TMG Textiles vanguardista e digital

A pandemia trouxe dificuldades acrescidas, mas também oportunidades para a TMG Textiles, que aproveitou o abrandamento da moda para se tornar mais digital e para criar uma coleção, que inclui uma linha mais avant-garde, como sempre quis. Em curso está ainda a entrada numa nova área de negócio.

Pedro Silva, Rita Ribeiro e Joaquim Duarte

O ano de 2020 não foi um mau para a TMG Textiles, pelo menos em termos de volume de negócios, que rondou os 25 milhões de euros, apesar das dificuldades inerentes à pandemia. «Foi um ano completamente atípico», resume Rita Ribeiro, business manager da TMG Textiles. «Era um ano que se previa de muitos objetivos na área da moda, alicerçarmos a relação com o cliente numa lógica técnica e criativa, preparámos equipas de desenvolvimento de produto para trabalhar junto dos clientes, em fevereiro tivemos uma feira [Première Vision Paris] espetacular, mas não imaginávamos o que nos ia acontecer. A partir daí foi um reinventar», explica ao Portugal Têxtil.

Assumindo que a moda iria entrar num período de arrefecimento e até paragem, em alguns casos, a TMG Textiles voltou-se para a área da saúde, passando a fornecer têxteis para máscaras, as próprias máscaras e têxteis para uniformes hospitalares. «Acabou por ser um ano em que mantivemos os resultados que trazíamos de 2019, mas de uma forma completamente diferente e a ter uma noção clara de que era um momento pontual, que íamos aproveitar, mas que não era minimamente estratégico», refere Rita Ribeiro.

Já as duas confeções – uma de vestuário em tecido, outra de malha – mantiveram-se no alinhamento habitual. «Não são fábricas de grandes volumes, são fábricas de trabalhar com clientes que já nessa altura eram fortes no online e que, com a pandemia, ainda mais fortes ficaram», justifica.

Em julho de 2020, o regresso gradual da moda ditou também o regresso à estratégia delineada anteriormente para a TMG Textiles. «Nessa altura voltámos a dedicar-nos a 100% à moda, até porque aproveitámos o momento anterior para recrutar novas pessoas, para nos dar tempo de as formar, para consolidar aquilo que já era a nossa estratégia de ter recursos certos para serem a extensão técnica e criativa dos nossos clientes», indica a business manager.

Coleção arrojada

O primeiro trimestre de 2021 não começou da melhor forma, com melhorias relevantes apenas a partir de junho, mas a empresa aproveitou esse tempo para criar a coleção para o outono-inverno 2022/2023 como sempre quis. «O facto de viajarmos menos fez com que a equipa se tornasse mais coesa e esta coleção foi feita de uma forma que nunca tínhamos conseguido – todos estiveram envolvidos, é uma coleção pensada para o têxtil, com os nossos técnicos, os nossos criativos digitais e os nossos clientes a contribuírem. Era um desejo antigo, mas que nunca tínhamos conseguido pôr em prática», confessa Rita Ribeiro.

[©TMG Textiles]
O resultado, batizado Noosfera, traz quatro linhas diferentes, mas sem perder «o ADN TMG», salienta a business manager. O primeiro momento apresenta um conceito mais heritage, de continuidade, com matérias-primas algodoeiras, tons mais neutros e naturais. Já o segundo tema faz a transição para o mundo pós-pandemia, onde a introspeção ganhou força, e que se traduz por novas matérias-primas mais sustentáveis e com um foco grande no conforto. O terceiro momento é disruptivo e passa do conforto para a festa, a pensar num grupo de pessoas que «está cheio de estar em casa, nem quer saber se está confortável ou não, quer festa, quer animação, quer cor, quer vibração, quer vida, quer tridimensionalidade para sentir movimento, coisa que não teve enquanto esteve em casa», descreve Rita Ribeiro. Estampados, tridimensionalidade do debuxo e uso abundante de cor – como o roxo, vermelho, preto e azul-elétrico – conferem mais emoção e alegria. Por último, Noosfera apresenta um olhar sobre o futuro. «Pessoalmente lancei como desafio à equipa, um tema que pode não vender, mas que pretende mostrar ao nosso cliente como é que somos em termos de inovação. Quero mostrar ao meu cliente que não tem aqui uma equipa de desenhadores, mas uma equipa técnica ao seu dispor», esclarece a business manager. Os conceitos deste tema são, por isso, «completamente fora da caixa, trabalhar o produto como se estivéssemos a trabalhar a inteligência artificial, produtos de outra esfera e de outra estratosfera, com matérias-primas diferentes e onde trabalhamos aqui a diferenciação na matéria-prima, no acabamento e no debuxo», resume.

A TMG Textiles tem igualmente aprimorado o seu lado digital, tendo uma equipa a trabalhar no CLO (de design 3D) e no software Penelope, que tem agora uma versão showroom que permite «apresentar a nossa coleção aos nossos clientes também online», aponta Rita Ribeiro. Além disso, a empresa está num processo acelerado de desmaterialização de documentos, com os pedidos e encomendas a serem feitos sem papel, e está a apostar nas redes sociais, como o Instagram. «Tudo foi transformado digitalmente. Temos uma forma de comunicar diferente daquilo que tínhamos. Estávamos um pouco sem identidade nessa área, mas hoje já estamos bem posicionados, a nível de comunicação, junto do cliente», acredita a business manager.

Abrir novos horizontes

Com 2021 a chegar ao fim, devendo, presumivelmente, atingir o volume de negócios de 2019, embora sem o fator máscaras e produtos para a área da saúde, «já estamos focados a pensar mais em 2022 do que propriamente em 2021», admite Rita Ribeiro, que espera, nessa altura, «estar em linha com 2018, que foi o nosso melhor ano».

[©TMG Textiles]
Os mercados estão ainda relativamente incertos, com alguns só agora a darem sinais de verdadeira retoma. «O mercado americano está com muita dificuldade em arrancar. O mercado francês está a começar a arrancar, bem, mas só está a começar agora. O mercado inglês e os nórdicos igual. Espanha já vem forte há alguns meses. Ou seja, neste período não tivemos perda de mercados, nem perda de clientes, eles é que reduziram e agora estão a arrancar outra vez. Mas, por exemplo, na Alemanha, estamos a ficar mais fortes e não tem só a ver com a questão da pandemia – nós estamos mais fortes para trabalhar com a Alemanha. Acabámos por nos preparar melhor para reagir a estes mercados», exemplifica a business manager.

A empresa tem mais um “trunfo na manga” para crescer. «Já estamos a estudar há algum tempo e estamos a preparar-nos para entrar noutra área de negócio, que se vai somar a esta. Achamos que a moda está atualmente numa fase de crescimento, mas vai ser um crescimento diferente. A moda vai ser muito contida, de séries mais pequenas e prazos mais curtos e quem tem fábrica, como nós temos, precisa de melhorar as suas eficiências e a moda não ajuda. Conscientes disto, não queremos perder aquilo que é a nossa força, que é vender para o mundo da moda, mas temos uma capacidade técnica que nos permite entrar noutras áreas e estamos a trabalhar ativamente para que chegue uma outra área, que é uma área que está dentro também do ADN da TMG e que nós podemos potenciar verticalmente com as forças que a TMG tem», avança Rita Ribeiro.