Sampedro pronta para os 100

A menos de quatro anos de celebrar o centenário, a Sampedro está a renovar as suas valências, com a aquisição de novos teares, a expansão da linha de tingimento e estamparia, incluindo maquinaria digital, e o aumento da produção para responder às novas exigências dos diferentes mercados.

Com uma história que remonta a 1921, a Sampedro é a mais antiga produtora de têxteis-lar nacional no ativo e uma das gigantes reconhecidas na Europa e no mundo. Os 26.000 metros quadrados de área coberta abrigam as unidades industriais de preparação à tecelagem, tecelagem – 58 teares –, preparação ao tingimento e branqueio, tingimento e acabamentos, para além dos armazéns de matérias-primas (stock de fio para um mínimo de três meses) e produtos acabados e ainda a Sampedro Energia, instalada em 1995 e que abastece a rede nacional.

Paulo Machado

Embora José e Paulo Machado, filhos do fundador da Sampedro, estejam já reformados, continuam diariamente a marcar presença no local e a acompanhar o trabalho com a mesma ambição e paixão dos primeiros dias – o primeiro ainda nos anos 50, ao lado do progenitor, e o segundo já nos anos 70, depois de ter cursado estudos têxteis superiores em Épinal, França.

«Entrei no dia 8 de abril de 1974, para a parte da tecelagem, e fiquei como diretor industrial na empresa», recordou, ao Jornal Têxtil, Paulo Machado, que abdicou do cargo de presidente do conselho de administração no passado mês de abril, 43 anos depois da sua entrada na empresa.

«Tivemos sempre aqui um bom ambiente de trabalho, nunca tivemos problemas de pessoal a tentar chatear, mesmo na época do 25 de Abril», destacou, num artigo publicado na edição de julho/agosto do Jornal Têxtil.

Atualmente, a empresa conta com um efetivo de 148 pessoas, que produz um portefólio alargado de artigos: felpos, atoalhados de mesa e roupa de cama em jacquard, em dobby, em tinto em fio. «Servimos um indivíduo com vários produtos – se ele quiser, até pode ficar completamente servido, quer ao nível de comércio, quer ao nível de hotelaria», destacou, em entrevista, Simão Gomes, o atual presidente da empresa.

Investimentos constantes

Atenta à evolução da maquinaria, a Sampedro desde sempre investiu na modernização de equipamentos. «A evolução tecnológica que há na parte industrial foi o que mais me surpreendeu. Na parte da tecelagem foi o tear de projétil – tivemos bastantes aqui, agora temos 16 ou 17, o resto já são de pinças, mais automáticos ainda», contou Paulo Machado.

Simão Gomes

E os investimentos não dão sinal de abrandar. «Nos últimos três anos investimos na ordem dos cinco milhões de euros, para renovação da tecelagem, com 30 teares, uma nova tinturaria em fio, uma máquina de mercerizar, três jets e, nos acabamentos, um tumbler. Depois, várias coisas pequenas. E, nas instalações, temos dois edifícios novos. Ainda vamos ter que investir mais um bocado. Antes dos 100 anos, ou seja, nos próximos três anos, vamos investir entre cinco e seis milhões de euros», revelou Simão Gomes.

Entre estes investimentos está a continuação da renovação a tecelagem, com a aquisição de 18 novos teares. «São teares mais rápidos e fazem aumentar a capacidade. Estou a contar com 20% ou 22% mais de capacidade», apontou o presidente da Sampedro. «Também vou aumentar a capacidade da lavagem. E vou aumentar a preparação comprando urdideiras novas. Para o próximo programa é que será a máquina digital, mas vou fazer já a parte dos edifícios, porque demoram muito, e depois será então a máquina de estampar digital, um vaporizador e talvez outra máquina de acabamentos», acrescentou.

Em 2016, a empresa atingiu um volume de negócios próximo dos 15 milhões de euros, com 80% desse valor realizado nos mercados externos, sobretudo Suécia, Itália, Inglaterra e Espanha, mas também Coreia do Sul, EUA, Austrália, México ou Canadá.

«Foi o ano em que tivemos maiores vendas, crescemos 17%», sublinhou Simão Gomes, que antecipa que 2017, será um ano de consolidação, com o primeiro semestre a registar um aumento de 11% face ao período homólogo. «Gostava que fosse um ano de consolidação para depois poder-se organizar os recursos para um novo crescimento – não de altas percentagens. Quem faz artigos muito elaborados, pequenas séries, não pode ter um crescimento muito grande porque começa a não ter resposta e a não servir bem. Não é nossa pretensão sermos grandes, é sermos bons, sermos diferentes, jogar na inovação, ter clientes de valor acrescentado», reforçou.

Uma visão que vai ao encontro da evolução que o presidente da empresa antecipa para os têxteis-lar nacionais. «Há algumas ameaças. A persistência da crise económica na Europa e, muito particularmente, em Portugal, o reconhecimento dos nossos concorrentes paquistaneses, às vezes desvalorizam moedas. Agora, temos algumas vantagens em que também temos que pensar. Somos produtores perto da Europa, temos o reconhecimento, temos know-how, um país estável, que são fatores muito importantes», acredita Simão Gomes.

Preparar a sucessão

Depois da segunda geração ter dado – e continuar a dar – tudo de si à empresa, o tempo é de preparação para que os mais novos assumam o seu lugar na estrutura e deem continuidade ao negócio. «Quero que continuem a trabalhar. Quero que isto singre e que tenha o nosso sangue cá. Tenho cá uma filha, tenho cá sobrinhas, filhas do meu irmão, o Simão [Gomes] é genro e esperamos que isto vá para a frente», afirmou Paulo Machado.

Mais do que crescer, contudo, é na continuidade que o filho do fundador quer que as cartas sejam jogadas. «Não sou apologista de fábricas muito grandes. Sou apologista de fábricas pequenas, que produzam qualidade – são muito mais fáceis de administrar», concluiu Paulo Machado.