Fundada por Armindo Sacramento em 1979, em cerca de 40 anos, a Samofil passou de quatro para 140 funcionários, num percurso que a fez apostar nos mercados internacionais, recentrar-se no mercado interno e agora voltar a olhar lá para fora com renovada ambição, graças também à contínua modernização que fez questão de acompanhar com o correr dos anos.
O mais recente projeto de investimento, apoiado pelo Norte 2020, atingiu os 2,7 milhões de euros, divididos entre a remodelação e substituição de equipamentos e a eficiência energética. Com uma cadeia produtiva vertical a partir do fio – que compra a diversos fornecedores –, a Samofil adquiriu quatro teares e uma râmula, automatizou o corte e substituiu diversos equipamentos na tinturaria e acabamentos. Ao mesmo tempo, melhorou a eficiência energética da produção. «Algumas máquinas, por exemplo, permitem tingir com relações de banho mais curtas», explica António Sacramento, sócio-gerente da Samofil, que partilha a gestão com o irmão, Joaquim Sacramento. Além disso, «colocámos permutadores para aproveitar o ar quente das máquinas, principalmente das râmulas, que vai aquecer a água para a entrada no processo da tinturaria. E também colocámos um permutador para aproveitar a água quente que sai da tinturaria», aponta, destacando que «devemos estar com uma poupança energética na casa dos 10%».
Novos horizontes
Com uma produção média diária de 6 toneladas na tricotagem – a unidade de produção de malha e confeção de vestuário ocupa aproximadamente 6 mil metros quadrados – e de 12 toneladas na tinturaria – a unidade de acabamentos, que inclui a tinturaria e a estamparia por pigmentos, contabiliza 10 mil metros quadrados de área coberta –, a Samofil não é alheia à exportação, apesar do mercado interno constituir ainda o seu principal foco. «A nossa quota de exportação direta deve andar perto dos 20%», indica António Sacramento, que adianta que «tendo em conta que a prestação de serviços representa 55%, também não fica muito mais sobre o valor total da empresa para exportar».
No entanto, desde o início que a Samofil procurou alargar o seu leque de clientes. «Nós passamos por tudo. Começámos pelo mercado interno, com revendedores e armazenistas. Depois, nos anos 80 e 90, fomos exportadores e exportámos bastante bem. Entretanto entraram os chineses com preços bombásticos, principalmente na área em que exportávamos essencialmente, que era a roupa interior. Fizemos uma reflexão e chegámos à conclusão que com o leque de clientes que tínhamos, conseguíamos sobreviver melhor no mercado interno. Em 2008, o mercado nacional começou a ter graves problemas e começamos novamente a virar-nos para a exportação», revela, ao Portugal Têxtil, o sócio-gerente.
Hoje, a empresa conta com uma lista de mais de 1.000 clientes, cerca de 300 dos quais ativos, que compram malha em cru, malha acabada, serviços e peças confecionadas. Para o estrangeiro, sobretudo para mercados como Espanha, Dinamarca, França, Inglaterra, Holanda, Marrocos e Dubai, a Samofil expede sobretudo peça confecionada. «Em Espanha também vendemos malha acabada», acrescenta António Sacramento.
Sem ambição de vender grandes quantidades, a Samofil, que em 2017 registou um volume de negócios que rondou os 6,4 milhões de euros, pretende essencialmente manter um leque de clientes diversificado e ter produtos que garantam mais-valias. «A nossa vocação não é vender 100 ou 200 toneladas com uma margem de cêntimos. É mais vender a mais clientes, quantidades mais pequenas, mas com um preço que se possa produzir», assume o sócio-gerente.
Por isso mesmo, a empresa começou agora a fazer feiras profissionais, do Modtissimo (ver Modtissimo prepara crescimento) até à Maroc in Mode (ver O namoro entre Portugal e Marrocos), com Munique e Londres no horizonte. «É uma aposta para o futuro. Acredito em pequeno e bom, mas acho que o futuro passa muito pela internacionalização», afirma Ana Luísa Sacramento, a terceira geração da família envolvida no negócio e, ela própria, uma promessa para o futuro da Samofil. «É sempre bom sentirmos que quem vem atrás é alguém para dar seguimento. Se não houvesse, acho que nos ia desmotivar um bocadinho», confessa o pai António Sacramento.
Futuro à vista
A meta para a internacionalização é, contudo, comedida. «Não gosto de criar expectativas muito altas, mas se aumentar o mercado de exportação 10% ao ano seria muito bom. Provavelmente, nos primeiros anos vai ser fácil, mas depois começa a ser mais difícil. Portanto, não tenho objetivos muito soberbos e elevados», confessa o empresário. «Queremos ver se, quer por via da produtividade, quer por via da inovação ou outros tipos de trabalho, conseguimos melhorar ligeiramente a nossa margem, de forma a que a empresa se possa ir remodelando – mantê-la minimamente modernizada para fazer frente às próximas décadas», explica.
Aliás, assume o sócio-gerente, «o nosso objetivo é essencialmente manter a Samofil mais ou menos na dimensão que está. Não temos ambição de ampliar, de fazer muitos mais investimentos, porque não acredito que isto esteja para grandes evoluções. Como tal, se eu conseguir manter a dimensão da empresa, manter as 140 pessoas a trabalhar – temos essa responsabilidade –, já nos damos por contentes. Se não conseguir vender a minha mercadoria no mercado nacional, vou vender ao mercado internacional, seja ele onde for. É isso que vamos tentar fazer».