Roupa de outono fica nas lojas

As elevadas temperaturas que se estão a fazer sentir neste início de outono, tanto na Europa como nos EUA, estão a afetar a venda de vestuário para as estações mais frias, que se está a acumular nas prateleiras.

[Pixabay-Rudy and Peter Skitterians]

No último ano, os retalhistas de vestuário procuraram escoar o excesso de stocks que se acumularam devido a uma mudança na procura do consumidor, que deixaram os artigos de vestuário em favor de bens mais essenciais.

Mas com as temperaturas do quatro trimestre a começarem altas, de acordo com a Weather Trends International, que segue a meteorologia, as lojas que têm atualmente vestuário e equipamentos de inverno podem ficar com muito inventário dentro de portas no final da estação, aponta a Reuters.

A marca Cos, do grupo H&M, começou a oferecer uma promoção de 20% nas lojas e online para vestuário em malha e de exterior, incluindo camisolas em lã merino e casacos com enchimento. A CEO do grupo sueco, Helena Helmersson, indicou à Reuters, que os consumidores estão a adiar as compras de artigos de outono devido às temperaturas anormalmente altas.

O grupo europeu Pepco também sublinhou que a chegada do inventário de vestuário de outono e inverno às suas lojas coincidiu com temperaturas altas recorde para esta altura do ano nos mercados da Europa Central e de Leste, que são os seus principais mercados.

«Quando estão 26 graus, habitualmente não se vendem casacos», sublinhou Andy Bond, presidente-executivo da Pepco aos analistas.

Nos últimos dois anos, a chamada época de compras de Natal começou em outubro, com muitos retalhistas a oferecerem promoções e descontos ao longo do mês e até dezembro. A Amazon deverá promover o segundo Prime Day do ano a 10 e 11 de outubro, enquanto a Best Buy está a oferecer saldos nos mesmos dias e a Target está a anunciar um programa Deal of the Day a partir de outubro.

Nos EUA, as temperaturas podem subir, em média, 2 a 12 graus Fahrenheit no período entre outubro e dezembro em comparação com o ano passado, de acordo com a Weather Trends International.

Época de Natal pode ser afetada

«O mês entre a Black Friday e o Natal está muito mais quente do que há um ano, o que vai resultar em mais inventário excedente e saldos maiores», refere Bill Kirk, CEO e fundador da Weather Trends International.

Isso deverá afetar os retalhistas, desde o Walmart à Dicks Sporting Goods, em particular, mas pode ajudar a Costco Wholesale e cadeias como a TJX, que mais facilmente compram artigos localmente e podem adaptar-se mais rapidamente às mudanças sazonais.

«Se a roupa de inverno não se vender bem, isso pode ser um problema para a indústria nesta época de Natal e se for esse o caso, podemos ver muitos descontos nesse tipo de produto no início de 2024», realça David Swartz, analista do Morningstar Research.

As temperaturas pouco favoráveis normalmente tornam-se um grande problema para os retalhistas, uma vez que colocam antecipadamente encomendas para alturas importantes para assegurar que têm produtos suficientes nas prateleiras para responder à procura dos consumidores.

«A questão com os retalhistas de volumes maiores é que 75% a 85% da sua produção está dependente de um ciclo de desenvolvimento muito longo, por isso quando o calor ou o frio começam a afetar as tendências de compra no geral, eles já fizeram encomendas», explica Robert Woods, fundador da Vision Brands USA.

Kristen D’Arcy, diretor de marketing da retalhista de vestuário True Religion, afirma, em entrevista à Reuters, que «tem sido uma agradável surpresa vermos que as t-shirts de manga curta e os calções continuam a vender muito bem como resultado do tempo mais quente», acrescentando que «as nossas maiores compras para a estação não foram vestuário exterior, que seriam os casacos pesados para o tempo muito frio, mas activewear, que são partes de cima e de baixo mais leves, denim de todas as variedades e malhas mais leves».

A Abecrombie & Fitch também indica que houve uma forte procura por «artigos sem estação» no segundo trimestre, sobretudo na categoria de vestuário de homem, já que os consumidores preferem artigos e estilos que deem para todo o ano.

Quando os retalhistas fazem uma tentativa de fazer stocks de vestuário adequado à estação e este não é vendido, o armazenamento desses produtos torna-se dispendioso.

Simon Wolfson, CEO da retalhista britânica de vestuário Next, adianta que em termos de previsão de vendas, «a diferença que o tempo vai fazer em dezembro será maior do que a diferença de como o consumidor se está a sentir».