O mais recente revestimento foi criado em parceria com a produtora de vinhos Soalheiro e atualmente «estamos a otimizá-lo», revela Pedro Silva, administrador da Tintex ao Jornal Têxtil.
Este é, contudo, apenas a mais recente adição ao portefólio da Tintex, que tem já opções com cortiça e casca de pinheiro, por exemplo, que têm sido bem aceites pelo mercado. «Têm tido pelo menos interesse, definitivamente», afirma Pedro Silva. «Os clientes que têm falado connosco têm gostado de ver casca de pinheiro, que é uma coisa que não existia e que é muito portuguesa, a cortiça também é outro material de assinatura portuguesa, eles gostam do tato», conta.
A aceitação destas soluções tem sido sobretudo para outerwear, como casacos, mas há novas oportunidades a explorar. «Estamos agora a fazer a aposta noutros mercados, a abrir o leque para os têxteis-lar, calçado, marroquinaria… Há marcas de moda que têm no seu portefólio vestuário, calçado e marroquinaria e esse é o tipo de cliente que estamos à procura», adianta o administrador da Tintex.

No entanto, salienta, «não queremos substituir inteiramente o couro nem queremos ser couro, mas sim uma alternativa ao couro, até porque tem um tato, um cair e uma manuseabilidade diferentes. Sabemos que uma marca ou um criador que queira usar couro vai usar couro, porque tem características intrínsecas que são muito difíceis ou quase impossíveis de replicar. O couro ainda passa uma mensagem muito própria, é aquela ancestralidade que as pessoas querem. Por isso não queremos substituir, queremos ser uma alternativa».
Entre as vantagens mais destacadas pelos clientes está o facto de «serem utilizados biomateriais em conjunto com as nossas malhas de base. Temos a parte funcional e táctil do coating, mas a parte de dentro continua a ser a nossa malha, o conforto está lá, ao mesmo tempo que a funcionalidade, sem ser necessário aumentar o número de processos – temos tudo num artigo só», elucida Pedro Silva.
Para além de incorporar bio resíduos, os revestimentos utilizam também «biopolímeros que já desenvolvemos em projetos de investigação, mas também estamos ativamente à procura de novos, noutros projetos ou fora deles, para conseguirmos criar uma formulação que seja quase toda ela biodegradável. Neste momento já estamos com valores altos, acima de 90%», desvenda o administrador.
Foco na inovação
A Tintex tem estado envolvida em vários projetos de investigação, desde o PICASSo, que resultou numa solução de tingimento natural, tendo por base plantas e cogumelos, até ao TexBion, que visa a produção de uma fibra a partir de biopolímeros renováveis com características que permitam à mesma ter um tratamento igual ao algodão e ser tingida com corantes naturais.

A empresa, que possui também a tricotagem Hata, inovou ainda recentemente com a opção de deixar de lado as coleções sazonais. «Agora vamos apresentar pequenos conjuntos de artigos, diversificados na mesma, na ótica de misturar o quente com o frio em estruturas híbridas, mas mais frequentemente ao longo do ano – não vamos cair outra vez no erro da sazonalidade», esclarece Pedro Silva, que aponta mais-valias a esta abordagem além de combater a sazonalidade. «Temos mais argumentos de proximidade com o cliente e com a indústria em geral e também nos obriga a desenvolver mais e mais rápido, não cair naquela cadência primavera-verão, outono-inverno… Queremos é desenvolver continuamente e há aqui um conjunto de fatores que nos fez perceber que temos de mudar o paradigma – o futuro vai ser isso», acredita.
Depois de um primeiro semestre «muito frio», como classifica Pedro Silva este «retorno do mercado, que foi mais lento e tardio do que estávamos à espera», as expectativas para o resto do ano são, todavia, positivas. «Notámos desde julho uma subida significativa das encomendas e do interesse do mercado, as coisas estão a mexer cada vez mais», admite o administrador da Tintex, que, por isso, tem «boas perspetivas para o final do ano. Não que vá haver um aumento em relação ao ano passado, se calhar ainda é muito precoce para dizer, mas também esperamos que não haja perdas».