Tricothius cresce apesar da conjuntura

O aumento dos preços da energia e as dificuldades logísticas que estão a dilatar os prazos de entrega das matérias-primas têm sido duas das pedras no calcanhar da Tricothius. Ainda assim, a empresa do grupo Valérius conseguiu aumentar as vendas em 40% face a igual período do ano passado.

Ricardo Maia

Os últimos meses não têm sido fáceis para a indústria têxtil e vestuário portuguesa e a Tricothius não é exceção, assume Ricardo Maia, diretor comercial da empresa do grupo Valérius, cujas valências incluem o desenvolvimento de produto e tricotagem, assim como a marca Concreto.

Em termos energéticos, a fatura é de «quase três vezes mais – e não somos dos sectores da indústria têxtil que mais energia despende». O diretor comercial reclama, por isso, que sejam tomadas medidas para apoiar as empresas neste momento. «Precisamos de uma ajuda direta aos custos energéticos, é fundamental. E quando digo direta, é direta, não através de subsídios. Uma redução das tarifas diretamente e um apoio através da diminuição de impostos e da carga fiscal que as empresas têm, para realmente podermos fazer frente e sermos competitivos na nossa indústria, porque, caso contrário, vai ser muito complicado manter o nosso tecido industrial nos moldes em que o conhecemos até hoje», sublinha.

Também os transportes têm provocado dificuldades à Tricothius, com os custos de importação de matérias-primas, como o algodão, a aumentar «no mínimo cinco vezes em dois anos e meio. Como podemos fazer frente a isso sem repercutir nos preços aos nossos clientes? É quase impossível, para não dizer mesmo impossível, se queremos subsistir. Podemos, de facto, esmagar as nossas margens ao máximo, mas estar continuamente a perder dinheiro não é possível para nenhuma empresa», garante.

Por isso mesmo, os preços na Tricothius, que exporta mais de 90% da sua produção, já aumentaram cerca de 20%, algo apenas permitido porque a empresa tem clientes de gama média-alta – como a Fiorucci, a Vogue e a Armani, numa das suas linhas – e um know-how reconhecido. «Hoje em dia, os clientes já não querem só comprar um produto, têm que encontrar parceiros. Portanto, não somos fornecedores, somos parceiros dos nossos clientes no seu crescimento e trabalhamos ombro a ombro com eles para tentar alavancar as suas vendas e tentar conseguir, de facto, o que eles desejam, ao preço mais competitivo e no tempo mais curto», afirma.

Nearshoring alavanca encomendas

Ainda assim, revela Ricardo Maia, as vendas da Tricothius – que tem uma capacidade de 100 mil peças por ano, entre produção própria e parcerias exclusivas e semiexclusivas – estarão «a aumentar uns 40%» face ao período homólogo do ano passado. «O problema não está a ser ter encomendas, o problema está a ser a capacidade de produzi-las e entregá-las ao mesmo preço e nos mesmos tempos, porque se antes tínhamos a matéria-prima em mãos em quatro ou cinco semanas, hoje são 10,12 ou14 semanas. Depois não temos capacidade de recuperar esses atrasos na entrega das matérias-primas, devido à crise dos transportes e à crise de energia, pelo que naturalmente os deadlines não são cumpridos. Ou seja, neste momento não nos queixamos de não ter encomendas, o problema está a ser produzi-las e entregá-las», explica o diretor comercial da empresa.

Aliás, reconhece, a tendência de nearshoring tem-se sentido. «Termos tempos de entrega mais curtos que outros mercados [nomeadamente asiáticos], preços competitivos e uma certa flexibilidade à conta de volume fizeram com que, de facto, nestes últimos dois ou três anos, a nossa indústria têxtil e vestuário tenha sido procurada», admite o diretor comercial da Tricothius, que está a sentir a Escandinávia como um dos mercados mais dinâmicos, juntamente como Reino Unido, o Canadá e os EUA.

O resto do ano está igualmente preenchido. «Temos máquinas ocupadas até novembro e algumas até ao fim do ano», assegura Ricardo Maia que, tanto na empresa que integra como no sector como um todo, acredita que «se tivéssemos uma conjuntura melhor, aí sim, posso dizer, a indústria têxtil gozaria de uma saúde e de um crescimento como há muito tempo não víamos».