O que é que se consegue quando se mistura a icónica alta-costura francesa com um designer vanguardista e ousado? Horas antes de Raf Simons estrear-se com a coleção de alta-costura na Dior, o mundo da moda está impaciente para descobrir. A casa de moda levou mais de um ano para encontrar a pessoa certa para o trabalho, após John Galliano ter caído em desgraça em março de 2011, depois de, embriagado, ter proferido insultos racistas num bar, um acontecimento que, de um dia para o outro, o transformou num verdadeiro pária do mundo da moda. Foi tempo suficiente para a memória do escândalo se desvanecer e, durante meses de especulação, ter-se falado de muitos dos nomes de topo na indústria para o trabalho, mantido interinamente pelo braço direito de Galliano, Bill Gaytten. Mas quando a Dior finalmente se decidiu, em abril, pelo belga de 44 anos da casa de moda alemã Jil Sander, a indústria mal conseguiu conter a sua satisfação. «É uma parceria perfeita que nunca imaginámos que fosse consumada», revela Tim Blanks, do website americano Style.com. «Vai ser um lindo bebé!», refere o entusiasmado comentador de moda, que segue de perto a carreira de Simons há muitos anos. «É uma síntese genuína do passado e do futuro», acrescenta. No último ano, Gaytten manteve os ateliers da Dior a funcionar e as vendas a crescer com um conjunto de coleções polidas construídas com base nos códigos da Dior como o fato dos anos 50 e o vermelho vivo. Mas os amantes de moda queriam mais do que competência ao leme da marca. Isso é algo que esperam que Simons possa entregar hoje, o primeiro de três dias de desfiles de moda que vão encantar a capital francesa com a sua mistura de artesanato e luxo. «É um pássaro raro», afirma Blanks sobre o designer, que é conhecido por trabalhar linhas puras, limpas, com um toque divertido. «É, consistentemente, um dos designers mais provocadores e fascinantes que temos provocante não de uma forma que choque, mas de uma forma que nos faz questionar as coisas», acrescenta. Quanta liberdade terá Simons na venerável casa de moda, a joia da coroa do império do luxo do dono do LVMH, Bernard Arnault? «Sinto que ele tem um autocontrolo natural e um respeito natural na forma como aborda as coisas», refere Blanks. As últimas três coleções de Simons para a Jil Sander chamada a sua trilogia de alta-costura foram «como uma cassete de audição fantástica para um trabalho na alta-costura», acredita Blanks, feitas inteiramente com base no mundo da alta-costura de meados dos anos 20. «Ele é fascinado pelos códigos, códigos da cultura jovem, códigos de qualquer tipo de mundo fechado onde as pessoas operam o seu próprio conjunto de regras e criam o seu próprio universo a partir das suas paixões e obsessões. Raf é também obcecado e, por isso, entende a obsessão», indica. Simons mostrou, no primeiro dia dos desfiles de moda de homem em Paris, uma coleção urbana, com um look divertido, que mostrou muitas pernas, antes de se preparar para a sua estreia na Dior. O belga fez nome na moda de homem, como fez o seu conterrâneo Hedi Slimane, o designer de culto que regressou à moda este ano ao leme da Yves Saint Laurent, onde vai mostrar a sua primeira coleção de passerelle em outubro. «Estas nomeações são um novo mundo para a moda», considera Blanks. «O pêndulo pendeu para designers cuja formação está nos códigos da moda de homem», o que, sublinha, é uma disciplina profundamente codificada, tal como a alta-costura. «Há formas de fazer as coisas não é só parece bem, faz», acrescenta. Servindo uma base de clientes inferior a 200 mulheres em todo o mundo, a alta-costura é uma designação protegida em França, concedida com base em critérios como a quantidade de trabalho feito à mão e dentro de portas e a quota de peças feitas à medida. Duas dúzias de casas, incluindo a Chanel, Dior, Gaultier e Givenchy, vão mostrar as suas peças únicas cuja mestria é apenas comparável ao seu preço entre hoje e a próxima quarta-feira.