Embora a Pegada Ecológica do Produto (PEP), como foi batizada, tenha como objetivo incentivar os consumidores a fazer escolhas amigas do ambiente no ponto de venda, a metodologia sugerida é limitada e não tem em conta considerações ambientais críticas, considera a Make the Label Count, uma iniciativa que junta a Australian Wool Innovation, a Campaign for Wool, a Changing Markets Foundation, a Cotton Australia, a Fibershed, a International Sericultural Commission, a International Wool Textile Organisation e a Plastic Soup Foundation
Como a classificação não tem em conta os benefícios da utilização de fibras renováveis e biodegradáveis ou os efeitos da poluição por microplásticos, os sintéticos derivados de combustíveis fósseis, como o poliéster, acabam por ser considerados “mais verdes” do que os seus homólogos naturais, diz a Make the Label Count. Não só isso engana os clientes sobre os impactos dos produtos, como também pode corroer a credibilidade do sistema e minar os objetivos globais de sustentabilidade da União Europeia, considera.
«A iniciativa de rotulagem da UE deverá estabelecer uma norma mundial e pode produzir grandes resultados ambientais se a metodologia da PEP for corrigida. É importante agir agora e acertar para ajudar a estabelecer a credibilidade do sistema e garantir que os consumidores bem intencionados não são induzidos em erro», escreve o grupo num relatório que resume as preocupações com a campanha. «Devemos ao planeta produzir roupa sustentável e devemos aos consumidores certificar-nos que eles sabem quão sustentável é essa roupa – e o rótulo nos produtos tem de refletir isso», acrescenta.
Nivelar o jogo
A Comissão Europeia propôs o rótulo em 2013 para fornecer indicadores normalizados de medição e validação de reivindicações ambientais, tentando nivelar o “campo de jogo” em termos concorrenciais entre produtos fabricados em diferentes Estados-Membros. A PEP, que utiliza avaliações do ciclo de vida para calcular os seus números, identificou até à data 16 categorias na sua metodologia, incluindo o impacto na camada de ozono, a toxicidade para humanos, o uso do solo e o esgotamento de recursos. A ideia é traduzir estes dados numa etiqueta que utilize “semáforos” vermelhos, amarelos e verdes ou uma escala de classificação de A a E para que seja fácil para o consumidor perceber imediatamente o impacto ambiental de um produto.
«Tendo em conta que as fibras têxteis muitas vezes têm os maiores impactos do ciclo de vida durante a sua fase de formação, esta limitação da PEP aumenta a desigualdade entre produtos feitos a partir de fibras naturais e aquelas que têm por base combustíveis fósseis», refere a coligação. «É impraticável captar e explicar os impactos ambientais na formação de crude, pelo que é necessária uma melhoria da metodologia para permitir uma comparação equitativa dos tipos de fibras», salienta.
A Make the Label Count destaca que as fibras naturais, que são cultivadas ou criadas em quintas, são inerentemente circulares, mas as suas pontuações não refletem isso. Em vez disso, as fibras não-biodegradáveis «não são penalizadas por adicionar continuamente resíduos sólidos aos aterros mundiais e libertarem ainda mais microplásticos para o solo, para os oceanos e para o ar», indica.
Um longo caminho a percorrer
Uma representante da Comissão Europeia admitiu, citada pelo Sourcing Journal, que «ainda há um longo caminho a percorrer» até que um quadro final da PEP seja lançado. «Há espaço para melhorias ao longo de todas as fases para a economia circular para o design», afirmou Paola Migliorini num painel que assinalou o lançamento da Make the Label Count, sublinhando que os desafios são complexos, assim como as soluções. A PEP terá ainda de estar em sintonia com a estratégia europeia para os têxteis para «reforçar a coerência de todas as medidas que temos» e proporcionar uma maior clareza.
Livia Firth, diretora criativa da consultora de sustentabilidade Eco-Age, considera que construir um rótulo tendo por base «desinformação e ciência distorcida» seria «imperdoável» neste momento, especialmente se incentivar o modelo da fast-fashion de quantidade sobre qualidade e de tendências em vez de durabilidade.
Se a indústria cometer um erro nos rótulos por não «seguir a ciência», então perde a sua «autoridade moral» para combater outras formas de greenwashing, garantiu Livia Firth. «Há uma epidemia de greenwashing na nossa indústria. As alegações exageradas sobre a sustentabilidade vão prejudicar-nos a todos porque simplesmente não cumpriremos os cortes que precisamos de fazer para garantir um planeta habitável», realçou. «Fazer com que os rótulos contem é uma questão mais ampla do que apenas lutar pela atenção do cliente ou tentar aproveitar o entusiasmo pela moda sustentável. Trata-se de ligar o vestuário à ciência e aos protocolos que nos vão dar um planeta habitável. Há muito em jogo», concluiu.