Segurança máxima

As empresas francesas ligadas ao sector têxtil e de vestuário estão cada vez mais atentas à pirataria e à cópia dos seus produtos e muitas delas montaram já sistemas de segurança rígidos para se proteger. «Integra-te na Zara durante um ano, e eu contrato-te em seguida», respondeu um dia o dono de uma empresa a um candidato a um posto de trabalho na sua empresa. Apesar da França ter um dos sistemas mais repressivos e um dos mais completos da Europa contra a contrafacção, a protecção das informações internas é cada vez mais um factor estratégico primordial para as PME’s que se voltaram para a gama alta, o luxo e o internacional como formas de ultrapassar a crise que atravessa actualmente a ITV dos países desenvolvidos. Passando de uma indústria de produção mais manual para um modelo voltado para a alta tecnologia, os produtores e as empresas subcontratantes tomam consciência da necessidade de se proteger. «A tomada de consciência é muito recente. Há alguns anos, éramos menos vigilantes», reconhece Jean-François Coulon, director do gabinete de criação Vent des Modes, especialista na produção de pronto-a-vestir feminino de gama média-alta. Aqui, a informática é protegida por “firewalls” e as instalações têm vídeo-vigilância. O conjunto das empresas implantadas na zona industrial de Mothe-Achard pôs ainda em acção uma brigada de intervenção 24 sobre 24 horas. A contabilidade utiliza caixotes do lixo individualizados para separar os pedaços de documentos rasgados. «Para nós, tornou-se uma questão tão importante como a gestão financeira ou o marketing», afirma Christian Cunaud, CEO do grupo Salmon Arc en Ciel, já atingido por muitos casos. «Em 1995, um dos modelos que teve melhores vendas foi copiado por um distribuidor no ano seguinte. A peça era a única que faltava no catálogo. Alguns anos mais tarde, um italiano copiou um modelo com 30.000 exemplares para inundar os mercados italiano e escandinavo. Uma outra vez, descobrimos que um dos quadros da empresa detinha 10% do capital de um fornecedor, e acabou por pôr em evidência uma falha no contrato», relembra Christian Cunaud. «Em 1970, um ficheiro de clientes foi vendido por 4.000 francos!» continua. Outros tantos casos terminaram nas barras dos tribunais. Reforçar o controlo Actualmente, entrar ou sair da GSA é como num moinho. Os acessos são controlados nos dois sentidos. Cada funcionário tem um cartão informatizado e programado para ter, ou não, acesso a determinada zona. Nenhum computador tem gravador, as portas USB são, asseguram eles, muito vigiadas, os circuitos informáticos são seguros e a Wifi não está instalada por defeito. «E vamos ainda mais longe nos show-rooms», explica Christian Cunaud, consciente dos preconceitos e das necessidades da empresa neste domínio. «Estamos a cumprir as leis e não somos excessivamente vigilantes. Fiz a experiência, um dia, com uma empresa de inteligência económica. É incrível o que se pode obter na Internet em meio-dia. É ainda mais perigoso com a China, para quem a corrupção é um desporto nacional». O mesmo se constata na Deux-Sèvres, que pediu a hackers para testar o seu sistema de segurança. «Apesar dos sistemas de segurança implantados, conseguiram penetrar no sistema», admite o director da empresa. Oficial na reserva da Força Aérea e dono da empresa Macosa, especialista na produção de lingerie, Philippe Hache declara-se particularmente prudente. «Jogamos a nossa reputação no que se faz internamente. O risco de cópia está em todo o lado: na colecção, nas informações técnicas, na tinturaria, nos materiais. Aqui, todos os funcionários são informados do que se pode mostrar ou não. Estamos muito vigilantes nas fases das colecções. Nenhum visitante, cliente ou fornecedor é deixado sozinho», explica. Na CWF, uma empresa especializada na criação para as marcas de gama alta e de luxo para criança, o atelier de criação está limitado aos possuidores de um cartão devidamente acreditado. «Somos prudentes», revela Chrystel Abadie-Truchet. «Trabalhamos com informações estratégicas. Quando se produz para uma nova marca, como a Chloé por exemplo, toda a gente quer saber o que estamos a fazer. É preciso resguardarmo-nos bem para criar o efeito surpresa. Tanto que, uma vez reveladas, as coisas acontecem rapidamente. Lembro-me da minha experiência na Cacharel, onde os modelos apresentados para um desfile estavam, três dias depois, num site coreano», explicou. É esta reacção, contudo, que, para alguns, limita os riscos de cópia. «Na globalização, a procura de protecção é também um meio de salvaguarda dos empregos, das empresas. Pode ser um vector de excelência se comunicarmos depois, mas podemos interrogar-nos se não é um combate de retaguarda quando os prazos de produção em fluxo tendem a limitar inevitavelmente os riscos», estima o director da Vent des Modes. “Trancas à porta” Um sentimento partilhado por Patrick Roussel, director do Instituto Colbert, especializado na formação aos empresários do calçado e da indústria da moda. Para ele, que ocupa o cargo de director técnico na New Man, «os produtos não são suficientemente sofisticados, contrariamente à aeronáutica por exemplo, a moda passa depressa. Muito depressa, o que impede grande parte das fugas industriais. Os desfiles de moda servem de inspiração. E depois, copiar uns jeans não serve de nada, pois o que conta é o molde, pelo que seria preciso roubá-lo. Para uma marca, o que lhe dá valor é, de facto, o seu logótipo. Mais vale continuar com os seus produtos do que “roubar” ao vizinho», observa, preferindo estar ligado à formação de pessoal e à abertura a um universo globalizado. Por seu lado, a DST, que tem como uma das suas missões a protecção do património económico e científico, organiza conferências nas empresas, nas Câmaras de Comércio e junto de grupos empresariais para alertar os responsáveis e informá-los dos riscos internos ou da deslocalização no estrangeiro. Uma missão crucial uma vez que, com a criação de pólos de competitividade, a transversalidade requerida, multiplica os riscos de transmissão de informações entre actores multidisciplinares. «É uma matéria sensível para os pólos de competitividade que trabalham em colaboração. Para haver colaboração, as regras devem ser muito claras», afirma Thierry Latouche, director-delegado do Cnam Pays-de-la-Loire. Mas se os grupos mais importantes estão potencialmente preparados e protegidos, esta dimensão é diversamente integrada pelas PME’s. Isso representa um custo que as empresas não querem muitas vezes suportar. Como dá conta Philippe Hache, que preside ao sindicato profissional Atlantique Habillement, «colocar fechaduras nunca é grátis. São medidas suplementares a tomar e um verdadeiro assunto de debate para a profissão, que, por enquanto, está pouco preocupada. Existem alertas sobre maus pagadores mas não sobre os riscos de pilhagem industrial».