«A nível de processos da fiação, há muitos anos que fazemos um pouco de reciclagem», afirma Paulo Melo, presidente do conselho de administração da Somelos, acrescentando que a empresa tem integrado subprodutos resultantes do processo produtivo em novos artigos. «Claro que são produtos com nichos de mercado diferentes que são colocados e apresentados de forma diferente e com destinos muito diferentes do que era um produto normal», explica ao Jornal Têxtil. «A qualidade é diferente» e, como tal, acaba por ser mais direcionado para um «segmento mais médio», revela.
Um passo que está a ser dado ao nível da sustentabilidade na empresa. «É um caminho que as nossas equipas de engenharia, de design e de clientes não podem parar», sublinha Paulo Melo.
A preocupação com o ambiente e o lado social do negócio tem feito parte da história da empresa, que foi fundada em 1958. «A sustentabilidade, hoje em dia, é como a qualidade aqui há uns 25 anos», considera o presidente do conselho de administração, garantindo que «a Somelos tem vindo a dar passos nesse sentido, seja ambiental, seja a nível até do próprio produto – as nossas coleções cada vez incorporam mais essa preocupação. É um caminho sem retorno e cada vez mais temos que apresentar estes produtos, sobretudo porque é uma linguagem diferente, é um produto que é para vender, tem um valor acrescentado também diferente e por isso também é um produto que tem que ser severamente promovido até ao cliente final. Não é o B2B, é mais o B2C. O consumidor final é que tem que avaliar o produto e, no fundo, fazer a sua escolha. Matérias-primas, dados de processo, parte dos acabamentos, da própria confeção, parte da embalagem, tudo é importante, seja o fio que é produzido, o método que é usado, seja uma peça que é confecionada e isso é um trabalho que nunca mais acaba e que estamos sempre a aperfeiçoar». Até porque o objetivo é «juntar as peças todas para termos um caminho muito mais sólido e concreto para aquilo que se pretende», assume.
Reforço da política verde
A somar às matérias-primas, área onde é membro da Better Cotton Initiative e mantém a certificação GOTS, a Somelos tem igualmente procurado processos mais limpos e, para isso, acaba de aumentar a instalação de painéis fotovoltaicos. Depois de ter instalado uma central com capacidade de 1MW, a empresa está a fazer um investimento de 3 milhões de euros para somar mais 7.250 painéis, equivalentes a uma capacidade produtiva de 4.500 MWh, o que deverá representar uma poupança superior a 20% no consumo de eletricidade e uma redução de cerca de 2.000 toneladas anuais de emissões de CO2.
Isto numa altura em que a retoma começa a dar sinais, depois de um período difícil. «Foi um período muito complicado», reconhece Paulo Melo, que destaca, contudo, a resiliência dos recursos humanos do grupo Somelos. «No relatório de todas as empresas, a primeira parte é um agradecimento a todas as pessoas da Somelos que não pararam de trabalhar. Não somos da primeira linha, não somos médicos nem enfermeiros, mas somos trabalhadores de um sector que nunca parou e, por isso, as pessoas arriscaram a própria saúde e a dos familiares para virem trabalhar», realça o presidente do conselho de administração.
As vendas foram inferiores em 2020, sobretudo em mercados como Espanha, mas «foi um dos anos em que tivemos melhor rentabilidade», aponta Paulo Melo, que ressalta os desenvolvimentos positivos na Escandinávia e em Inglaterra. A empresa conseguiu ainda «novos clientes, que, como continuamos a trabalhar e a fornecer o serviço que sempre prestámos, e que é muito bom, vieram comprar-nos», indica.
Quanto a 2021, o primeiro trimestre ainda foi negativo, «porque no ano passado, em fevereiro, estávamos a crescer», ressalva, mas no segundo trimestre as vendas aumentaram 25% face ao mesmo período de 2020. E a perspetiva é fechar as contas dos primeiros sete meses do ano «ligeiramente acima [do mesmo período] de 2019».
O segundo semestre do ano trouxe ainda o regresso às feiras físicas, com a presença na Milano Unica, Munich Fabric Start e Première Vision. «Não é ir por ir. Sempre fomos rigorosos na seleção das feiras e só vamos àquelas que são importantes», garante.
Quanto ao resto do ano, «há situações que podem de um momento para o outro mudar rapidamente e nós temos que encontrar uma solução que possa, no fundo, mitigar esses efeitos. Agora, se a retoma continuar de uma forma gradual e progressiva, aí estamos preparados», assegura o presidente do conselho de administração da Somelos. «Não deixamos de investir em coleções, não deixamos de apostar em produtos novos e inovação e isso, cada vez mais, é uma vantagem», salienta.