Os impermeáveis e o vestuário com repelência de água ganharam um espaço importante no guarda-roupa, sobretudo dos amantes de passeios na natureza. Mas a utilização de fluorcarbonetos – usados repelir água do tecido – tem levantado preocupações por parte das entidades legais, académicos e ambientalistas europeus. Para além de colocarem riscos potenciais para o ambiente, os fluorcarbonetos têm igualmente sido associados com problemas de saúde em humanos.
Algumas marcas de vestuário trocaram, por isso, para químicos alternativos, mas muitas alegam que é difícil cumprir outras exigências de repelência – como resistência às nódoas e repelência de óleo – sem a utilização de fluorcarbonetos (ver Vestuário técnico em ascensão).
Contudo, uma pesquisa da Escola de Design da Universidade de Leeds, publicada no jornal Chemosphere, comparou pela primeira vez a performance de tecidos com novos acabamentos alternativos e os que são tratados com fluorcarbonetos.
Para além de submeter amostras de 22 tecidos diferentes a análises químicas e testes extensivos, a equipa inquiriu 575 consumidores entusiastas do outdoor que regularmente participam em caminhadas, trekking e montanhismo, para perceber como usavam este tipo de vestuário.
«A maior parte dos estudos olha apenas para os aspetos técnicos ou para a poluição ambiental, mas queríamos ver o que é que os consumidores consideravam ser os fatores mais importantes na escolha de vestuário de outdoor», explica Philippa Hill, cuja tese de doutoramento está na origem do estudo. «Concluímos que 82% das pessoas consideram a repelência de água o fator mais importante, mas a maioria das pessoas foi indiferente aos níveis de resistência às nódoas e repelência ao óleo – um participante disse mesmo “não apanho óleo a caminhar”», acrescenta a doutoranda.
Richard Blackburn, que lidera o grupo de investigação em materiais sustentáveis em Leeds, revela que «concluímos que a utilização de fluorcarbonetos no vestuário de outdoor representa um exagero de engenharia, tendo em conta que fornecer repelência ao óleo é desproporcionado tendo em conta as exigências do utilizador. Pode conseguir-se benefícios significativos em termos ambientais e toxicológicos ao usar acabamentos não-fluorados no vestuário de outdoor sem uma redução significativa da performance de repelência de água».
Sendo a sustentabilidade uma preocupação crescente para a indústria têxtil e vestuário, que usa um quarto de todos os químicos produzidos no mundo, o tema tem suscitado o interesse de marcas, assim como do European Outdoor Group, que «vê com bons olhos esta nova investigação».
As conclusões da equipa estão agora a ser exploradas em novas pesquisas sobre os efeitos de lavandaria, abrasão e ciclo de vida dos vários tecidos.