Riscos ambientais de milhões no sourcing

As empresas podem enfrentar até 120 mil milhões de dólares em custos de riscos ambientais nas cadeias de aprovisionamento até 2026, segundo uma nova pesquisa. Aquelas que não assumirem a responsabilidade vão ficar para trás, enquanto as que reduzirem os riscos, através de parcerias, tornar-se-ão mais competitivas e resilientes.

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No mais recente relatório “Transparency to Transformation: A Chain Reaction”, o organismo ambiental sem fins lucrativos CDP, conhecido anteriormente como Carbon Disclosure Project, analisa dados de mais de oito mil empresas fornecedoras, que os divulgaram aos seus clientes corporativos através do CDP em 2020. O documento conclui que os riscos ambientais são elevados para os negócios e que abordá-los com a colaboração de todos ao longo da cadeia de aprovisionamento é fundamental para a recuperação das empresas no pós Covid-19.

«As empresas que atuam perante esses riscos vão beneficiar de custos mais baixos e reputações melhores», afirma Sonya Bhonsle. «Isso dá-lhes uma vantagem competitiva hoje e ajuda a tornarem-se mais resilientes perante a economia de amanhã. Enquanto isso, as empresas retardatárias correm o risco de ficar para trás. À medida que a crise climática e ecológica piora e a economia muda, é essencial para o negócio e para a sociedade ter uma recuperação sustentável do Covid-19 e reconstruir melhor. A criação de um negócio inteligente é chave para esta transição», explica a diretora global das cadeias de valor no CDP, citada pelo just-style.com.

Os riscos que ambientais que provocam aumentos de custos decorrem de alterações climáticas, desflorestação e impactos relacionados com a água. Estes abrangem impactos físicos como o aumento da frequência e gravidade dos ciclones e a inflação das matérias-primas, assim como mudanças regulamentares e de mercado à medida que o mundo enfrenta crises ambientais, como o preço do carbono e os gastos de inovação decorrentes de mudanças na procura por parte dos clientes.

Os compradores corporativos, podem ser afetados por esta subida dos custos, indica o CDP, acrescentando que além dos 120 mil milhões de dólares (cerca de 100 mil milhões de euros), cerca de 1,26 biliões de dólares de receitas vão possivelmente estar em risco neste mesmo período devido às alterações climáticas, deflorestação e insegurança hídrica.

«Os riscos ambientais devem aumentar à medida que o planeta, a sociedade e a economia mudam», afirma o relatório. «Intensificar as alterações climáticas e a degradação ambiental vai aumentar os riscos físicos. Em resposta, a sociedade vai adaptar-se, acrescendo a consciencialização, fomentando ações e aumentando os riscos regulamentares e reputacionais. Deste modo, as empresas que falharem na gestão dos riscos ambientais na sua cadeia de aprovisionamento vão também incorrer em maiores riscos regulamentares e reputacionais», explica.

«Gerir o impacto ambiental direto das suas operações já não é suficiente. As empresas devem pôr o foco – e envolver – na sua cadeia de aprovisionamento», sublinha o documento.

Transparência e ação

Para lidar com estes riscos, há cada vez mais compradores a exigir ação e transparência junto dos fornecedores para combater os impactos ambientais nas respetivas cadeias de aprovisionamento. Isso inclui mais de 150 grandes compradores com mais de 4,3 biliões de dólares de gastos em compras, como a Google, L’Oréal, Walmart, Braskem e Toyota. Como membros da cadeia de aprovisionamento do CDP, solicitam que milhares dos seus principais fornecedores divulguem anualmente os dados ambientais através do próprio CDP e usem esses dados nas suas decisões de compra e envolvimento do fornecedor.

O organismo ambiental sem fins lucrativos revela que está a crescer a exigência por parte dos grandes compradores corporativos para que os seus fornecedores sejam transparentes sobre os impactos ambientais e tomem medidas para combatê-los, apesar da pressão do Covid-19. Em 2020, o número de compradores que solicitou a divulgação através do sistema do CDP cresceu 24% e foram requeridos dados de mais de 15.600 fornecedores, um aumento de 19% em relação ao ano anterior. Em parte, essa subida no nível de exigência do mercado tem sido alimentada pelas grandes empresas, que definem, cada vez mais, metas com base na ciência, que geralmente exige que reduzam as emissões de sua cadeia de aprovisionamento (Escopo 3). Alcançar essas metas depende da colaboração dos fornecedores.

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No relatório, o CDP preconiza uma série de etapas para ajudar as empresas a colaborar com os seus fornecedores. Para as empresas que estão a dar os primeiros passos aconselha a questionar os fornecedores, começando por pedir aos fornecedores que avaliem e relatem os seus dados ambientais através do sistema de divulgação do próprio organismo ambiental, e a colaborar com outras empresas, pois os fornecedores têm maior probabilidade de agir quando solicitados por vários clientes, procurando assim oportunidades de colaboração junto de seus pares, investidores e outras partes interessadas que podem influenciar o comportamento dos fornecedores. Para as empresas que estão já envolvidas em questões ambientais com os seus fornecedores, o CDP sugere que sejam definidas publicamente metas para a cadeia de aprovisionamento – proporciona clareza sobre os objetivos climáticos, desflorestação e segurança hídrica, assim como um caminho compartilhado claro para alcançá-los – e uma reação em cadeia, pedindo aos fornecedores que se envolvam por sua vez com os próprios fornecedores.

O CDP publicou também o seu “Supplier Engagement Leaderboard” no relatório. A cada ano, o organismo avalia como os inquiridos corporativos estão a fomentar a sustentabilidade ao longo da cadeia de valor. A inclusão nesta lista demonstra que a empresa está a trabalhar de forma proativa com os fornecedores para garantir que a sustentabilidade esteja presente em todas as partes da cadeia de valor. Entre os nomes mencionados encontram-se a Kering, VF Corporation, Fast Retailing Co, Hugo Boss, Inditex, JD Sports Fashion, Lululemon Athletica, Zalando, Asics Corporation, Burberry e Puma.