No workshop dedicado à reciclagem de resíduos têxteis, Julia Blees, diretora de política da Confederação Europeia das Indústrias de Reciclagem, começou por apresentar alguns dos números relacionados com a reciclagem, citando o estudo da Fundação Ellen MacArthur, que concluiu que apenas 1% dos têxteis são transformados em produtos com valor acrescentado, que apenas 13% são reciclados para produtos de menor valor, como os que são usados em isolamento, e que 12% são reutilizados.

«Mas há 73% que vão para aterros ou acabam incinerados. É muito», considera. Um cenário que poderá mudar com a legislação europeia que obriga à recolha seletiva de têxteis em 2025. A outra boa notícia, desvendou, é o relatório da Fashion for Good que indica que 74% de 494 mil toneladas de têxteis pós-consumo de baixo valor estão já disponíveis para reciclagem em ciclo fechado. «Isso é muito promissor», reconheceu.
Helene Smits, diretora de sustentabilidade da Recover, apresentou a empresa especialista em reciclagem, que está a chegar a cada vez mais marcas e segmentos de mercado, nomeadamente os mais baixos. «Queremos ser capazes de penetrar o mercado dos básicos, que é acessível a toda a gente, porque desta forma podemos realmente ter o impacto que queremos ter», assumiu.

Atualmente, 95% da produção da Recover é feita a partir de resíduos industriais, embora tenha já alguns projetos com outros tipos de produto, como denim. No entanto, apesar de haver um enorme potencial com o vestuário pós-consumo, em termos técnicos há ainda desafios a ultrapassar. «As nossas especificações, por exemplo, exigem que haja uma seleção por composição e cor. Isso é muito importante para nós, é essencial. Também temos outras questões. Por exemplo, há alguns materiais que dão problemas a reciclar, como os que têm lurex ou materiais laminados. E depois há um problema de contaminantes: grandes estampados, botões, fechos, adornos… Têm de ser removidos primeiro. Por isso, se pensarmos nisso, é preciso selecionar os têxteis por composição, cor e remover todos estes itens», elucidou. «Esses processos não existem a grande escala, por isso têm de ser desenvolvidos para que os milhões de toneladas de têxteis existentes fiquem disponíveis para empresas de reciclagem como a nossa», acrescentou.
Etiquetar a sustentabilidade

A etiquetagem é o último passo, sustentou Mauro Scalia, diretor de negócios sustentáveis da Euratex, de uma jornada de sustentabilidade que tem de começar muito antes e que exige definição do que é um produto sustentável. Até ao momento, há diferentes definições e critérios considerados. A legislação da União Europeia, confia, «irá tentar evitar o greenwashing e ajudar-nos a definir o que é um produto sustentável». A Euratex «tem uma posição muito clara sobre isso, que vai ser publicada em breve: temos de ter uma forma harmonizada na Europa de decidir o que é um produto sustentável», afiançou Mauro Scalia durante este workshop inserido na 10.ª Convenção Europeia do Têxtil e Vestuário, esclarecendo que «pedimos melhorias, porque sabemos que é um processo técnico difícil, mas temos de trabalhar em conjunto para encontrar a solução certa».
Numa intervenção à distância, Emilie Carasso, diretora de pegada da Quantis, uma organização especialista em avaliação do ciclo de vida, deu uma lição sobre os passos a efetuar e os critérios que estão atualmente a ser tidos em conta, para classificar produtos em diferentes sectores, assim como os enquadramentos legais existentes.

A Quantis é atualmente a especialista técnica num projeto da Sustainable Apparel Coalition que agrega diferentes entidades, incluindo players do sector, como a Inditex, a H&M e a Nike, e associações como a Euratex, para criar um enquadramento em relação à avaliação do ciclo de vida de produtos de vestuário e calçado. Os primeiros resultados foram já sujeitos a consulta pública. «Estamos atualmente a testar as regras nos produtos e vamos publicar uma nova versão para ter feedback», adiantou Emilie Carasso, o que está previsto para o terceiro trimestre de 2023. A aprovação final deverá ficar concluída no segundo semestre de 2024.