Ética na moda

Enquanto as marcas de rua, como Gap e Primark, têm sido alvo de activistas junto das suas lojas, marcas de luxo como Armani e Valentino conseguiram escapar aos holofotes éticos e ainda não foram incomodadas por escândalos de exploração de trabalhadores.
De acordo com o guia Ethical Consumer, as marcas de luxo não prestam qualquer atenção à ética empresarial e têm ainda de dar os primeiros passos na elaboração de relatórios sobre o impacto social e ambiental das suas operações. Até mesmo a Stella McCartney, conhecida pela sua moda ética, está no fundo da tabela de classificação ética. O caricato é que McCartney recebe a nota máxima por defender os direitos dos animais, mas a Gucci, a empresa proprietária da marca, utiliza pele verdadeira em muitas das suas marcas e não tendo nenhuma política ambiental.

Outra evidência de negligência ética é a forma como as grandes marcas de moda tratam os seus fornecedores estrangeiros e a sua política salarial. Um estudo publicado pela Labour Behind the Label compara e classifica os esforços das grandes marcas para acabar com os níveis de pobreza nos países onde se aprovisionam. O estudo aponta o dedo a marcas como a Debenhams, Fat Face, French Connection, Gap, Hobbs, Jane Norman, La Senza, Paul Smith, Peacocks, Reiss, Republic, River Island, Superdry e Whitestuff. O grupo e os autores do estudo “Let’s Clean Fashion” revelam que os salários pagos são tão baixos que não permitem os padrões de vida básicos (alimentação, vestuário e casa).

O estudo condena ainda 11 empresas por não pagarem salários dignos, entre as quais a Arcadia, Asda/George, Aurora, Burberry, H&M, Levi Strauss, Matalan, New Look, Primark, Sainsbury e Tesco. Os autores do estudo foram particularmente críticos com a Gap, que recebeu nota máxima nos últimos relatórios Lets Clean Fashion. No estudo citam a recente decisão da Gap em não aumentar os salários dos seus fornecedores, valor que deixa os trabalhadores desses países em desenvolvimento na escala inferior de pobreza. Sam Maher, um dos autores do estudo, afirma que «enquanto a London Fashion Week revela todo o seu glamour, nada é revelado sobre a disparidade entre os enormes lucros obtidos pelos retalhistas de moda e a realidade de pobreza dos seus fornecedores. É hora dos gigantes da moda, como Gap e H&M, levarem isto a sério e comprometerem-se a pagar um salário digno a todos aqueles que fazem as suas roupas».

O estudo revela que as marcas que estão tomar medidas mais significativas para terminar com a pobreza são a Inditex, Next, Marks&Spencer e Monsoon. No entanto, diz ainda que nenhuma das 29 marcas de moda do Reino Unido paga ainda o salário mínimo aos seus fornecedores. Uma pesquisa realizada pela Labour Behind the Label encontrou trabalhadores indianos a produzir para a Debenhams, Next e M&S que recebem apenas 94,8 dólares por mês.