
Muitos foram os alegados candidatos- o holandês Rodamco, o espanhol El Corte Inglés, o francês Groupe Galeries Lafayette,…- mas o vencedor acabou por ser Maurizio Borletti, patrão do department store italiano La Rinascente. Deste modo, o empresário italiano obtém, por mais de mil milhões de euros, uma das mais emblemáticas insígnias francesas, a qual deverá conservar o seu nome e o seu “french touch”. Maurizio Barletti, de apenas 39 anos, representa a terceira geração de uma célebre dinastia industrial milanesa que fez fortuna na fiação do linho (Linificio e Canapificio), nos instrumentos de precisão (Borletti Veglia), nas máquinas de costura (Fratelli Borletti) e na distribuição. Os seus antepassados foram os inventores do comércio moderno italiano: Standard (rebaptizado Standa), Upim e Rinascente. Estas duas últimas permaneceram na família Borletti até ao início dos anos 70, data à qual foram cedidos a uma outra grande dinastia italiana, os Agnelli. No ano transacto, Maurizio Borletti, juntamente com o fundo de investimento italiano Investitori Associati, adquiriu o grupo Rinascente e as suas duas insígnias (La Rinascente e Upim). Hoje, o patrão da Rinascente não esconde a sua ambição: integrar a insígnia italiana no restrito clube dos grandes armazéns de luxo mundiais, lado a lado com Harrod?s, Selfridges ou Bon Marché. A insígnia “Le Printemps” foi criada, em 1865, pelo empresário francês Jules Jaluzot, que abre a primeira loja no célebre boulevard Haussmann- “Le Printemps à Paris”. Em 1991, a insígnia é comprada, ao grupo suíço Maus-Nordmann, por François Pinault. Em 2001, sob a direcção de Laurence Danon, os grandes armazéns encetam uma cura de rejuvenescimento cifrada em 30 milhões de euros por ano. Em 2005, Le Printemps facturou 752 milhões de euros (- 4%), empregando 5.287 assalariados e detendo 19 superfícies (17 em França, uma no Japão e uma na Arábia Saudita). Maurízio Borletti prevê investir no Le Printemps cerca de 280 milhões de euros durante os próximos cinco anos. O grupo PPR- Pinault-Printemps-Redoute -, fundado por François Pinault em 1963, encetou pelo negócio da madeira e rapidamente se estendeu à grande distribuição, para depois privilegiar o luxo. O grupo francês possui uma vasta panóplia de marcas e insígnias conhecidas, que inclui as especialistas em móveis Conforama, em produtos culturais Fnac, em informática Surcouf e em venda à distância Redcats (La Redoute em França). Em 2005, registou um volume de negócios de 17,8 mil milhões de euros (+ 4,8%), com resultados líquidos que ascendem a 539 milhões de euros (+ 11,2%), sendo 83% do seu volume de negócios gerado pela distribuição, e o restante pelas marcas de luxo. Este segundo pólo do grupo PPR- o luxo -, designado por Gucci Group registou, em 2005, um volume de negócios de 3 mil milhões de euros, emprega 12.843 colaboradores e possui 426 lojas. Para além da própria Gucci, o pólo inclui as marcas de luxo Yves Saint Laurent, YSL Beauté, Balenciaga, Boucheron, Sérgio Rossi, Bédat and Co, Alexander McQueen e Stella McCartney. Quanto ao pólo da grande distribuição, emprega 71.328 e detém 719 lojas pelo mundo inteiro. A venda deste ex-libris de Paris faz parte da estratégia do grupo PPR de centrar-se no luxo, segmento que iniciou em 2004, e que, embora represente somente 17% do seu volume de negócios, gera mais de 34% dos resultados líquidos totais. O anúncio do acordo entre Maurizio Borletti e François Pinault foi recebido como uma lufada de optimismo em Itália, acrescido pelo acto de se ter seguido ao anúncio de uma outra aquisição relevante, a do editor francês Emap por Mondadori. Estes dois acontecimentos vêm colocar um travão na ofensiva francesa levada a cabo em Itália nos últimos anos com, entre outras, as aquisições de Fendi e Emílio Pucci pela LVMH, a divisão alimentar da Rinascente pela Auchan, o distribuidor Coin pela Pai e o grupo Gucci pela própria PPR. No negócio do Printemps a Itália (La Rinascente) levou a melhor sobre a França- pois o candidato mais “sério” era o Groupe Galeries Lafayette. Será também assim no Mundial 2006?