuro de peças que custam cerca de 30.000 dólares parece bastante incerto. De tal forma que, no mês de Maio, a Christian Lacroix declarou falência por não ter condições de pagar as suas dívidas, deixando em aberto a possibilidade de poder vir a desaparecer. Com frequência, o termo “Alta-Costura” usa-se com bastante ligeireza, mas em França constitui um guia formal que define uma categoria de vestuário, um número mínimo de criadores originais e uma quantidade – também ela reduzida – de costureiros especializados. Actualmente, existem apenas onze membros oficiais da Câmara Sindical de Alta-Costura. Tendo em conta os designers convidados, existem habitualmente cerca de 12 desfiles programados para cada edição oficial da Semana de Moda de Alta-Costura em Paris cuja mais recente edição terminou ontem. Ralph Rucci, um designer americano, que foi convidado da semana de moda da capital francesa em 2000, voltou às passerelles de Nova Iorque, sobretudo por razões económicas. Rucci considera que, todavia, a Alta-Costura pode sobreviver e que a Lacroix não soube equilibrar as colecções mais caras com as vendas em massa. Os tribunais deram seis meses para a “salvação” da empresa, a qual nunca deu lucro, em 22 anos de existência. «Para nós, a crise é como um terramoto. Algumas marcas e nomes de destaque vão acabar por desaparecer», acredita o criador Stephane Rolland, acrescentando ainda que «seria muito triste, se um desses nomes fosse o de Lacroix, porque o que ele faz é arte pura». No entanto, se o cenário menos positivo se vier a concretizar, não será uma novidade. Essa foi a sorte que tiveram – após a Segunda Guerra Mundial – a extravagante criadora italiana Elsa Schiapparelli e a legendária Madeleine Vionnet. De igual forma, a Balmain, uma das grandes figuras da alta-costura do Pós-Guerra, também passou por uma enorme crise e viu-se obrigada a deixar de produzir peças caras e concentrou-se na sua linha mais comercial. A Alta-Costura é o meio que permite aos criadores expressar a sua criatividade, usando as técnicas mais sofisticadas, sem terem em atenção o preço. Actualmente, estes são os tempos mais turbulentos que o mundo da alta-costura tem vindo a enfrentar. «Há muito tempo que se ouve que a Alta-Costura está condenada a desaparecer, depois de um longo período de esplendor», afirma Pamela Fiori, a chefe de redacção da revista americana Town & Country, acrescentando ainda que «a base de clientes deste tipo de peças tem vindo igualmente a modificar-se. Antigamente, os alvos eram aristocratas europeus e americanos. Actualmente, os clientes-alvo são os da Rússia e os do Médio Oriente». De igual forma, Fiori revela que as mulheres ricas não estão na disposição de gastar quantidades extravagantes de roupa nos dias que correm. «Não me refiro a peças de 10.000 dólares, que já são caras por si só, mas a indumentárias que custem uns 40.000 dólares», acrescenta Fiori. Outro factor que conspira contra as casas de Alta-Costura é a ideia de que é cada vez mais difícil encontrar costureiras de qualidade, dispostas a dedicar-se a esta área. Isto porque uma só peça de alta-costura pode exigir cerca de 500 horas de trabalho. Trata-se de um trabalho duro, que pode trazer mais dissabores que lucro. Para muitos, este é o perigo real da Alta-Costura, muito mais do que a própria crise económica.