Lejo Sibbel, conselheiro da OIT, acrescenta que o nosso último relatório, publicado em Outubro de 2003, não revela evidências de trabalho forçado, nem de discriminação ou trabalho infantil na indústria do vestuário do Cambodja. No entanto, ocorrem frequentemente erros no pagamento de salários e a liberdade de associação é ainda um problema em algumas fábricas do sector, mas no conjunto, o governo dos Estados Unidos, parece estar satisfeito com as melhorias alcançadas, acrescenta o mesmo especialista.A comprovar esta análise, no início de Dezembro passado, este país ofereceu um aumento anual de 14% na quota de exportações de vestuário do Cambodja (sendo 18% o máximo possível).No mesmo sentido, Seng Phally, director executivo da Organização do Trabalho do Cambodja (CLO), admite que a supervisão permanente da Organização Internacional do Trabalho no seu país tem efeitos positivos nas condições de trabalho dos operários da indústria do vestuário, destacando, no entanto, que a vida desses trabalhadores continua a ser bastante dura e difícil. Segundo dados desta organização, o salário mínimo, que no Cambodja é actualmente de 45 dólares mensais, não permite a vida digna, conforme é referido no Código do Trabalho deste país. De acordo com este diploma, o referido salário mínimo deveria ser auferido tendo como base a semana de 48 horas, mas na prática para ganhar os mencionados 45 dólares, muitos trabalhadores precisam de trabalhar horas extraordinárias. Os operários mais qualificados, que são pagos à hora, podem chegar a ganhar até 100 a 135 dólares mensais, mas só o conseguem trabalhando horas extra em excesso (quatro horas por dia e ainda aos domingos). Já Ly Tek Heng, da Associação de Fabricantes de Vestuário do Cambodja, considera que os compradores estrangeiros, como a Nike (que abandonou o país após uma reportagem da BBC sobre trabalho infantil em 2000, e recentemente voltou a colocar encomendas neste país), Gap, Wal-Mart, Adidas, Levi’s, Marks & Spencer e H&M, vão certamente continuar a admirar a imagem positiva social do sector cambodjano do vestuário, após 2004. Este responsável associativo pergunta mesmo, de forma retórica será que cinco empresas nossas associadas teriam instalado novas fábricas em 2003, e 16 novos investidores, a maior parte dos quais de Taiwan e Hong Kong, teriam iniciado projectos de investimento, se acreditassem que a indústria do vestuário do Cambodja ia desaparecer do mapa dos fornecedores em 2005?.A sobrevivência desta indústria, que é responsável por quase 80% das exportações totais do país, assume portanto uma importência vital para esta nação pouco desenvolvida, na qual o rendimento médio per capita é inferior a um dólar por dia. Este país asiático de 13 milhões de habitants está ainda a recuperar do cruel regime de Pol Pot (1975-79) e do longo período de guerra.A indústria textile e do vestuário revela-se um elemento-chave no combate à pobreza, um dos principais problemas que afectam o país em questão. A provar isto, vemos que a incidência da pobreza entre as famílias que incluem pelo menos um elemento a trabalhar neste sector é inferior a 5%, enquanto atinge os 80% das famílias que vivem apenas da agricultura. Por outro lado, a indústria do vestuário cambodjana está perigosamente dependente de um número limitado de agentes (15 empresas acumulam mais de 50% do total de exportações). Além disso, ao nível governamental, a corrupção é generalizada, tendo um estudo recente do Banco Mundial mostrado que os pagamentos ilegais acrescentam perto de 50% aos custos do comércio com o Cambodja. Muitos dos trabalhadores têxteis do Cambodja são praticamente analfabetos e não possuem uma formação profissional específica. Aliás, à excepção do Centro de Formação Têxtil do Cambodja (criado em 2000 com o apoio do Japão), e de algumas iniciativas de entidades não-governamentais, os supervisores e os próprios trabalhadores aprendem a sua função na própria planta fabril. Neste país, as empresas têm igualmente que contra com elevados gastos com electricidade, combustível, capital, autorizações alfandegárias e taxas de quotas, no que se refere às exportações para os Estados Unidos, e dado que o rendimento anual per capita é inferior a 300 dólares, naturalmente não existe um mercado local para os produtos das grandes marcas internacionais de vestuário. Ainda assim, o sector do vestuário do Cambodja tem algumas importantes vantagens comparativas. As mais importantes são: o acesso preferencial do Cambodja a diversos mercados industrializados e economias em transição; baixos custos da mão-de-obra; presença na Organização Mundial do Comércio; e condições potencialmente interessantes para a produção de algodão.