Timberland com os pés no lixo

A recente colaboração da Timberland com a startup de reciclagem Thread significa que os clientes da marca norte-americana podem agora calçar botas que, numa vida passada, foram garrafas de plástico.

«Acontece que temos esse enorme recurso que parece estar trancado em algumas das mais complicadas geografias do mundo», explica Ian Rosenberger, CEO da Thread, empresa certificada que desenvolveu o tecido usado na coleção de calçado e acessórios da Timberland, à Fast Company.

No Haiti, para obter o tecido, mais de 1.300 pessoas recolheram garrafas de plástico e venderam-nas a 50 centros de recolha locais com os quais a Thread estabeleceu parcerias.

Quando uma garrafa de plástico é reciclada em tecido, o resultado final assemelha-se ao conseguido com combustíveis fósseis. «É o mesmo que o poliéster virgem», afirma Rosenberger. «Mas, porque provém dessas áreas, na verdade está a ajudar as pessoas em vez de destruir o meio ambiente», acrescenta, sublinhando que a iniciativa fomenta ainda a criação de emprego nestas comunidades.

O poliéster pode também ser misturado com algodão, como no caso dos produtos da Timberland.

Quando a Thread começou, decidiu trabalhar com marcas existentes em vez de tentar lançar marcas próprias, percebendo que poderia ter mais impacto se trabalhasse com as maiores empresas do mundo, para ajudá-las a melhorar as suas práticas e materiais. «Se quisermos mudar o mundo, quando se trata destas coisas, precisamos da Timberland, da Nike, da Gap», ressalva o CEO.

A empresa começou a trabalhar no Haiti em parte porque é o país mais pobre do hemisfério ocidental. Passou então dois anos a estudar os sistemas de reciclagem existentes e a desenvolver um programa que preenchesse as lacunas, em vez de competir com as empresas locais. A equipa quer agora repetir o processo noutros países. «Estou realmente interessado em lugares como a Síria… não só porque o impacto é positivo, é por isso que vamos, mas também porque tem um diferencial competitivo», revela Ian Rosenberge.

Comprar tecidos à Thread fica um pouco mais caro para as marcas, mas a startup acredita que o impacto social o justifica. Rosenberger olha para o trabalho da startup como o próximo passo naquilo que as marcas podem fazer para ajudar: em vez de doar dinheiro a causas, o processo produtivo pode, em si mesmo, fazer o bem. «Vejo isso como a próxima evolução na forma como as roupas são feitas e usadas», conclui o CEO da Thread.