Sustentabilidade de alta performance

Os têxteis e compósitos com elevada tecnicidade têm também, e cada vez mais, preocupações sustentáveis, como os que são desenvolvidos no INEGI com fibra de carbono reciclada.

[©INEGI]

Nos últimos painéis da iTechStyle Summit, Hao Ding, da Covation Biomaterials (que ficou com os ativos da Dupont Biomaterials) destacou as vantagens da fibra Sorona, que tem 37% de conteúdo renovável, exige menos 30% de energia e produz menos 50% de emissões de gases com efeito de estufa em comparação com poliamida 6, sendo ainda rastreável.

Já Miguel Falcão, CEO do Recit e investigador de doutoramento na Universidade do Minho, apresentou um projeto de reciclagem de linho, que permite ter fios Nm 10 em 60% algodão/40% linho reciclado com as mesmas características de resistência de quando se usa fibras virgens, que podem ser aplicados em tecidos ou malhas. «Com uma percentagem menor de linho reciclado é possível conseguir fios mais finos», indicou.

Nuno Correia [©CITEVE]
Nuno Correia, diretor da unidade de materiais compósitos do INEGI – Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial, focou-se nas fibras de carbono e em alguns dos projetos que o instituto tem feito nesta área, como o realizado em parceria com a Fisipe (atual SGL Composites) com o objetivo de desenvolver fibras de carbono para aplicações no espaço, nomeadamente em subcomponentes de satélites. No âmbito do projeto mobilizador Texboost, o INEGI teve intervenção no subprojecto que desenvolveu têxteis técnicos com fibra de carbono para a indústria automóvel. «Este projeto é simbólico da capacidade que existe na indústria têxtil de colocar fibras num ciclo de produção na cadeia de valor que pode chegar até aos produtores de componentes», sublinhou.

Atualmente, o INEGI está a desenvolver novos processos de produção mais ecológicos. «Muito do que estamos a fazer hoje é reduzir o impacto ambiental destes materiais compósitos. Em termos de processamento, estamos a tentar sair dos autoclaves, porque consomem muita energia a fazer um único quilo de compósito», explicou Nuno Correia. Entre as tendências estão «a impressão 3D de compósitos de fibras contínuas», que vai «ser muito relevante no futuro», acredita. Há inclusive novos métodos de tecelagem que criam preformas 3D para compósitos.

O futuro passará por uma maior automatização e autonomia dos processos. «A combinação inteligente do design e processos autónomos com máquinas e manufatura aditiva, mas também combinações de propriedades e resistência e rigidez, em que poderemos imprimir diretamente a resistência do material definindo na impressora para onde vão as fibras e coisas do género, vão crescer», exemplificou Nuno Correia. Da mesma forma, os compósitos com termoplásticos vão aumentar a sua importância. «Tem vindo a acontecer nos últimos 20 a 30 anos, mas certamente será algo que vamos ver cada vez mais no futuro – a utilização de termoplásticos para evoluir as fibras de carbono e de vidro é realmente um tópico», realçou.

Entre outros projetos, o INEGI está a usar fibras de carbono recicladas e termoplásticos para produzir janelas de avião, a colaborar com a Jaguar Land Rover na produção de portas em fibra de carbono reforçadas com compósitos para um automóvel elétrico, que deverá permitir uma redução do peso de 40%, e a desenvolver e otimizar uma estrutura tubular em compósitos para suportar uma antena de telecomunicações num satélite.

Próximo nível nos biocompósitos

Já Erik Macias Simeon, da Aitex, apresentou o projeto r-LightBioCom, para criar biocompósitos leves de elevada performance, que começou este ano e junta 15 empresas europeias. O objetivo é fazer uma mudança de paradigma na forma como os compósitos de elevada performance são produzidos, criando modelos de produção circulares. «Na Aitex, estamos a tentar combinar basalto, cânhamo, linho e kenaf com estes aditivos de base bio e a pensar no futuro, como é que no fim de vida estes produtos vão ser, de alguma forma, reutilizados», adiantou Erik Macias Simeon.

Nuno Correia, Erik Macias Simeon, Filipe Rôla e António Marques [©CITEVE]
Daniele Spinelli, project manager sénior no Next Technology Tecnotessile, por seu lado, trouxe à iTechStyle Summit o projeto Sunrise, que pretende encontrar soluções de reciclagem para o polivinil butiral (PVB), um polímero usado na laminação de vidros, permitindo a sua reutilização, incluindo em têxteis e adesivos, podendo ser aplicado em revestimentos de chão.

Joana Teixeira, investigadora do Requimte/LAQV, apresentou a investigação feita em supercondensadores têxteis, Kevin Rodrigues, do CeNTI revelou os avanços feitos na produção de uma manga têxtil para reabilitação física, desenvolvida no âmbito do projeto Smart Health 4All, e Pulkit Mishra, project manager do TITV, encerrou as apresentações desta iTechStyle Summit com um projeto, ainda a começar, de uma camisola inteligente para ser usada no âmbito da biomedicina.