Publicadas em meados do ano passado, as tendências do WGSN para a estação quente do próximo ano refletem já os primeiros impactos da pandemia de Covid-19 na indústria da moda e nas atitudes e comportamentos do consumidor. Connected, Euphoric e Resourceful são as três direções que condicionam as propostas para homem, senhora e criança.
Connected explora a nossa relação connosco e com os outros num mundo de disrupção extrema, como desenvolvemos relações de uma forma não física, como gerimos o nosso bem-estar e saúde e como nos ligamos a um significado maior além do aqui e do agora.
Esta é uma tendência muito versátil de justaposições e ideias aparentemente opostas. Tecnologias e talismãs, espiritualidade e ciência encontram lugar em Connected, aponta o WGSN. A linha comum nestas ideias é que o design terá menos a ver com os produtos ou a experiência em si e mais com o que serve a Humanidade, seja um casaco com tecnologia inteligente, novos materiais que oferecem um maior conforto e proteção ou uma app de terapia virtual que dá segurança.
Euphoric, por seu lado, explora o poder do design para melhorar o nosso estado de espírito e incitar o positivismo. A alegria e o otimismo são encarados como necessários e até fulcrais, numa conjuntura de desafios e constrangimentos. O prazer e o abandono sem remorsos vão assumir quase uma faceta rebelde – uma mistura de estilo e afirmação.
Os designs vão celebrar a criatividade e a liberdade que vêm da expressão digital, mas também oferecer uma abordagem aos temas do natural e artesanal, com uma abordagem vibrante às técnicas ancestrais e à reciclagem que invocam o espírito provocante dos movimentos de subculturas.
Esta tendência reavalia a relação com as coisas que usamos e como as mesmas são fabricadas. Prefere o local face ao global e está alicerçada na praticidade, na sustentabilidade e no artesanal. Nesta tendência, realça o WGSN, a história de como um produto é feito será tão importante quanto como o que é feito. As qualidades imperfeitas e decorativas dos materiais naturais e dos processos artesanais serão celebradas e o minimalismo será abraçado como um estado de espírito em vez de uma simples estética, com foco em menos e melhor em vez de apenas simples.
Materiais sustentáveis e funcionais
A escassez de recursos vai resultar em novas soluções de design que se centram em fibras regenerativas, gestão de resíduos, sistemas circulares e cadeias de aprovisionamento que são, ao mesmo tempo, éticas e transparentes.
Depois do Covid-19, conforto, segurança e confiança em relação à saúde serão diferenciadores para metais como o cobre e a prata, que têm propriedades sanitárias e higiénicas comprovadas, assim como para minerais aos quais são atribuídos poderes curativos.
Após o confinamento, os consumidores vão também explorar um renovado prazer na criatividade e isso irá alimentar um movimento no design de quase euforia que celebra o humor irónico e o upcycling individual.
A tatilidade terá um papel importante na criação de produtos, para gerar intimidade com os consumidores, com os materiais a abarcarem formas quase humanas para conforto físico e visual. Os têxteis com enchimento terão, assim, um lugar central.
As texturas mates trazem igualmente um certo sentido restaurativo aos espaços e produtos, aplicáveis em vestuário e em elementos decorativos.
A radiância natural evolui em superfícies e produtos translúcidos, num conceito aplicável tanto a têxteis físicos como híbridos digitais, o mesmo acontecendo com as superfícies que se transformam e ganham elementos psicadélicos. As transparências, por sua vez, ganham textura e podem ser usadas tanto em vestuário, como embalagens, joalharia e decoração de interiores.
Cautela nas cores
A paleta para a primavera-verão 2022 equilibra algumas tonalidades novas com outras familiares, na busca por cores que transmitam calma, conforto e otimismo.
Com a evolução da pandemia de Covid-19, a incerteza tornou-se o novo normal. Como tal, é expectável que na estação quente do próximo ano os consumidores se mostrem mais cautelosos, ao mesmo tempo que a casa e o chamado homewear ganham um renovado protagonismo, havendo ainda uma maior procura por design que proporcione uma certa alegria e conforto.
A paleta está dividida em duas partes: Enhanced Nature e Everyday Pleasure.
Já Everyday Pleasure enche-se de tons mais suaves e inspirados nos prazeres simples e nos sentidos do gosto, tato e olfato. Estes tons celebram a tatilidade dos objetos do quotidiano e transmitem uma sensação de equilíbrio e calma. A paleta não ostenta grandes contrastes, apenas uma seleção harmoniosa de tons terra mais quentes com cores mais escuras como o verde azeite, azul oceano profundo e carvão claro.
Como conselhos, o WGSN sugere que se escolham tonalidades com uma atratividade de longo prazo. «Mais de 30% das nossas cores para a primavera-verão 2022 vêm de estações anteriores para refletir um cenário comercial mais cauteloso», aponta o gabinete de tendências. «Agora é a altura para desenvolver uma forte paleta central para proteger a sua cadeia de aprovisionamento e criar resiliência de marca. Os consumidores vão privilegiar a familiaridade, por isso é importante fazer escolhas de cor consistentes e sustentáveis», acrescenta.
Como tons de base, o WGSN selecionou 10 cores, que servem como pano de fundo para a paleta da primavera-verão 2022, e «esperamos que estes neutros comerciais e clássicos sejam especialmente importantes num cenário comercial prudente», refere. O castanho sépia, o dourado a lembrar campos de trigo, o barro, o cru, o branco ótico, o cinzento prateado, o verde uniforme, o azul-marinho francês, o cinzento azulado e o preto compõem a seleção.
O orquídea é outra das cores-chave, uma evolução do rosa da primavera-verão 2021 e do magenta-elétrico do outono-inverno 2021/2022. É um tom que funciona bem para o contexto físico e digital e inspira sentimentos de otimismo e vigor, podendo ser usado em activewear, vestuário de cerimónia e ainda no design de interiores.
O amarelo manteiga é mais uma tonalidade de continuidade, depois do amarelo ter vindo a conquistar o seu espaço nos últimos três anos. Nesta estação, perde o impacto do limão, tornando-se mais suave. É uma cor que, segundo o WGSN, está já a surgir no mercado de vestuário de senhora de luxo, mas que também poderá ser aplicado em loungewear, casualwear e vestuário para os mais pequenos.
Já o azul transmite confiança e é uma tonalidade popular em todos os mercados e categorias de produto, pelo que o azul atlântico será uma opção essencial também para a estação quente do próximo ano. Usado já por marcas de slow fashion, sobretudo por aquelas que tingem com indigo natural, o azul atlântico é, de acordo com o WGSN, perfeito para o vestuário de homem mas constitui também um clássico fulcral para o vestuário de senhora.