Jornal Textil (JT)- Faça-nos uma breve apresentação da empresa. Johannes Ruckert (JR)(presidente da Direcção- A Fitor-Companhia Portuguesa de Têxteis, S. A., actua no mercado de fios sintéticos desde 1964. Actualmente assume uma posição de liderança no mercado português, nas áreas de texturização e de tingimento de fios de poliamida e de poliéster. Ao facto de ser uma das mais importantes empresas nesta especialidade, não é alheia a experiência e o “savoir-faire” adquiridos ao longo dos anos, num percurso por vezes difícil. JT- Quais os factores diferenciadores da Fitor? JR – A Fitor empenha-se numa contínua melhoria do seu processo de transformação e na aposta na qualidade dos seus produtos e serviços. O conhecimento e a experiência adquiridos trazem-nos uma permanente tentativa de melhorar as suas performances. Esta atitude reflecte-se na variedade da oferta, na capacidade de resposta e na flexibilidade de produção. JT – E a nível técnico? JR – A nível técnico, a Fitor tem actualmente a possibilidade de fornecer aos seus clientes fios com uma grande variedade de torções. Além disto, uma experiência de mais de 6000 cores confere à Fitor uma vantagem competitiva sem igual, no fio colorido de poliamida e poliester. Também tem capacidade de reproduzir nos seus laboratórios cores do cliente através de tecnologias avançadas. JT – Quais são os objectivos estratégicos delineados? JR – Os objectivos estratégicos não podiam ser mais comuns: a constante busca da melhoria de performance nos seus processos de transformação e manter a palavra qualidade como palavra de ordem em todos os seus processos produtivos, desde a escolha de matéria-prima e consumíveis até ao produto final. A renovação permanente do parque de máquinas também não é um objectivo surpreendente. Mas um dos objectivos que não podemos descurar, e muito menos abdicar, sejam quais forem as circunstâncias, é manter e melhorar a possibilidade de dar resposta às especificações das necessidades encontradas nos diversos ramos da indústria têxtil. É com a ajuda dos nossos colaboradores que facilmente desenvolvemos a versatilidade da oferta. Mas posso destacar como fundamental a estratégia de concentração no core business, ou seja, concentração na texturização e tingimento de fios de poliamida e poliester, opção que trouxe vantagens competitivas à Fitor a nível nacional e internacional, que se têm reflectido nas vendas de ano para ano. JT – A capacidade de resposta ao cliente tem um peso cada vez mais significativo…. JR – Sem dúvida. Com vista à satisfação das diferenciadas necessidades dos seus clientes, a Fitor tem vindo a desenvolver um grande leque de artigos. Uma eficiente gestão de stocks possibilita ainda dar uma resposta flexível, rápida e eficaz às necessidades dos seus clientes. Mas estamos atentos a todas as fases do processo, não descurando nenhuma delas Na sua última fase -a embalagem- os artigos são minuciosamente acondicionados, respeitando sempre as indicações do cliente. JT – Se olhar para trás, o que destaca na sua experiência na Fitor? JR – Destaco a gestão de qualidade, que assume um papel predominante no seio da empresa. Para o garantir, a Fitor valoriza o aperfeiçoamento do conhecimento dos seus colaboradores, com o intuito de garantir a máxima qualidade. Também destaco as preocupações ambientais, em que a empresa limita a utilização de substancias nocivas nos seus produtos. Todos os nossos artigos são produzidos segundo as normas Öko-tex Standard 100 Classe I. Numa empresa moderna, a protecção do meio ambiente tem de ser uma das preocupações inerentes aos processos de transformação desenvolvidos e no nosso caso, em particular no processo de tingimento. Em cooperação com produtores de corantes e de auxiliares, foram realizados esforços em prol da protecção do meio ambiente, partilhando métodos e meios técnicos. JT- Mas a empresa passou recentemente por um período bastante complicado? JR – Sim. O processo de recuperação tem sido lento e difícil, mas parece cada vez mais sólido. No ano passado, os lucros cresceram 19,7%, para 285 mil euros, com o volume de negócios a recuperar 1,6%, para 14,9 milhões, uma recuperação tímida, mas que reflecte a evolução que se está a operar. JT – Onde entra o grupo alemão TWD – Textilwerke Deggendorf- como accionista maioritário? JR – As graves dificuldades financeiras tiveram início no final da década de 80 e a entrada do grupo TWD, em 1994, foi fundamental. Nessa altura a TWD, numa operação de aumento de capital, adquiriu 48% do capital, reduzindo assim o passivo. Os dois anos seguintes foram difíceis, com prejuízos de um milhão de euros que levaram a que se colocasse de novo a possibilidade de encerramento. Em 1997 procedeu-se ao fecho da secção de tecelagem e abertura da secção de ”collants”. O ano seguinte foi o primeiro, em mais de dez anos, com lucros de 30 mil euros, mas o passivo continuava superior a 18 milhões de euros. JT – E neste processo como aparece o sr Johannes Rückert,? JR – Eu sou alemão mas já trabalhava em Portugal desde 1988, como gestor e consultor, actividade que mantenho, embora a Fitor absorva cada vez mais as minhas energias. Em 1999, através de um contacto informal, fui convidado para assumir a gestão e iniciar o processo de recuperação da empresa, da qual sou actualmente presidente. A empresa tinha 370 trabalhadores, prejuízos de 140 mil euros e passivo de 16,4 milhões de euros. Já tendo em vista a concentração no core business, começamos por fechar a secção de ”collants”, que laborava há dois anos sem sucesso, essencialmente porque estava mal dimensionada. JT – Quando sentiu que a empresa começava a ter o futuro assegurado? JR – O regresso aos lucros deu-se em 2000, através de política de contenção de custos e redução de pessoal para 350 trabalhadores. A remodelação produtiva e administrativa permitiu à Fitor concentrar-se no desenvolvimento das áreas que viriam depois a proporcionar a recuperação da empresa, apostando no sector dos fios e na área comercial. Com uma autonomia financeira de 26,56%, candidata-se ao POE para investimento em equipamento de 225 mil euros. Em 2001 os lucros caem 66%, para 238 mil euros, mas a autonomia financeira cresce para 46%. JT – Mas numa empresa desta dimensão, os recursos humanos são fundamentais. JR – Claro que sim. A remodelação dos quadros directivos da empresa, nomeadamente com a entrada de um novo director de vendas e marketing e a passagem da direcção da produção para as mãos de uma portuguesa, foram decisões importantes. Mas o investimento em maquinaria também é fundamental. No departamento de tinturaria, a renovação dos equipamentos foi uma das principais apostas da nova direcção, decisão que se revelou acertada, com uma subida da percentagem de fio tingido de 50,8%, e as vendas de poliamida de cor a registarem as 877 toneladas, que representam mais 12,6%. Os investimentos têm vindo a ser uma constante nos últimos três anos. Ao todo, foi investido um milhão de euros que englobou, além do sector produtivo, a área ambiental (150 mil euros), qualidade (88 mil euros) e informatização (60 mil euros). JT – É verdade que a recuperação económica da Fitor permite-lhe ambicionar o regresso ao mercado principal do Euronext? JR – Absolutamente, e creio que é uma ambição justa e uma forma de transmitir confiança aos restantes accionistas e aos trabalhadores. Eu próprio detenho acções da empresa JT – Faça-me o ponto da situação actual da Fitor. JR – Hoje a Fitor tem uma capacidade instalada que lhe permite produzir três mil toneladas de fio tingido por ano, sendo que 42,4% são vendidos no mercado externo, incluindo a Áustria, Finlândia, Irlanda, Israel, Suécia e Reino Unido. As exportações têm vindo a aumentar de ano para ano,