Nos planos da empresa constava já o desenvolvimento de uma coleção «de produtos excecionais de base natural e processados de forma especial, que abrangesse simultaneamente os segmentos da moda, desporto, loungewear e lingerie», conta, ao Portugal Têxtil, o administrador Pedro Silva. «Coincidentemente, foi nesta altura que surgiu o contacto com a ettitude e percebemos imediatamente que encontráramos o ator principal dessa coleção no CleanBamboo, fibra de liocel de celulose de bambu», acrescenta.
A empresa americana entrou em contacto com a Tintex, através de um cliente dos EUA, com o objetivo de explorar o mercado de moda B2B com a fibra CleanBamboo. «Inquiriu os seus contactos sobre fábricas em Portugal onde pudesse testar a utilização da fibra em malhas premium, com fios finos e acabamentos diferenciados. Foi-lhe sugerida a Tintex, nós discutimos as possibilidades de cooperação, agradou-nos muito a qualidade da fibra, trabalhámos o conceito da coleção em função das necessidades do mercado e seguimos em frente com os desenvolvimentos. Garantida a qualidade dos produtos, avançámos para a gama final de malhas e nasceu a coleção colaborativa CleanBamboo™ – Fabrics with Eco-Attitude», revela Pedro Silva.
«Tendo por base uma fibra com tais características ecológicas, fazia todo o sentido para nós complementar a coleção com materiais inovadores, que trouxessem vantagens técnicas, estéticas ou funcionais e que fossem igualmente eco-friendly. Daí surgiu a utilização do elastano creora bio-based (elastano com 30% de matéria-prima de biomassa), do Nucycl (liocel produzido a partir de algodão reciclado) e do cânhamo (fibra natural sobejamente conhecida pela resistência a pragas e períodos de seca e pelas suas propriedades intrínsecas de gestão da humidade, ação antibacteriana, frescura e suavidade) cultivado em solo europeu», indica o administrador da Tintex, que sublinha que o resultado são «malhas ultra confortáveis e perfeitamente adaptáveis ao uso contínuo diário, ante as condições mais exigentes, que contribuem para o bem-estar e confiança do utilizador».
A coleção foi apresentada em Londres num evento privado em conjunto com a ettitude e tem sido divulgada junto dos clientes com grande aceitação. «A recetividade tem sido muito positiva, estamos muito contentes; os cartazes e as metragens iniciais estão a “voar”, já tivemos de repor os stocks. As encomendas de produção demoram sempre uns meses até serem colocadas, mas sabemos que virão», afirma Pedro Silva, que confessa que os resultados não surpreendem completamente. «De certa forma, já estávamos à espera que fosse uma coleção que provocasse entusiasmo nos clientes, já tínhamos sido consultados frequentemente em relação ao liocel de bambu. Com a complementaridade do creora bio-based, do Nucycl e do cânhamo, e a clara qualidade das malhas, é fácil de perceber que esta é uma coleção com propósito prático, versátil, diferenciadora, consciente e sustentável», enumera.
Um ano desafiante
Com uma estratégia implementada de abandonar as tradicionais coleções por estação, a Tintex tem novos projetos em desenvolvimento. «Prevemos lançar duas novas coleções-cápsula até ao final do ano», adianta o administrador.
O ano de 2023 começou com um aumento do volume de negócios de 15% até meados de abril, mas nos últimos meses do primeiro semestre a empresa sentiu um certo abrandamento. «Notámos que as encomendas começaram a diminuir de forma geral a partir de finais de março e, ao momento, estamos ligeiramente abaixo do volume de negócios de 2022», assume Pedro Silva. «O mercado contraiu global e intensamente no final do primeiro trimestre. As vendas não equipararam as provisões e os stocks das marcas foram acumulando. Agora, temos de aguardar que a procura aumente e trabalhar para oferecer algo novo e único», antecipa.
A redução da procura, fruto de uma tendência inflacionária que tem minado o rendimento discricionário dos consumidores um pouco por todo o mundo desenvolvido, tem sido um dos desafios que a empresa especialista em malhas de liocel, e a indústria têxtil no geral, tem vindo a enfrentar este ano. «Paralelamente, os custos galopantes da energia, das matérias-primas e das taxas de juro nos últimos dois anos limitaram profundamente a capacidade das empresas de investirem não só em novos equipamentos e em pessoal especializado (se o conseguirem encontrar ou manter), mas também no seu esforço comercial. Estes próximos dois, três meses serão críticos para o nosso ecossistema têxtil. No entanto, acreditamos que depois da tempestade vem a bonança e o potencial será grande para as empresas nacionais», sublinha o administrador.
Salientando que o melhor período de faturação da Tintex é o segundo semestre e que já começaram a sentir um aumento no ritmo de trabalho, as perspetivas, contudo, estão a melhorar. «Estamos confiantes de que conseguiremos terminar o ano com crescimento do volume de negócios face a 2022», conclui Pedro Silva.