Uma mulher por entre os homens. É assim que Salomé Almeida é conhecida no meio dos “sapateiros”. «Foi difícil como todos os inícios de empresa. Poderei dizer que por ter sido praticamente a única mulher nesta indústria tao masculina, na altura bastante jovem, porém, fui muitas vezes questionada sobre a minha capacidade de liderança e de como poderia estar à frente dos destinos de uma empresa com 65 trabalhadores», conta ao Portugal Têxtil.
Foi com apenas uma linha de produção que a Take a Walk começou, há 20 anos, «inicialmente subcontratada por colegas meus da indústria de calçado» e com a produção centrada em modelos de homem.
«O grande desafio foi criar uma coleção e exportar», afirma administradora, que percebeu desde logo que teria que por pés ao caminho em direção à internacionalização. «Tenho muita paixão por esta indústria e enorme prazer em criar coleções. Embora não saiba desenhar, consigo transferir as minhas ideias para a minha equipa de design» e «arriscamos em cada estação a elaborar uma coleção própria para apresentarmos aos nossos clientes. Muitas das empresas ainda trabalham muito com o produto que o cliente desenha», explica Salomé Almeida.
Depois de anos a vender sapatos de homem, a Take a Walk decidiu avançar com uma linha de senhora que, curiosamente, foi um sucesso e que acabou por se tornar no ponto de viragem da empresa, convertendo a produção unicamente em calçado feminino, sendo as botas atualmente o produto estrela da casa.
«Para além de ser um artigo de moda atual, muito usado tanto em inverno como no verão, também percebemos que vender sandálias era difícil porque competíamos com produtores com preços mais baixos como o Brasil ou a India. Atualmente, fazemos somente cerca de 12 mil pares de sandálias por ano», revela a empresária.
Com clientes maioritariamente europeus, Salomé Almeida quer caminhar em outras direções. «Depois da pandemia achávamos que iriamos ter uma retoma do consumo, mas fomos confrontados com a guerra na Rússia. Os clientes ressentiram-se porque em loja não estão a vender as mesmas quantidades e, claro, compram com mais medo e fazem apostas mais reduzidas para medir o resultado. Por exemplo, se antes compravam 1.000 pares fácil, agora pedem-me 200 com a possibilidade de reposição. Temos de estar recetivos a esta situação e sermos mais flexíveis nesta altura», considera a administradora, que gostaria de entrar nos EUA, Austrália ou Nova Zelândia para «compensar as perdas na Europa».
Com um efetivo de 83 trabalhadores e uma capacidade diária de produção em torno dos 750 pares de sapatos, a Take a Walk deverá encerrar o ano com um volume de negócios de cerca de 7 milhões de euros, um valor que a administradora classifica «como bom», mas ainda longe dos registados pré-pandemia, à volta dos 9 milhões de euros.
