A Tearfil vai apresentar a 14 de Junho, na Fundação de Serralves, no Porto, uma gama de produtos têxteis em parceria com a Lenzing, sob a égide da arte e inovação com o lema optimista «Be Happy». O Jornal Têxtil falou com Pedro Almeida, um dos administradores da Tearfil, que nos fala da empresa, da parceria e da sua leitura dos problemas e soluções para o sector têxtil nacional. Jornal Têxtil- Gostava que nos apresentasse a empresa… Pedro Almeida – A Tearfil é uma fábrica de fiação de ramas de algodão e fibras e foi fundada em 1973 pelo meu Pai, Joaquim de Almeida Freitas, associando-nos a mim e aos meus irmãos, introduzindo-nos desta forma no mundo dos negócios. A instalação desta unidade surge após o voluntário afastamento do meu Pai de uma outra fiação, e por imperativo das necessidades de fio de qualidade da António Almeida & Filhos (Fábrica do Outeirinho), unidade de Tecelagem e Acabamentos pelo mesmo fundada em 1956, a girar em nome de seu Pai e em que, por razões familiares, associara seus irmãos, aos quais viria a comprar as suas posições no ano de 1986, dando-lhe continuidade na colaboração exclusiva, minha e dos meus irmãos, ainda e sempre com a razão social inicial de António de Almeida & Filhos, Lda. Embora empresas juridicamente autónomas, a Tearfil complementa a Outeirinho na área especializada da fiação, formando com ela um grupo vertical que se completa pela AVANTÊXTIL, empresa criada e gerida pelo mesmo empreendedor, meu Pai, para uma intervenção directa no mercado externo ao nível do volume e da qualidade das produções geradas naquelas. A Tearfil começou por construir edifício próprio em terrenos de sua propriedade que lhe permitiram uma expansão adequada às necessidades, iniciando a sua laboração com uma fiação Open-End para fios grossos, a primeira na Península Ibérica, e logo outra convencional para fios médios. Em 1987 monta uma fiação mista para fios finos de alta qualidade, esta complementada em 1993 por uma linha de mesclas, numa resposta pronta às solicitações do mercado, estabelecendo uma estreita colaboração com os seus clientes de sempre e dos novos que a fama dos seus produtos atrai e fideliza. JT – Os clientes são as empresas de têxteis-lar? PA – Não só, pois a Tearfil faz todo o tipo de produtos com fibras cortadas como 100% algodão, misturas íntimas de algodão com outras fibras e também mesclas em 100% algodão, estando desta forma apetrechada a servir a industria de têxteis lar, malhas, camiseiros, cortinados e fabricantes de peúgas. Em 2001 a Tearfil introduziu os avanços já mencionados, precisamente para fugir ao mercado tradicional, visto este estar sobrecarregado com ofertas do exterior a preços impossíveis de serem praticados pela industria nacional. Outra grande aposta da Tearfil, assenta na sua expansão no mercado internacional, de forma a alargar a base de Clientes, e assim atingir economias de escala na produção de alguns artigos, bem como enfrentar uma concorrência mais evoluída que obrigue a Tearfil a melhorar continuamente e assim atingir a excelência. JT – Que comentários merecem os resultados da Tearfil em 2001? PA Como já referi, a desenfreada concorrência externa obrigou a uma descida na ordem dos 30% no valor do fio, acrescentada da descida acentuada no valor da rama de algodão. Fomos assim apanhados de surpresa pelo facto de termos já contratos firmados, como sempre fazemos, de aquisição de algodão para todo o ano, resultando em perdas avultadas de forma algo inesperada. Daí considerarmos que o ano de 2001 não tenha sido um exercício de bons resultados. JT – Mesmo tendo em conta a situação actual, não tem perdido competitividade nem volume de facturação. Mas tem as margens mais apertadas? PA – As margens são efectivamente muito mais apertadas, visto que o preço do fio, no espaço de um ano e pouco, baixou na ordem dos 20 a 25%. JT – Estamos a viver tempos mais difíceis mas mesmo assim estamos a conseguir resultados razoáveis. Não há um contra-senso entre os resultados e o habitual discurso de crise? PA – Não sou a pessoa mais indicada para lhe responder, mas há concerteza várias razões explicativas desse contra-senso. Um aspecto importante é que o aumento do volume de facturação pode não estar associado ao aumento das margens de lucro. O contexto é de grandes dificuldades. As encomendas são muito mais pequenas e com prazos de entrega apertados, obrigando por vezes a investimentos no sentido de uma resposta rápida e eficaz. Este esforço acaba por não ser compensado no produto final, o qual tem vindo a sofrer reduções acentuadas, fruto da desenfreada concorrência. JT O mercado das fibras naturais e sintéticas sofre actualmente importantes revoluções. Qual a sua leitura deste segmento? PA – As aplicações hoje são várias e todas estas fibras, tanto as naturais como as artificiais, têm várias possibilidades de aplicações. Começam a ter comportamentos demasiado inovadores, de forma a combaterem o algodão em toque, absorção, leveza e outras características. As empresas têm que pensar no algodão como base para misturas com outras fibras. Neste momento a Turquia, Indonésia, Paquistão e outros, já têm máquinas e know-how suficientes para se apresentarem no mercado com artigos tão sofisticados quanto os nossos, e a preços substancialmente mais reduzidos. Com uma gama de fios muito variada, implica mudanças constantes nas máquinas para responder rápido e eficientemente ao cliente, o que representa, aquando da substituição, um decréscimo de produção na ordem dos 10%. A Tearfil tem assim uma maior capacidade de resposta, com prazos mais reduzidos que os nossos concorrentes. O objectivo da criação da fiação experimental é unicamente o desenvolvimento de novos produtos e, ensaios até 15, 20kg. As encomendas são em número elevado, originando problemas na parte administrativa e nos quadros médios-altos. Estamos com dificuldade em encontrar pessoas qualificadas em quantidade suficiente para podermos impor outro ritmo de trabalho. JT – Há falta de técnicos especializados. Como é que o país e o sector podem resolver o problema? PA – Passa tudo pela educação dos nossos jovens, enquanto estudantes. Em tempos tínhamos uma escola industrial vocacionada para a preparação dos quadros médios, e que muita falta fazem ainda hoje à industria. Penso também que as nossas universidades ligadas aos cursos têxteis não possuem equipamentos nem formadores, tanto em qualidade como em quantidade, suficiente para formarem os jovens engenheiros. Logo, daí resulta uma grande dificuldade em competir com países mais desenvolvidos nesta ramo. JT – A fiação em Portugal tem futuro? PA – Eu perspectivo enormes dificuldades para o têxtil nos próximos seis ou sete anos. Não quero com isto dizer que vai deixar de existir têxtil em Portugal, mas acredito que grande parte vá fechar. Não estou a falar de nenhum sector em particular, mas do têxtil em geral. Nós temos uma situação geográfica muito favorável e um histórico têxtil de algumas décadas, onde se realça a resposta e confiança que conseguíamos dar aos investidores internacionais, imagem esta que provavelmente hoje temos dificuldade de manter dada a evolução significativa de outros países. JT- No seu ponto de vista como empresário, qual é a ideia que tem das políticas de apoio ao sector? PA – As estruturas existentes em Portugal para apoio da industria têxtil, são extremamente débeis. Sempre fomos associados das instituições ligadas ao sector, trabalhando em estreita colaboração, no entanto, o apoio não é suficiente para as nossas necessidades. Com certeza que há casos de entidades que fazem um esforço meritório, mas em regra geral os apoios passam despercebidos. A Tearfil só pode ser forte a nível internacional se a indústria têxt