Têxteis do Cambodja confiantes no futuro – Parte 1

O Cambodja mostra-se surpreendentemente optimista acerca das hipóteses de sucesso da sua indústria têxtil no cenário pós-2005.

 

Um dos aspectos que revela esta confiança no futuro deste sector, é o empenho manifestado pelo governo de Phnom Penh com o chamado Pacto de Responsabilidade Social, que levou já a um aumento de quotas nas importações permitidas pelos Estados Unidos, e que deverá atrair igualmente a este país os grandes grupos sub-contratadores ocidentais.

 

No passado, a indústria têxtil do Cambodja baseou o seu crescimento no trabalho para os fabricantes do sudeste asiático, de países como Hong Kong, Taiwan, China e Coreia, que procuravam assim contornar as quotas impostas às importações de vestuário pelos Estados Unidos.

 

Em 2003, cerca de 200 fabricantes de têxteis, empregando um total de 205.000 pessoas, exportaram artigos de vestuário no valor total de 1,5 mil milhões de dólares, dos quais perto de 70% tiveram como destino os Estados Unidos e 25% a União Europeia.

Em termos de produtos, as calças (de homem e senhora) e as camisas de algodão (de homem e senhora) dominaram as exportações para o mercado norte-americano, enquanto as vendas para a UE consistiram principalmente em pullovers e T-shirts.

 

Com a abolição das quotas norte-americanas na importação de têxteis, em 2005, a indústria do vestuário cambodjana perderá a principal razão da sua existência. Apesar deste país oferecer uma mão-de-obra barata, não conseguirá competir com nações como a China, a Índia ou o Paquistão, em termos de custos totais e flexibilidade produtiva. Assim, a conclusão mais lógica é que a maior parte das empresas produtoras de vestuário do Cambodja estão condenadas a desaparecer.

 

Neste contexto, é de realçar o facto de, não só os fabricantes de vestuário cambodjanos (que poderiam desanimar ao pensar no cenário a curto prazo), mas também diversos analistas do sector de outros países defenderem a firme opinião segundo a qual a esta indústria possui no Cambodja boas possibilidades de sobrevivência no mercado pós-2005.

 

De acordo com Nigel Twose, analista do Banco Mundial, o optimismo dos empresários do vestuário no Cambodja assenta na sua recente experiência positiva: este sector foi bem sucedido ao adoptar padrões de trabalho com elevada qualidade, de modo a aumentar as respectivas quotas de exportações para os Estados Unidos. Desta forma, os fabricantes deste país acreditam que, após 2004, será possível continuarem a prosperar em nichos de mercado, baseados na combinação de preço + qualidade + padrões de qualidade.

 

Lejo Sibbel, conselheiro técnico do projecto Melhoria das Condições de Trabalho no Sector do Vestuário, promovido pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), no Cambodja, afirma “nós esperamos que a indústria do vestuário cambodjana sobreviva após 2004, graças ao seu empenho noPacto de Responsabilidade Social”.

 

“A China é, sem dúvida, um concorrente temível, mas os grandes compradores ocidentais não vão colocar todos os ovos no mesmo cesto, e dado que a relativamente pequena indústria do Cambodja não é vista como uma ameaça, poderá recolher as preferências ocidentais, graças aos seus esforços no âmbito doPacto de Responsabilidade Social”, adianta o referido responsável da OIT naquele país asiático.

Aliás, este projecto da Organização Internacional do TrabaIho, actualmente em curso no Cambodja, desempenha um importante papel na decisão do governo americano, no que toca aos bónus atribuídos anualmente às quotas de importação.

 

O referido país começou a exportar artigos de vestuário em 1995, no valor de 20 milhões de dólares por ano, e como resultado da assinatura de acordos comerciais favoráveis, assinados em 1996 com a União Europeia e os Estados Unidos, a sua indústria cresceu rapidamente.

 

Em Janeiro de 1999, no entanto, o Cambodja e os Estados Unidos rubricaram um acordo de comércio de têxteis e vestuário, que veio impôr quotas às exportações de 12 tipos de artigos. Este acordo foi inovador, na medida em que veio estabelecer uma relação directa entre as quotas atribuídas a este país e os respectivos padrões sociais na sua indústria têxtil, e incluíu cláusulas que atribuem ao Cambodja bónus nas quotas se o referido sector industrial cumprir na essência o Código do Trabalho daquele país, bem como os principais padrões de trabalho internacionalmente reconhecidos.

 

Após a assinatura deste tratado, o Cambodja e os Estados Unidos solicitaram a assistência técnica da OIT, e, em Maio de 2000, foi estabelecido um projecto com orçamento de 1,4 milhões de dólares, aos quais os norte-americanos somaram 675 mil dólares, em Novembro de 2002.

 

Em finais de 2003, os inspectores envolvidos no projecto em questão haviam visitado, pelo menos uma vez, todas as fábricas de vestuário do Cambodja, tendo sido elaborados sete relatórios extraordinariamente detalhados acerca das condições de trabalho nas empresas exportadoras deste país.