Têxteis-lar apontam à sustentabilidade e à inovação

Fibras naturais, funcionalidades e inovação são algumas das tendências procuradas pelos consumidores no mercado de têxteis-lar, que deve crescer e ultrapassar os 165 mil milhões de euros em 2028.

Pereira da Cunha

Efeitos de tingimento que imitam o fluxo da água, materiais leves e padrões que transmitem um sentimento de nostalgia costeira têm sido grandes tendências nos últimos meses e, segundo afirma em entrevista ao Lifestyle Monitor da Cotton Inc Autora Hinz, estratega de casa e interiores da Fashion Snoops, o mercado deverá manter essa onda nos próximos tempos. Azuis marinhos e verdes, amarelos ensolarados, neutros suaves e cores inspiradas em conchas vão continuar a ser procurados.

«Esperamos ver esta tendência continuar e evoluir com as preocupações crescentes sobre a saúde dos nossos oceanos, os impactos do turismo e um aumento no interesse à volta de estilos de vida que incentivam uma abordagem mais lenta e consciente da vida», explica.

O mercado mundial de têxteis-lar foi estimado em 125,6 mil milhões de dólares (cerca de 119,2 mil milhões de euros) em 2022 e, de acordo com um estudo do ResearchAndMarkets.com, deverá atingir 174 mil milhões de dólares (aproximadamente 165,1 mil milhões de euros) em 2028.

Para muitas marcas, o foco atual está em peças que funcionem tanto dentro como no exterior da casa, usando, para isso, materiais mais duráveis e com elevada performance. As cores e as texturas inspiradas pela natureza «serão fundamentais aqui – o que funciona também para a estética costeira. A sustentabilidade é igualmente uma preocupação, já que as pessoas querem ter a certeza que essas peças não estão a libertar microplásticos ou outros poluentes nos seus quintais ou casas», destaca Aurora Hinz.

Num webinar recente, citado pelo Lifestyle Monitor, Paul Bragan, senior partner da empresa de estudos de mercado Wakefield Research, indicou que no geral os consumidores estão à procura de produtos que sejam duráveis e que se enquadrem no seu estilo. Mas as razões específicas de compra são produtos que usem materiais sustentáveis, de marcas bem conhecidas e produtos com as mais recentes inovações.

Fibras naturais e funcionais

O algodão é, segundo o 2023 Home Textiles Survey da Cotton Incorporated, uma das fibras mais apreciadas pelos consumidores, com 70% dos inquiridos a afirmar que procura têxteis descritos como 100% algodão.

Os consumidores procuram também características de performance nos seus têxteis-lar e a maior parte está disposta a pagar mais por isso, conclui o mesmo estudo, que revela que os consumidores estão disponíveis para pagar mais por controlo da temperatura (82%), resistência aos maus odores (81%), resistência a nódoas (79%), gestão de humidade (78%) e características antimicrobianas (76%).

A sustentabilidade e a transparência são igualmente valorizadas pelos consumidores de têxteis-lar.

«As fibras naturais são importantes e melhoram a sensação de conforto ao proporcionarem paz de espírito para os consumidores. As pessoas procuram têxteis com fibras naturais sobretudo para a cama e a casa de banho e querem que esses espaços inerentemente íntimos sejam o mais limpos possível de químicos nocivos, microplásticos, corantes sintéticos, etc. Os consumidores estão geralmente mais atentos à importância das fibras naturais para o planeta e para a sua própria saúde. Isso é realmente um reflexo da fusão da procura pelo bem-estar e pela sustentabilidade», sublinha Aurora Hinz.

Sorema

O estudo 2023 Home Textiles Survey concluiu ainda que os consumidores consideram ser muito importante conhecer a composição de têxteis-lar como lençóis (66%), cobertores (63%), restante roupa de cama (60%) e toalhas (55%).

A principal razão apontada pelos inquiridos – sobretudo nas toalhas (57%) e lençóis (55%) – é que a composição é um indicador da qualidade dos produtos. Nos lençóis, os consumidores alegam que o conteúdo de fibras ajuda-os a determinar o conforto (51%), o toque suave do produto (50%) e a capacidade do produto os manter quentes ou frescos (45%). No caso das toalhas de banho, 57% indicam que a composição permite antecipar a suavidade, 45% o conforto e 44% a capacidade de absorção das mesmas.

87% dos inquiridos acredita também que a qualidade dos lençóis e da roupa de cama os pode ajudar a dormir melhor, o que vai ao encontro da maior importância dada ao bem-estar e à saúde.

«Têxteis com fibras ou propriedades que refrescam e cobertores pesados para ajudar com as insónias são exemplos de como este mercado está a dar resposta a estas necessidades emergentes», aponta Aurora Hinz. «Estamos a assistir à experimentação na forma como estas fibras [naturais] são usadas, sobretudo no mundo dos cobertores com pelo, que no passado eram feitos, na maioria, com fibras sintéticas como acrílico ou poliéster», acrescenta.

Clientes fiéis

A roupa de cama para crianças está igualmente a evoluir nesse sentido, «com uma preocupação cada vez maior com a utilização de fibras naturais e sustentáveis. À medida que as crianças crescem, é importante para os pais que os produtos que ficam [e já não são usados] não permaneçam como plásticos eternos», realça.

Há também a questão da fidelização, como refere Paul Bragan, já que 66% dos consumidores, especialmente nas famílias mais jovens, são fiéis aos produtos, matérias-primas ou marcas com as quais já estão familiarizados.

«Nesta área, há um forte sentido de lealdade – o que significa que os consumidores querem ficar próximos do que conhecem e já usaram antes», afirma. «São as mais recentes inovações e desenvolvimento de produtos que são um forte motor [especialmente para os mais jovens], o que significa que os consumidores procuram benefícios e características, mas querem que sejam oferecidas pelas marcas e produtos que já usaram». Aliás, destaca, «mais de três em cada quatro consumidores vão dizer a outros sobre a ótima experiência que tiveram com esse produto ou marca e vão passar a palavra. [A marca] não está a conquistar apenas um consumidor. Está a conquistar alguém que tem o poder de ser um defensor da marca, do produto e da característica. E é um efeito multiplicador. É desafiante, mas traz dividendos porque eles espalham a palavra», conclui o senior partner da Wakefield Research.