Rosários 4 ponto por ponto

A caminhar para os 40 anos de existência, a Rosários 4 está longe das crises existenciais da meia idade. Recentemente certificada com o GOTS, a produtora de fios de tricot, crochet e arraiolos está a capitalizar o renascer de algumas tradições e a inovar, como prova o kit para tricotar as primeiras roupas do bebé.

Longe dos tempos em que o tricot e o crochet estavam reservados às avós que queriam dar um presente especial aos netos pelo Natal, a arte tradicional de tricotar manualmente uma camisola ou um gorro está a atrair as gerações mais jovens – uma boa notícia para a produtora portuguesa Rosários 4, que tem na produção de fios para tricot, crochet e arraiolos a sua atividade há quase quatro décadas.

«Há nas camadas mais jovens uma tendência para regressar àquilo que é o artesanal e as manualidades e recuperar uma série de atividades que pareciam estar quase a desaparecer», afirma Liliana Carvalho, diretora de marketing e comunicação da empresa.

Esta apetência do mercado, contudo, está mais ligada à criatividade do que antes e os cachecóis monocromáticos do passado dão origem a peças originais, pensadas por designers têxteis e de moda. «Temos visto isso bastante nesta área, principalmente em pessoas que têm alguma apetência para o design e que acabam por conseguir aqui conjugar interesses. Começa por aí, no desenhar a peça, tem essa vertente mais criativa, e depois a parte da execução, o processo. Todo o processo em si é um hobbie. Tricotar é um hobbie, não é o fazer para ter a peça e depois vestir. Isso é o bónus», explica ao Portugal Têxtil, adiantando que há mesmo um negócio em torno do lado mais criativo, como prova a plataforma online ravelry.com. «Há uma grande quantidade de pessoas que neste momento se dedicam ao design e à venda dos tutoriais para fazer essas peças», assegura.

O impulso das manualidades

É neste ambiente que a Rosários 4 tem sustentado a sua atividade nos últimos anos, apesar da correlação entre o dinamismo do tricot enquanto hobbie e as vendas da empresa ser difícil de provar. «O que sentimos é que há, com efeito, clientes que estão dispostos a investir mais na qualidade dos fios, precisamente para fazer peças com maior qualidade e durabilidade. Ou seja, há pessoas que já não querem fazer uma peça só para usar numa estação, querem fazer uma peça de tricot boa para usar durante muitos anos», acredita Liliana Carvalho.

A qualidade é, por isso, uma aposta da produtora de fios, assim como a sustentabilidade – uma área em que os clientes estão mais exigentes. «Há de facto uma procura em termos de mercado muito grande. O consumidor é exigente e faz bem em ser exigente, isso obriga-nos também a nós produtores a sermos também mais exigentes com as nossas escolhas», admite a diretora de marketing e comunicação. As fibras naturais ou de origem natural, como é o caso do algodão, o linho, a lã, o bambu e a cana-de-açúcar são o principal foco, embora no portefólio constem também fibras sintéticas, como acrílico, poliamida e poliéster.

A empresa tem ainda uma coleção eco-friendly, onde pontuam, por exemplo, lã e algodão orgânicos e fibra de leite. «Até ao início do ano tínhamos apenas vários fios orgânicos mas este ano fizemos a certificação GOTS [Global Organic Textile Standard], que certifica todo o processo de produção», revela.Com vontade de inovar além das coleções – a empresa apresenta, por ano, uma coleção para a primavera-verão, outra coleção para o outono-inverno e uma outra para criança, para além da atualização constante de referências –, a Rosários 4 está a lançar no mercado um kit de tricot para bebé, que deverá chegar às lojas até ao final do ano. «É um kit que traz novelos, tem opção de trazer agulhas ou não e traz um desdobrável com todas as instruções para fazer uma ou mais peças para bebé», desvenda Liliana Carvalho. «É um presente muito fácil, é uma coisa que já está embrulhada – as pessoas querem um projeto já pronto a executar», acrescenta.

Consolidar lá fora

A Rosários 4, que começou pela tinturaria de fio e hoje inclui dentro de portas todo o processo, da fiação até à venda em meadas e novelos, emprega 40 pessoas e tem aquém-fronteiras como principal destino dos fios que saem das suas instalações. «O mercado nacional representa 60% das vendas. Mas o mercado externo está a crescer. Na verdade também é um mercado onde temos maior margem para crescer, porque em Portugal já estamos representados praticamente em todo o país. A tendência é o mercado externo continuar a subir em detrimento do mercado interno», confessa Liliana Carvalho.

Da Alemanha ao Chile, passando pela Austrália e pelo Brasil, a Rosários 4 tem já pontos de venda – diretamente em lojas ou através de distribuidores – por todo o mundo, angariados, muitas vezes, em feiras internacionais como a H+H Cologne. «É uma das maiores feiras de manualidades, praticamente o mundo inteiro vai a Colónia. Sendo uma feira tão importante, acaba por ser uma boa oportunidade para conseguirmos chegar a mercados onde não conseguiríamos ir ao longo do ano. Uma empresa da nossa dimensão não tem capacidade para fazer 20 feiras por ano», reconhece.

No entanto, «afirmarmo-nos mais no mercado externo» é um dos objetivos da Rosários 4, com Espanha, Alemanha, França e Reino Unido a serem as apostas mais fortes, sem negligenciar também o continente americano. «No mercado dos EUA ainda não estamos tão representados mas também temos a consciência de que, precisamente porque é outro continente e porque temos um oceano a separar-nos, não é tão fácil chegar lá como conseguimos fazer na Europa. É uma questão de logística. Em alguns mercados acaba por ser um constrangimento muito grande porque vai imputar um conjunto de custos que o cliente final não consegue suportar. Queremos sempre, para nós é importante e vamos continuar a apostar, mas é mais desafiante do que o mercado europeu», esclarece a diretora de marketing e comunicação.

Com o marco dos 40 anos a chegar no verão de 2019, a Rosários 4 promete ainda novidades para o ano. «Queremos de facto comemorar a data e estamos a planear algumas ações», confidencia Liliana Carvalho, sem, contudo, levantar mais o véu.