Sourcing afasta-se da China

Mais cautelosos nas encomendas, nomeadamente para 2024, os executivos da indústria da moda dos EUA estão a comprar menos à China e a tentar diversificar os seus mercados de sourcing.

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Para o 10.º estudo da United States Fashion Industry Association (USFIA) foram inquiridos 30 executivos de pequenas, médias e grandes empresas, entre abril e junho de 2023. Uma das conclusões diz respeito às frágeis relações comerciais entre os EUA e a China, que está a levar os empresários da moda a diversificarem o seu negócio e a deixarem de ser tão dependentes do país asiático.

Mais de 40% dos inquiridos disseram estar a comprar menos de 10% do vestuário à China, o que representa um aumento face aos 30% em 2022 e aos 20% em 2019. 61% já não têm a China como principal fornecedor em 2023, em comparação com 2022, e quase 80% dos inquiridos planeiam reduzir o sourcing da China nos próximos dois anos.

Outra das grandes inquietações dos inquiridos passa pelas alegações de trabalho forçado e potenciais riscos na cadeia de aprovisionamento. A maior parte dos inquiridos (80%) afirmou depender dos fornecedores para ter informação mais detalhada sobre o cumprimento de obrigações sociais e vários executivos revelaram estar a procurar ativamente reduzir o sourcing de países de risco elevado, procurando diversificar além da Ásia, sobretudo no que diz respeito a artigos de algodão.

«Uma das conclusões notáveis do estudo deste ano é que as empresas americanas de moda expressaram um novo nível de ansiedade e mostraram-se desejosas de reduzir “a exposição à China” para mitigar os crescentes riscos de sourcing devido à deterioração das relações EUA-China e a implementação do Uyghur Forced Labor Prevention Act (UFLPA)», explica, ao Just Style, Sheng Lu, professor associado de estudos de moda e vestuário da Universidade do Delaware e autor do estudo.

Olhos na Ásia e na sustentabilidade

Enquanto no passado a China foi considerada indispensável para o aprovisionamento de vestuário devido ao seu tamanho e variedade de produtos, o estudo deste ano indica que, na maior parte dos casos, a China já não é a maior fonte de importações de vestuário para muitas empresas americanas, nem em valor, nem em volume.

«Os estudos recentes que fiz, nos quais examinei centenas de milhares de produtos de vestuário vendidos no mercado de retalho dos EUA, revelam que os cinco maiores países asiáticos fornecedores de vestuário além da China, nomeadamente o Vietname, o Bangladesh, o Camboja, a Índia e a Indonésia, podem oferecer, coletivamente, uma gama de produtos diversificada quase equivalente à da China. Por outras palavras, as empresas americanas de moda estão atualmente muito mais preparadas para se afastarem do risco da China do que no passado», indica Sheng Lu.

O professor acredita, contudo, que o verdadeiro desafio para este afastamento é que a China continua a ser um fornecedor de têxteis crucial para a maior parte dos países asiáticos que exportam vestuário.

O estudo revela ainda que as empresas estão mais preocupadas com as questões de sustentabilidade, com quase 60% dos inquiridos a afirmar que pelo menos 10% do vestuário que compram já é feito com fibras sustentáveis ou recicladas e com outros 60% a dizerem que planeiam «aumentar substancialmente o sourcing de vestuário feito de materiais têxteis sustentáveis ou reciclados nos próximos cinco anos».

«É encorajador ver que mais de metade dos inquiridos já começou a ter vestuário feito de materiais têxteis reciclados ou sustentáveis. A tendência vai continuar e envolve grandes oportunidades de colaboração entre o sector privado, legisladores e academia para explorarem, em conjunto, formas inovadoras de incentivar mais produção e sourcing de vestuário sustentável e desenvolver um modelo de negócio de moda circular», conclui Sheng Lu.