O tema não é novo para a empresa, garante Ana Pinheiro, administradora da Mundotêxtil. «Há muitos anos que a sustentabilidade faz parte da nossa estratégia empresarial, aliás acho que é um dos grandes focos e preocupações que temos. Agora decidimos foi comunicá-la de uma forma mais abrangente», explica ao Portugal Têxtil.
Uma das mais recentes iniciativas de comunicação passou pela abertura da ETAR ao público em geral, com visitas agendadas para conhecer a realidade e os esforços implementados nesse sentido.
«Começámos a perceber que as pessoas aqui em Vizela estavam nervosas em relação ao processo da estação de tratamento de águas em si e questionavam muita coisa nas redes socias. Achámos que a melhor forma de dissipar qualquer dúvida era abrir as portas da ETAR e mostrar como funcionava», justifica.
Um processo rigoroso e biológico
À ETAR da Mundotêxtil chegam mais de 2.000 m3 de água por dia, que passam por quatro fases de um tratamento «exclusivamente biológico», como explica João Oliveira, responsável pela manutenção e ambiente da empresa.
Numa primeira fase, os efluentes são filtrados e são separados os resíduos de maior dimensão, como linhas e felpos, passando depois para um tanque onde lamas ativadas, constituídas por bactérias e fungos, digerem a matéria orgânica nos seus processos metabólicos. O efluente passa então para uma terceira fase do tratamento, onde são removidas bactérias, sólidos em suspensão, nutrientes em excesso e compostos tóxicos específicos, sendo efetuada a remoção da cor, e, por fim, é realizada a descarga da água no rio Vizela.

O processo dura entre 18 e 24 horas, sendo automático e gerido por gravidade, com testes de cor diários e análises externas mensais, que são enviadas para a Agência de Proteção do Ambiente. O objetivo é «garantir que o impacto ambiental e estético é mínimo», resume João Oliveira.
«É um processo muito técnico, que tem imensas especificidades, e de um controlo e de um rigor alucinante», afirma Ana Pinheiro.
As preocupações com a água refletem-se também na aquisição de jets com relações de banho mais curtas e a implementação de um sistema de captação de água no telhado que permite, nos meses mais chuvosos, alimentar diretamente os processos da empresa em mais de um terço do consumo total de água.
Três pilares para um mundo melhor
A empresa está a preparar o primeiro relatório de sustentabilidade, que deverá ser publicado este ano, tendo como base de trabalho os standards GRI. «É uma forma mais institucional de comunicar as boas práticas e tudo o que faz parte da nossa cultura e do dia a dia», indica Ana Pinheiro.
Aliás, salienta Joana Oliveira, responsável de inovação e sustentabilidade, «a Mundotêxtil já está comprometida com estes indicadores há muito tempo, só que não os reportávamos de uma forma tão rigorosa e que é mais facilmente reconhecida e credível para os nossos clientes». O relatório é, de resto, quase uma necessidade, «porque as solicitações relativas a indicadores de sustentabilidade têm sido cada vez maiores por parte dos nossos clientes. Assim, vamos publicar esses dados de uma forma mais organizada e sistemática», aponta.

Internamente, a Mundotêxtil dividiu a questão da sustentabilidade em três grandes áreas – governance, ambiental e social –, para as quais definiu metas para 2030, alinhadas com os compromissos definidos pelas Nações Unidas. «Ao nível do governance são: ter um sistema económico sustentável; a promoção da sustentabilidade na cadeia de valor; a transição do negócio para uma economia circular; e o fomento da investigação e da inovação. Ao nível do ambiente temos também três compromissos: procura de matérias-primas mais sustentáveis; redução dos impactos ambientais da atividade, nomeadamente ao nível das emissões, energia, água e efluentes; e reutilização de matérias-primas e resíduos no processo. Ao nível social são: o desenvolvimento do capital humano; a satisfação dos colaboradores; a promoção da equidade do trabalho; melhorar as condições de segurança e saúde dos trabalhadores; e contribuir de forma responsável para uma sociedade mais justa», enumera Joana Oliveira.
Estes objetivos têm já vindo a ser trabalhados, nomeadamente através de um projeto que envolve a luta ao desperdício, de materiais e não só, onde todos foram incluídos, desde a gestão às senhoras da limpeza. Outra iniciativa, que vai ainda ser anunciada oficialmente, é um programa de bolsas de estudo direcionado para os filhos dos quase 572 colaboradores da Mundotêxtil, a que se junta o programa Entrelaçar, «que desenvolve as competências de liderança nas chefias. A nossa equipa é muito jovem em termos de chefias e é importante dotá-los de capacidade para liderar e para comunicar eficazmente com as pessoas», sublinha Ana Pinheiro.
Um conjunto de medidas a pensar no crescimento da empresa, que no ano passado conseguiu equilibrar o negócio e as contas, apesar das contingências da pandemia, e fechar com um volume de negócios à volta dos 33 milhões de euros. «Temos muita coisa que foi feita nos últimos anos, e que foi muito bem feita, e temos muita coisa para fazer. O nosso caminho é mesmo este. Crescer de forma sustentada é o mais importante para nós e é a nossa estratégia», conclui Ana Pinheiro.