Selo certifica qualidade de bordados tradicionais

Para salvar as termas das Caldas, a rainha D. Leonor despojou-se de todo o seu ouro. Vendo a monarca sem o brilho habitual, as aias decidiram bordar-lhe o manto, de forma a parecer incrustado de fios de ouro. Reza a lenda que assim nasceram os bordados das Caldas da Rainha.

À medida que o tempo foi passando, a arte foi sendo transmitida de geração em geração. Hoje, resta uma dúzia de artesãs, parte das quais aprenderam a bordar num curso de formação profissional, realizado em 1997, pela Câmara e pelo Centro de Emprego local.

Mas a autarquia está empenhada em proteger um dos artigos genuínos do concelho e, por isso, acaba de criar um selo com o qual serão assinalados os bordados tradicionais. Maria da Conceição Pereira, vereadora com o pelouro da Cultura, considera que esta medida se traduzirá numa “mais-valia para os artesãos, que vêem reconhecido o seu trabalho, e uma garantia para quem compra o produto”.~

Para a responsável, é também natural que a certificação venha a atrair mais interessados nos bordados.

Liseta Pereira, de 53 anos, partilha o optimismo da vereadora. Aprendeu a bordar aos 15 anos. Nos primeiros tempos, fazia-o nos tempos livres. Hoje, é detentora da única loja da cidade que vende bordados genuínos das Caldas.

“Não é um produto barato, porque é tudo feito à mão e demora muito tempo”, conta, explicando que um dos pequenos panos que vende (o preço ronda os 50 euros) leva cerca de um dia inteiro a bordar.

Quando criou a loja, em 1999, a artesã esperava vender apenas bordados tradicionais. “Mas percebi que só com isso não me governava e tive que começar a vender outras peças, como pijamas e atoalhados e até costura para fora”, revela.

O sucesso do negócio depende em grande parte da quantidade de encomendas que recebe, quer por parte de lojas, quer de particulares, alguns até oriundos do estrangeiro. É que são poucos os clientes que aparecem à porta.


“A nossa arte padece de falta de divulgação”, queixa-se a comerciante. Vítor Pires, presidente da Associação de Artesãos, também concorda. “À excepção de três feiras em Portugal, onde levamos alguns trabalhos para dar a conhecer, pouco mais é feito pelos bordados”, lamenta. Para o responsável, será essa uma das razões que leva tão pouca gente a interessar-se por aprender a arte.