O ataque ao restaurante situado no bairro diplomático de Gulshan, em Daca, começou na noite de sexta-feira, prolongando-se durante 12 horas, e foi já reivindicado pelo autoproclamado Estado Islâmico.
O Bangladesh, um dos países mais pobres do mundo, sustenta 80% das suas exportações e cerca de quatro milhões de postos de trabalho na indústria do vestuário, base da economia local (ver As medidas do vestuário no Bangladesh), surgindo logo depois da China como fornecedor dos mercados desenvolvidos, nomeadamente a Europa e os EUA.
«Um incidente como este irá, definitivamente, afetar-nos, na medida em que os nossos importadores de países como EUA e China vão estar mais receosos em visitar-nos por causa das preocupações com a segurança», afirmou Shahidul Haque Mukul, diretor-executivo do grupo Ananta Garments, à Reuters.
A ITV do Bangladesh tem vindo a recuperar-se da grande tragédia do Rana Plaza que, há três anos, matou mais de 1000 pessoas. O trágico acontecimento motivou um controlo apertado à regulamentação das unidades fabris e à legislação laboral e levou a muitos encerramentos de fábricas e à perda de exportações e postos de trabalho (ver Da fábrica para a universidade).
O país tem vindo também a ser atingido por um conjunto de ataques recentes, reivindicados pelo Daesh e pela Al Qaeda (ver ITV do Bangladesh sob ameaça), que tiveram como alvos bloggers considerados ateus, liberais, membros das minorias cristã e hindu e, mais recentemente, ativistas LGBT.
Contudo, o ataque de sexta-feira consubstanciou uma ameaça mais clara para a indústria. Os insurgentes atacaram um edifício que abrigava restaurantes de luxo populares entre a comunidade de estrangeiros, sobretudo de empresários ligados ao sector têxtil e vestuário, e, entre os mortos, estão mesmo vários empresários italianos da indústria da confeção.
«O Bangladesh nunca conheceu um incidente tão horrível», lamentou Mohammad Siddiqur Rahman, presidente da Garment Manufacturers and Exporters Association. «É um forte abalo à nossa imagem. Vai pressionar os nossos negócios, mas ainda não podemos dizer em que medida», acrescentou.
Um executivo sediado no Bangladesh, que trabalha para um comprador de vestuário com sede em França, revelou temer uma queda profunda nos negócios nos próximos dias. Mas outras figuras da indústria acreditam que o receio pode ser gerido e que, por exemplo, os fabricantes podem realizar mais reuniões com clientes ocidentais fora do Bangladesh, em cidades asiáticas como Singapura ou Hong Kong, uma tendência que havia começado há algum tempo.
«As preocupações sobre as visitas às nossas fábricas, a realização de reuniões, etc., por estrangeiros vão ser deslocadas durante alguns meses, mas acredito que, dentro de seis meses, as coisas vão acalmar e voltar ao normal», admitiu Abdullah Hil Rakib, responsável pelas vendas e exportação da Brothers Fashion Ltd.
No Bangladesh, a indústria deve a sua capacidade de resistência aos salários, dos mais baixos do mundo, às suas valências e ao facto de a China se ter mostrado menos competitiva como produtor nos últimos anos. O salário mínimo mensal para trabalhadores de vestuário no Bangladesh ronda os 68 dólares, em comparação com os 280 dólares na China.